A mídia ocidental na semana passada informou que a ruptura nas relações entre Bo Xilai e Wang Lijun foi devido à morte do empresário inglês Neil Heywood. No entanto, é muito mais provável que o caso Heywood tenha justificado a desculpa para investigar Bo, e não que ele foi a principal causa da rixa entre Bo e Wang. Vamos olhar para isso.
Em primeiro lugar, a campanha “esmagar o negro” em Chongqing foi de fato uma repressão ilegal. Muitos casos mal julgados foram extraviados sob a direção de Bo. Por que é que Wang selecionou o caso da morte de Heywood e ignorou muitos outros casos indevidamente tratados, especialmente quando a família Heywood, aparentemente, não levou o caso adiante?
Em segundo lugar, Wang serviu Bo lealmente, executando ilegalmente sabe-se lá quantas pessoas. Depois que o advogado de Li Zhuang foi ilegalmente condenado à prisão, Fang Hong, um oficial do escritório florestal em Chongqing, postou uma piada escatológica em seu microblogue criticando o julgamento. A punição foi um ano de reeducação através do trabalho forçado.
Esta foi a decisão da Secretaria de Segurança Pública, que é chefiada por Wang. É o tipo de pessoa que envia um burocrata humilde ao trabalho árduo de um ano por um insulto trivial, o tipo de pessoa que diria a seu chefe, Bo Xilai, que a mulher de Bo poderia ter matado alguém? Se Bo enviou alguém para trabalho forçado por chamá-lo de “um bosta”, imagine qual seria o destino de Wang por uma infração muito mais grave?
Em terceiro lugar, uma notícia da Reuters, identificada como “exclusiva”, relatou, “Numa reunião tensa em ou ao redor de 18 de janeiro, Wang confrontou Bo com evidências implicando Gu na morte de Heywood”. O momento parece estranho. Se Heywood morreu no dia 14 ou 15 de novembro de 2011, por que Wang se envolveria num confronto com Bo tão tarde quanto 18 de janeiro?
Em quarto lugar, houve um erro óbvio no artigo da Reuters. Ele dizia, “Três dias depois, Bo removeu Wang como chefe da segurança pública.” Se a referência a um confronto de 18 de janeiro for precisa, então, isto teria ocorrido em 21 de janeiro. Mas Wang foi removido de seu posto em 2 de fevereiro.
Em quinto lugar, as conexões políticas de Wang não são tão profundas como as de Bo. Sua carreira dependia quase que exclusivamente do último. Com Bo visando entrar no Comitê Permanente, o futuro de Wang parecia promissor. O que ele teria a ganhar desafiando Bo?
Em sexto lugar, há alguém que irá ou poderia ter testemunhado sobre a morte de Heywood? Por que Bo não poderia simplesmente ignorar Wang, se este último realmente tentou fazer barulho? Por que, ao contrário, ele ficaria tão irritado e o demitiria?
Permitam-me propor um cenário realista. Hu Jintao está tentando bloquear o caminho de Bo no Comitê Permanente, então, ele começa a investigar Wang. Isso é semelhante a quando Mao queria se livrar de Lin Biao, ele teve de começar com as pessoas de Lin, como Huang Yongsheng e Wu Faxian, etc. Em 18 de janeiro, Wang descobre que ele está em apuros. Ele precisa da proteção de Bo, então, ele pede ajuda, mas Bo está disposto a abandonar Wang. No entanto, Wang realmente guardou a evidência do caso da morte de Heywood, tais como amostras de sangue e cabelo, e a usou para chantagear Bo: se você não me proteger, eu vou expô-lo.
O assassinato de dois não é suficiente para derrubar alguém como Bo Xilai, que estava aparentemente prestes a entrar no Comitê Permanente. Talvez Heywood estivesse envolvido na conspiração de Bo e Zhou Yongkang, e é por isso que Bo ficou tão furioso com Wang e o despediu. Wang sabia que Bo é cruel, e sabia de muitas das negociações por baixo dos panos de Bo e sua família. Uma vez que eles se separassem, a vida de Wang estaria em perigo. Então, ele correu para o consulado dos EUA, iniciando a famosa novela política que chocou o mundo.
A política do Partido Comunista da China é muito sombria. Um pequeno caso pode ter enormes fatores ocultos por trás dele, fazendo as coisas muito difíceis para os estrangeiros, ou para aqueles com uma lente ocidental, entenderem. Os relatórios até agora sobre o caso Heywood levantaram muitas dúvidas. Talvez os jornalistas devam, pois eles estão recebendo informações privilegiadas, perguntar a seus interlocutores anônimos, e pensar para si mesmo: Por quê?