Zhou Yongkang, ex-chefe da segurança na China, é condenado à prisão perpétua

15/06/2015 07:00 Atualizado: 14/06/2015 20:30

Ex-chefe geral de segurança da China foi condenado em 11 de junho à prisão perpétua por corrupção, ganhando assim um triunfo para a campanha do secretário-geral Partido Comunista, Xi Jinping, voltada a arrancar do poder rivais políticos.

Zhou Yongkang, antigo membro do todo-poderoso Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês e ex-chefe do aparato de segurança do regime chinês, é o maior alvo a cair na campanha de Xi para supostamente acabar com a longa cultura de suborno e tráfico de influência entre funcionários do Partido.

O Primeiro Tribunal de Intermediação do Povo, de Tianjin, afirmou que Zhou foi condenado depois de ser julgado a portas fechadas em 22 de maio sob a acusação de suborno, abuso de poder e por vazar segredos de Estado. Zhou não apresentou nenhum recurso, disse o Tribunal.

Enquanto as acusações seriam suficientes para uma sentença de morte, o Tribunal disse que Zhou, de 72 anos, recebeu clemência depois de confessar, mostrar arrependimento e ordenar que seus parentes devolvessem a maioria das coisas que ganharam ilicitamente dele .

A maior acusação contra Zhou, divulgar “segredos do Partido”, parece ter sido derrubada. A sentença também determinou a apreensão de todos os bens pessoais de Zhou.

Enquanto a mídia estatal do regime chinês retrata a sentença de Zhou como uma vitória na luta contra a corrupção, a queda do chefe de segurança é vista como um grande passo na campanha de Xi, atual líder do Partido Comunista Chinês, para desmantelar a facção política estabelecida pelo ex-líder do Partido, Jiang Zemin. Ainda que oficialmente no cargo de 1989 a 2002, Jiang, por meio de sua camarilha (incluindo Zhou) detinha, atrás dos bastidores, grande poder político e econômico sobre o Partido e a nação, mesmo que mais de uma década depois de ele ter se aposentado de seu posto de líder do Partido.

Agora, os pregos finais estão sendo colocados no caixão

Zhou Yongkang é o ex-político de mais alto escalão a enfrentar o tribunal desde o julgamento em 1981 da esposa de Mao Zedong por tentativa de traição política e de outros membros da “Gangue dos Quatro” que perseguiram opositores políticos durante a revolução cultural 1966-1976.

Zhou esteve sob investigação desde o final de 2013, mas incomunicável. A investigação também recaiu sobre ex-aliados de Zhou no governo e na indústria do petróleo.

Zhou passou a primeira parte de sua carreira na indústria do petróleo, elevando-se de cargo ao longo de várias décadas para se tornar em 1996 o presidente da China National Petroleum Corp., uma das maiores empresas de energia do mundo.

Uma série de figuras importantes da indústria petrolífera chinesa foram presas durante a campanha anti-corrupção de Xi Jianping.

Influência e queda de Zhou

De acordo com o Tribunal, Zhou Yongkang recebeu, direta e indiretamente, um total de 130 milhões de yuans (US$ 21 milhões) em subornos e usou sua influência para permitir que outros recebessem indevidamente 2,1 bilhões (US$ 343 milhões).

As ações de Zhou “causaram enormes danos para as finanças públicas e os interesses da nação e do povo”, disse o Tribunal em sua explicação sobre o veredito.

Zhou, antes visto como intocável e com uma vasta rede de clientelismo na província de Sichuan, exercia grande influência sobre estatais do setor de petróleo bem como a segurança pública e os tribunais. Como aliado-chave e protegido do ex-líder do Partido Jiang Zemin, Zhou ajudou Jiang a manter sua enorme influência em assuntos do Partido mesmo durante anos depois de Jiang se aposentar oficialmente em 2002.

A partir de 2007, Zhou tornou-se diretor do poderoso Comitê de Assuntos Políticos e Legislativos, posição que herdou de Luo Gan, outro aliado de longa data de Jiang.

Um fator decisivo para a utilidade de Zhou à camarilha política de Jiang resultou da sua ânsia de implementar a perseguição à disciplina espiritual Falun Gong, cuja perseguição foi ordenada pessoalmente por Jiang em 1999 e que ele continuou a dirigir atrás dos bastidores mesmo depois de ter deixado o cargo.

Jiang e sua camarilha conseguiram manter controle considerável sobre a China, mesmo no período em que Hu Jintao era líder do Partido (2002-2012). Porém, em 2012, as coisas começaram a mudar.

O evento catalisador dessa mudança ocorreu em fevereiro de 2012, quando o chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun, tentou desertar para o consulado dos EUA em Chengdu numa tentativa de pedir asilo político. O chefe de Wang era Bo Xilai, um alto membro do Politburo, um grande aliado e protegido de Zhou Yongkang e de Jiang Zemin.

Wang supostamente divulgou às autoridades americanas muitos segredos prejudiciais a Zhou Yongkang e Jiang Zemin, inclusive informações sobre um plano de golpe político por parte de Zhou e Bo para remover o líder do Partido, Xi Jinping, do poder.

A conspiração nunca foi oficialmente mencionada, mas Bo Xilai foi removido de sua posição e, finalmente, condenado por corrupção, peculato e abuso de poder em setembro de 2013, pouco depois do fato.

Zhou levou mais tempo para ser derrubado, mas rumores de uma investigação contra ele começaram logo depois da tentativa de deserção de Wang. Zhou não foi oficialmente colocado sob investigação até julho de 2014.

Mesmo assim, nenhuma menção do golpe veio à tona. A primeira vez que isso foi sugerido publicamente foi em março deste ano, quando notícias começaram a aparecer nos meios de comunicação controlados pelo Estado, em particular um artigo escrito pelo presidente do Supremo Tribunal do Partido Comunista Chinês, Zhou Qiang, alegando que Zhou, Bo e outros estavam “engajados em atividades políticas desestabilizadoras”.

Em março de 2015, o mais alto funcionário ligado a transplantes de órgãos na China, Huang Jiefu, culpou Zhou por usar prisioneiros de Estado como um banco de órgãos vivo, uma prática que resultou em ganhos de bilhões de dólares na China e que é muito criticada pela comunidade internacional como um violação ética. Várias investigações independentes indicaram que praticantes de Falun Gong têm sido as principais vítimas dessa colheita de órgãos, um verdadeiro estoque vivo de órgãos disponíveis para transplantes.