Yahoo deixa a China: faz parte da estratégia da empresa

24/03/2015 05:40 Atualizado: 24/03/2015 08:43

O movimento do Yahoo de sair da China, em si mesmo, não soa como um grande coisa. No entanto, isso mostra que a empresa está determinada a seguir sua atual estratégia de negócio. Também, põe em foco alguns dos problemas que empresas ocidentais têm na China.

De acordo com o Wall Street Journal, o Yahoo está fechando o seu centro de pesquisas em Pequim e irá demitir cerca de 300 empregados. Com isso, o Yahoo encerra sua aventura na China que, por um lado, foi amplamente bem-sucedida e, por outro lado, um fracasso.

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Sim, o Yahoo provou ser um astuto investidor ao comprar 40% do grupo Alibaba por US$ 1 bilhão em 2005 e realizar enormes lucros inesperados com isso. A participação de 15% que a Yahoo ainda detém do grupo Alibaba está avaliada em US$ 32 bilhões. Por outro lado, esse negócio de 2005 fez o Yahoo passar todas as suas operações na China para o grupo Alibaba.

Com isso, as operações do Yahoo na China deixaram de ter significado e o movimento da empresa de fechar o seu escritório na China faz bastante sentido por diversas razões.

Redução de Custos

Primeiro, porque se encaixa na estratégia do Yahoo de se concentrar no que é essencial em termos de negócio e de cortar custos.

O diretor financeiro do Yahoo, Ken Goldman, disse a seus investidores, numa conferência em março, que a empresa está focada em reduzir custos: A empresa está “trabalhando muito duro internamente [para fazer crescer] as receitas bem como conter despesas”, disse ele.

Então, fechar um escritório caro e praticamente inútil na China, e demitir cerca de 300 pessoas, permitirá que o Yahoo economize dezenas de milhões ao ano. Ao deixar a China, o Yahoo também evita se meter em confusão com o regime chinês.

Para os empregados do Yahoo ao redor do mundo, isso não é novidade. A empresa vem demitindo pessoas – na casa de centenas de pessoas no momento – a cada semana desde fevereiro, mais fortemente na Índia e no Canadá.

Coerente com sua estratégia de focar em sua competência essencial e reduzir custos,  o Yahoo vai, até o final do ano, converter os 15% que ainda detém do grupo Alibaba em uma empresa separada para assim evitar o pagamento de impostos.

Daqui em frente, o Yahoo vai se concentrar em seus serviços de internet para recuperar o terreno perdido para o Google.

Problemas com os chineses

Com o encerramento de suas operações na China, o Yahoo também evita se meter em problemas com o regime chinês, que recentemente lançou novos e rigorosos regulamentos que entraram em vigor em março e que exigem que empresas estrangeiras de tecnologia abram seus códigos-fonte e permitam backdoors (malwares que permite acesso remoto ao usuário) em seus produtos e serviços na China.

Depois de fazer um acordo judicial com dois jornalistas que, em 2007, processaram a empresa por entregar informações pessoais ao regime chinês (os jornalistas foram condenado a 10 anos de prisão na China), Yahoo simplesmente não quer mais correr esse risco.

O Yahoo não está sozinho nisso

Em fevereiro, a Zynga, empresa desenvolvedora de jogos, anunciou o fechamento de seu escritório em Pequim e a Microsoft está transferindo a fabricação de seus smartphones para o Vietnã.

Por causa de regulamentos duvidosos, falta de conhecimento do mercado e um monopólio que protege empresa chinesas como Sina Weibo e Baidu, a maioria das grandes empresas ocidentais de tecnologia ainda não conseguiram ter sucesso China, embora Facebook e Twitter sejam muito populares entre os chineses que conseguem furar e passar através do bloqueio do firewall do regime chinês.

Google, por exemplo, saiu da China em 2010 depois que o regime forçou a empresa a exercer censura em seu ”site de busca” e lançou inúmeros ciberataques contra a empresa.

Outras empresas ocidentais de tecnologia estão cada vez mais enredadas na guerra entre facções do Partido Comunista Chinês, ou seja, entre o líder atual, Xi Jinping, e o ex-presidente Jiang Zemin.

Microsoft é um bom exemplo. No verão de 2014, agentes da Agência Anti-monopólio da China invadiram escritórios da Microsoft na China como parte de uma investigação contra “comportamentos monopolistas”. Ao final de 2014, a empresa também pagou uma multa de US$ 140 milhões por evasão fiscal.

Desde que chegou ao poder em 2012, Xi Jinping lançou uma campanha para conter a corrupção, mas, no fundo, dirigida especificamente a eliminar aliados do ex-chefe do Partido Comunista Chinês, Jiang Zemin, dentro e fora da China.

Jiang Zemin, cujo filho Jiang Mianheng detém 50% da Microsoft na China, reuniu-se com Bill Gates várias vezes. Apesar do fato de que 90% das cópias do Windows na China serem pirateadas, a Microsoft detém uma posição âncora no mercado chinês.

No entanto, esse apoio vem ao preço de cortejar Jiang Zemin, um movimento, que se revela cada vez mais caro, já que Xi Jinping aperta cada vez mais o cerco contra aliados de Jiang.