Xi Jinping e Barack Obama trocam impressões sobre Hong Kong

13/11/2014 15:49 Atualizado: 27/11/2014 15:51

O líder chinês Xi Jinping tem estado relativamente silencioso nas últimas semanas sobre os estudantes e ativistas pró-democracia que inundaram as ruas em Hong Kong pedindo eleições livres e abertas.

Ele mudou sua atitude na quarta-feira dia 12 de novembro quando afirmou que o movimento de ocupação em Hong Kong era um “incidente ilegal”.

“Nós resolutamente apoiamos o governo da Região Administrativa Especial para lidar com o assunto de acordo com a lei, proteger a estabilidade social de Hong Kong e salvaguardar a segurança dos cidadãos de Hong Kong e seus bens”, disse ele numa conferência de imprensa conjunta com o presidente Barack Obama, realizada após as reuniões da APEC em Pequim, em 12 de novembro.

“Durante nosso encontro, eu expressei ao presidente Obama que o movimento ‘Ocupar’ de Hong Kong é um incidente ilegal”, disse Xi.

Barack Obama também teve a oportunidade de falar sobre Hong Kong durante a conferência de imprensa e observou: “Eu fui categórico em dizer ao presidente Xi Jinping que os Estados Unidos não tiveram qualquer participação no incentivo aos protestos que lá ocorreram.”

Obama acrescentou que “essas questões, em última análise, devem ser resolvidas pelo povo de Hong Kong e pelo povo da China”.

No entanto, Obama disse que os Estados Unidos continuarão a defender o direito das pessoas de se expressarem e que esperava que as eleições de Hong Kong fossem “transparentes e justas e que refletissem a opinião do povo local”.

Tanto em Hong Kong, como na imprensa veiculada nos últimos dias, houve muita especulação sobre a possibilidade de que a polícia iniciasse a retirada dos manifestantes de algumas ou talvez de todas as vias que foram ocupadas. Aí se incluem grandes artérias que passam perto da sede do governo e especialmente na Avenida Nathan, a principal rua que atravessa Mong Kok, uma movimentada área comercial.

As observações de Xi Jinping não foram consideradas nem como conciliadoras nem como uma manifestação da linha-dura, indicando, novamente, que o governo central não estaria caminhando no sentido de se responsabilizar diretamente pelos assuntos de Hong Kong e violentamente acabar com o movimento de protesto.

Xi Jinping também disse que os interesses comerciais de chineses, de empresas internacionais e de particulares em Hong Kong devem ser protegidos. Afirmou ainda que a lei, a ordem e a segurança pública devem ser mantidas em Hong Kong. A referência à segurança pública pode ser um indicativo de que é improvável uma repressão violenta.

A ocupação, que se chama Movimento Guarda-Chuva (ou “Revolução Guarda-Chuva” segundo alguns ativistas), foi comparada com os protestos estudantis da Praça da Paz Celestial ocorridos em 1989. O atual movimento é visto em alguns setores como o desafio mais sério e aberto à legitimidade do Partido Comunista, após os protestos da Praça da Paz Celestial.

A propaganda do Partido Comunista Chinês (PCC) frequentemente enfatiza a forma como o regime chinês – que não é legitimado por eleições diretas – governa a China legitimamente porque o PCC é a única organização adequada para fazê-lo. Os líderes do PCC são, portanto, extremamente sensíveis às críticas, especialmente quando provenientes de governos estrangeiros, sobre como o PCC trata as questões de abusos contra o povo chinês e sobre a supressão de direitos, como a liberdade de expressão, tão apreciada em outros lugares.

“Os assuntos de Hong Kong são inteiramente da alçada da política interna da China”, disse Xi Jinping. “Países estrangeiros não devem interferir de modo algum.”

A decisão emanada pelo Supremo Tribunal de Hong Kong, em 10 de novembro, dois dias antes da coletiva de imprensa de Obama e Xi Jinping, provocou discussões em Hong Kong sobre a relevância do estado de direito se aplicado sobre a conduta dos manifestantes pró-democracia.

O tribunal reafirmou pedidos anteriores para que os policiais fossem autorizados a remover os manifestantes pró-democracia de seus acampamentos nas ruas da cidade.

Numa conferência de imprensa, ocorrida em 11 de novembro em resposta à decisão do tribunal, Alan Leong Kah-kit, membro do Conselho Legislativo de Hong Kong, líder do Partido Cívico e advogado experiente, afirmou: “O estado de direito é a utilização de lei para agir com justiça e afeito à misericórdia. É claro que, se o tribunal já emitiu uma ordem, a ordem deve ser respeitada, e as pessoas que são alvo [da ordem] devem obedecer à ordem. Mas, quero ressaltar mais uma vez: Se o estado de direito é simplesmente o governo fazendo a lei e os cidadãos se conformarem com a lei, a lei se tornará uma ferramenta de dominação.”

Albert Ho Chun-yan, membro do Conselho Legislativo de Hong Kong e advogado, disse na conferência de imprensa: “O governo tem a maior responsabilidade em minar o estado de direito, porque o governo não tem vontade e tampouco autoridade [legítima] para a aplicação da lei. A razão subjacente é clara: todo o sistema de governança faz as pessoas sentirem que isso não pode continuar.”