Quem nunca ouviu falar em Cancun e sua fascinante Riviera Maia? Um sonho de férias onde as praias de areias brancas contrastam com as águas verdes, cor de esmeralda, do mar do Caribe.
Claro, a península de Yucatán tem muito mais a oferecer quando se fala em sedução: uma miscigenação de caminhos que vão desde a cultura maia, herança colonial até o turismo em seus balneários; a infinidade de atrações satisfazem as pessoas mais exigentes. União perfeita e única entre o presente e o passado.Quando o vento sopra, a terra exala um perfume insólito de laranja e especiarias. Claro, sobre a costa caribenha não é somente uma sequência de palmeiras que se estendem sobre o Golfo do México, pomares de mangas e, no coração de suas terras, uma espessa vegetação.
Na verdade, a península de Yucatán é um imenso planalto calcário e poroso no qual não se atravessa nenhuma corrente de água.
É necessário descer às entranhas da terra, onde se encontra o reino do submundo venerado pelos maias para descobrirmos uma densa rede de rios subterrâneos que correm por várias galerias onde, por fim, desembocam no mar do Caribe e no Golfo do México.
Cada metro quadrado de terras cultiváveis representa uma verdadeira vitória sobre a natureza e é necessário se aventurar em direção ao interior, onde os vários povoados residem, para descobrirmos muitos acres de terra com plantações de várias espécies de árvores cítricas.
Cerca de 2.000 locais maias, templos e santuários esquecidos ainda dormem no coração da selva virgem.
Tesouros escondidos
Os antigos maias descobriram esta riqueza subterrânea onde as cavidades rochosas se fundem formando muitos poços naturais chamados cenotes, que dão acesso a um rio subterrâneo vinte metros abaixo. Sem essas águas preciosas, as cidades não poderiam sobreviver e, não é de se estranhar que os maias tenham feito de um desses cenotes, em Chichón Itzá, um poço para sacrifício que cumpria com a sua cota de oferendas e de vidas humanas para satisfazer os deuses e trazer a chuva.
Hoje em dia, algumas lagoas cor de opala, abertas ao céu são um delicioso convite ao banho e ao mergulho. Deparamo-nos com outros cenotes em excursão subterrânea quando já estávamos com os pés dentro da água. É o caso do Rio Secreto que fica não muito longe de Tulum, esta é uma incrível expedição que leva os mais curiosos ao mundo silencioso e grandioso de um rio azulado onde estalactites e estalagmites brilham como se fossem órgãos musicais de uma catedral sob a terra.
A mata densa existente por toda parte na península esconde estradas que eram utilizadas no passado. Em outros tempos toda a planície era coberta por campos verdes e azuis devido ao cânhamo, uma árvore nativa da região. Os antigos maias utilizavam a fibra de cânhamo para tecer cordas, sandálias e redes. Os espanhóis viram rapidamente a importância dessa planta justamente em uma época em que o tráfego marítimo exigia cordas resistentes.
O cultivo intenso dessa planta foi o começo da fortuna de várias famílias espanholas. Com a reforma agrícola na década doa anos 30 e com o auge crescente das fibras sintéticas, a indústria do cânhamo caiu rapidamente e as fazendas foram abandonadas deixando a natureza retomar o seu lugar, afogando assim os últimos vestígios do ouro verde sob a espessa floresta.
Afortunadamente, no final de século passado, alguns redescobriram este patrimônio e algumas fazendas renasceram das cinzas e foram restauradas como hotéis de luxo e as mais simples, como verdadeiros museus vivos. Temos assim, a oportunidade de descobrir como era a vida nesses imensos espaços fechados onde se localizavam as casas dos senhores, as modestas casas de campo feitas de madeira e cobertas com palha, os obreiros que viviam nas fazendas em condições próximas à escravidão, e os antigos edifícios convertidos em salas de máquinas dentro dos quais atravessava-se uma pequena via férrea utilizada para transportar a fibra em pequenos vagões puxados por cavalos.
Os misteriosos maias já não possuem as riquezas do patrimônio cultural da península enterradas sob os túmulos invadidos pela floresta. Tulum, erguida sobre um planalto rochoso próximo ao mar azul turquesa do Caribe, irradia luz como se fosse um farol mineral apontando para o leste. Este antigo porto comercial também foi um lugar sagrado onde celebravam cerimônias como são demonstradas nas numerosas imagens esculpidas do “deus descendo”, representado com a cabeça olhando para baixo e as mãos juntas como se tivesse pronto para mergulhar nas águas próximas.
Jóias de pedras amarelas, Uxmal é o mais belo símbolo do estilo Puuc, termo maia dado a um lugar de suaves colinas ao sul de Mérida, mas também é o estilo da arquitetura típica dos locais da região: mosaicos feitos de pedra onde serpentes de duas cabeças, araras de penas longas, flores e máscaras de Chaac, o deus da chuva, se unem em um abraço. Mais ao oeste, ao sul do porto de Campeche, na cidadela de Edzná, esquecida pela maioria dos turistas, localiza-se um edifício espetacular com mais de trinta metros, o Templo dos Cinco Andares.
A silhueta da pirâmide da serpente com penas em Chichén Itzá é, sem dúvida, tão famosa como a torre Eiffel em Paris ou a estátua da liberdade em Nova York. Com seus 55 metros de largura e 30 metros de altura é a estrutura mais elevada existente hoje em dia, porém a entrada na pirâmide está fechada ao público. Explorando o lugar, ainda podemos nos deparar com outras maravilhas. Há esculturas fantásticas que explicam as regras do jogo de bola que existia ali.
Ao final de cada jogo, o capitão da equipe perdedora era decapitado. Parece que os mais participavam com gosto nestes jogos. É suficiente dar uma olhada na parede de crâneos, esculpida com desenhos de centenas de cabeças fazendo caretas exibindo assim, as vítimas daqueles sacrifícios oferecidos ao deus da chuva, Chaac, representado aqui pela célebre estátua de um homem deitado de costas, sustentando sobre seu ventre uma bandeja para receber as oferendas dos corações arrancados das vítimas sacrificadas.
Mayapán, a última grande capital da civilização Maia, foi construída sobre o modelo de Chichén Itzá, porém em menor proporção. Subir até o topo do castelo de Kukulkán na hora do pôr do sol é passar por uma experiência inesquecível. As cidades coloniais são vitrines do México eterno.
Para entender melhor as cidades mexicanas, basta se deixar levar pela multidão que nos arrasta inevitavelmente ao som do sino, dominado pelas imponentes torres das catedrais.
Na hora em que a noite levanta sua cortina sobre um céu estrelado, a velha cidade se ilumina. As arcadas são decoradas com grinaldas luminosas. Mérida, Campeche, Valladolid, Izamal, quatro cidades coloniais onde se respira a doçura de viver e onde cada um se deixa levar pela magia do ambiente dessas cidades que permaneceram deliciosamente provincianas.
Valladolid, a menor de todas, é a primeira cidade que a pessoa se depara quando se distancia da costa caribenha. Um passeio por sua praça rodeada de bancos chamados de “cadeiras de confiança” e rodeada por casas térreas com janelas feitas em ferro fundido oferece o encanto indizível de se estar no México, exatamente ali onde estão os mexicanos. Não longe dali, Izamal surpreende pela harmonia. Toda a cidade é pintada de amarelo e branco, as cores do milho, as quais são a base da cultura maia.
Campeche é um sonho de cidade colonial, com seu centro fortificado, rodeado por quatro portas que evocam a lembrança de como uma vez teve que resistir aos ataques de piratas que ambicionavam as riquezas do porto da maior e mais dinâmica cidade, Mérida, também denominada de “a cidade branca”, localizada no ponto ideal para aqueles que quiserem rodear a península, passando pelos complexos turísticos mais discretos da costa. No século passado, na época do desenvolvimento do comércio do sisal, presume-se que Mérida acolhia o maior número de milionários.
Queria chamá-la de “a Paris do Oeste”. É verdade que os navios que partiam carregados de sisal transportavam em seus armazéns as riquezas do outro lado do Atlântico. Enfim, só nos resta saborear o México de forma relaxada imerso no azul mar do Caribe cujo balanço se apaga em um suspiro sobre uma bela praia acariciada pela brisa que balança os ramos dos esbeltos coqueiros.