Quando os executivos da Paramount Pictures decidiram modificar o apocalíptico filme de zumbi, World War Z, para apagar uma referência à China como a origem do vírus zumbi, eles esperavam que os censores chineses aprovassem o filme para exibição no país, o segundo maior mercado cinematográfico do mundo.
No entanto, o filme – com previsão de lançamento no dia 28 de junho no Brasil – foi rejeitado pelas autoridades de censura da China, de acordo com o blog de entretenimento TheWrap.com, segundo uma fonte “familiar com os próximos lançamentos agendados na China”. Um executivo da Paramount negou a notícia, respondendo ao blog que o estúdio ainda não havia recebido nenhuma resposta.
De acordo com o TheWrap.com, a cena a ser cortada mostrava os personagens debatendo sobre o local onde o surto do vírus zumbi havia começado, que no livro é na China. Os executivos da Paramount apagaram a cena preventivamente para garantir que o filme conseguisse ser comercializado nos cinemas chineses. Atualmente, o regime chinês tem uma quota que limita a exibição de 34 filmes estrangeiros no país.
Enquanto a cena no filme é considerada um ponto menor da trama no livro, a China e seu comércio de órgãos no mercado negro desempenham um papel fundamental no romance que inspirou o filme.
Escrito por Max Brooks e publicado em 2006 sob o mesmo título, World War Z começa na China com o primeiro possível paciente infectado com o vírus zumbi sendo um menino de uma remota aldeia. O vírus então se espalha para as outras partes do mundo através do comércio de órgãos no mercado negro, onde órgãos infectados extraídos de prisioneiros políticos executados são vendidos para as pessoas que necessitam de transplantes. Aqueles com os órgãos transplantados depois de morrer, voltam à vida como zumbis.
“Anos antes da eclosão eles estavam ganhando milhões com os órgãos de prisioneiros políticos executados. Você acha que algo como um pequeno vírus poderia fazê-los parar de chupar na mama de ouro?”, trecho retirado do romance de um dos personagens de Brooks.
O romance também descreve a forma como o comércio ilegal funcionava: “Você remove o coração logo depois que a vítima morreu… talvez até mesmo enquanto ela ainda esteja viva… eles costumavam fazer isso, você sabe, remover órgãos de pessoas ainda vivas para garantir a sua frescura… embalavam no gelo e colocavam direto em um avião para o Rio… a China costumava ser o maior exportador de órgãos humanos no mercado mundial. “
Não está claro se o tópico sobre a colheita de órgãos estava presente nos primeiros rascunhos do script e foi cortado do filme para agradar os censores chineses. É certo que esse ponto não aparecerá no corte final, uma vez que os direitos do filme foram vendidos para a Paramount Pictures em 2006, e sabe-se que o roteiro passou por revisões significativas, incluindo uma mudança de roteirista.
A Paramount não respondeu às perguntas do Epoch Times sobre essas mudanças.
O romance original é baseado em um relato oral, escrito a partir da perspectiva de pessoas que sobreviveram à guerra zumbi, já o filme segue um ex-funcionário da ONU, interpretado pelo ator Brad Pitt, que tenta encontrar uma maneira de impedir que o vírus zumbi continue espalhando-se.
Salvo o surto de zumbis e o procedimento de colocar órgãos no gelo e exportá-los para outros países, o romance de Brooks fornece uma descrição ampla e precisa das atuais práticas de colheita de órgãos do regime chinês a partir de prisioneiros de consciência. Desde 2006, quando os advogados canadenses David Kilgour e David Matas publicaram um relatório revelando a colheita sistemática de órgãos de praticantes de Falun Gong detidos nas prisões da China, evidências orais emergiram sobre diversos prisioneiros chineses sendo mortos por seus órgãos, os quais são vendidos – por lucro – para aqueles que necessitam de transplante. Suspeita-se que a maioria dos órgãos sejam dos adeptos do Falun Gong, uma prática espiritual que foi proibida e é severamente perseguida pelo regime chinês desde 1999. Um aumento exponencial no número de transplantes de órgãos na China desde 2000 tem levado especialistas a estimar que dezenas de milhares de órgãos de praticantes do Falun Gong foram colhidos.
O próprio Brooks disse, em uma sabatina online, que ele fez uma extensa pesquisa para garantir que tudo no livro, excluindo os zumbis, “ou foi adaptado da realidade ou é 100% real”.