O pintor realista francês William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) era conhecido em seu tempo como um mestre de lendárias realizações artísticas. No entanto, com a ascensão do movimento modernista, suas realizações foram denegridas e denunciadas, e seu nome foi banido da história da arte. Apenas nas últimas décadas, após o colapso do movimento modernista, Bouguereau reapareceu no campo de nossa consciência histórica, mesmo que apenas nas margens. Com as suposições modernistas tendo virado coisa do passado, Bouguereau ganhou mais reconhecimento hoje e, muito provavelmente, ainda possamos aprender algumas coisas desse artista lendário.
Quando olhamos pela primeira vez uma obra de Bouguereau, nota-se imediatamente um realismo impressionante, descrito por alguns como foto-realística (as fotografias com certeza tiveram influência sobre os artistas daquela época); também se nota uma técnica perfeita, uma vida de obsessiva preocupação com a perfeição dos mínimos detalhes, sem consideração por deixar qualquer marca visível da mão do artista. Em seus trabalhos, também se pode notar um mundo idealizado cheio de juventude, sentimentalismo (as vezes sensual), bondade, divindade e beleza. Olhando uma pintura de Bouguereau, pode-se notar todas as razões do porque seu trabalho foi uma vez banido da história da arte, e ainda assim notar suas intermináveis qualidades.
Talvez, através de seus trabalhos, uma pessoa possa compreender como uma vida dedicada à arte pode ser completamente pisoteada e destruída, e depois retornar à vida. Possivelmente há alguma importância em seu trabalho para ser descoberta.
A carreira de Bouguereau foi um constante sucesso em termos de conquista social, financeira e artística; ainda, ao mesmo tempo que em sua vida suportou uma série de contínuas tragédias que tiveram seu efeito sobre a saúde e espírito do artista, levando à sua eventual morte. Provavelmente seja verdade o que alguns dizem: “Sem perda não há ganho”.
Em 30 de novembro de 1825, nasceu o filho de Theodore Bouguereau, chamado William, um vendedor de óleo de oliva e vinho, sem sucesso, que morava em La Rochelle, na França. Devido a problemas de negócios, as relações entre os integrantes da família de Bouguereau eram tensas, e Bouguereau foi finamente enviado para morar com seu tio Eugene em Mortagne. Tal mudança acabou por ser uma benção para o jovem William, já que seu tio, ao contrário de seu pai, o incentivou a abraçar a cultura e a arte. Bouguereau teve suas primeiras aulas de arte durante sua estadia em Mortagne.
Após se mudar para Bordeaux, para ajudar nos negócios de família, Bouguereau finalmente convenceu seu pai a deixa-lo frequentar a escola de Belas Artes em Paris, após ter ganhado o primeiro premio numa competição de pintura local. Com a ajuda de seu tio, William obteve uma comissão que iria ajudar a pagar seus estudos.
Bouguereau começou seus estudos em 1846, trabalhando no estúdio de François Picot, e era frequentemente classificado como o melhor de sua turma. Em sua terceira tentativa, o artista finalmente ganhou o prestigioso Premio de Roma por sua pintura intitulada, “Zenóbia encontrada pelos pastores nas margens do Araxes”. Ele foi premiado com um ano de estudos pagos em Villa Médici, localizada no centro da cultura e arte clássica: Roma. Foi na Itália que Bouguereau leu as obras de Michelangelo, Leonardo, Ticiano, Raphael, entre outros. Acima de todos os outros, Bouguereau considerava Raphael como o classicista ideal na arte da pintura. Bouguereau produziu uma excelente cópia da obra da obra de Raphael “O Triunfo de Galatea”, que foi uma das quais ele foi designado a levar à academia de Paris.
Bouguereau de tornou mais bem conhecido quando se estabeleceu em Paris, em 1854. Em 1856, se casou com Marie-Nelly Monchablon, e no ano seguinte sua primeira filha (a primeira de cinco filhos) Henriette, nasceu. No mesmo ano, Bouguereau ganhou uma medalha de Honra por sua pintura, O retorno de Tobias, exibido num Salão em 1857. Os Salões eram exposições de obras culturais e muitas vezes atraiam mais de 300 mil visitantes, o que foi fundamental para acelerar a fama de Bouguereau por toda Paris, lhe garantiu constantes comissões e uma renda decente. George, seu primeiro filho nasceu em 1859, e em 1861, sua segunda filha Jeanne nasceu no dia do Natal.
A vida pessoal de Bouguereau continuou a prosperar durante os próximos anos, no entanto, a tragédia veio à tona no ano de 1866, quando sua filha mais nova Jeanne faleceu. Os anos seguintes foram ainda mais dolorosos, mas sua carreira continuou a florescer. Durante o período da guerra Franco-Prussiana (após o nascimento do seu segundo filho, Paul) quando o artista se juntou temporariamente à guarda nacional, e enquanto esperava a Comuna de Paris em La Rochelle, continuou a pintar, e obras de artes foram produzidas uma após a outra. No entanto seu filho George faleceu de uma doença em 1875, e em 1877, a esposa do artista também faleceu após dar a luz ao seu terceiro filho Maurice, que também faleceu com 7 meses de idade. Seu luto inspirou obras religiosas como ‘A Pietá’. Durante esse tempo o artista foi nomeado com o mais alto cargo na Academia de Belas Artes.
Em 1879, William se casou novamente, desta vez com uma de suas alunas, Elizabeth Gardner, que era 12 anos mais nova. Até então ele havia produzido diversas obras de artes como: ‘Nymphs e Satyr’, ‘Charity’, e ‘Homer and his Guide’. Sua filha Henriette também se casou em torno dessa época, para grande contentamento do artista. No entanto, seu filho restante, Paul, que agora era advogado, adoeceu e faleceu em 1900. Este foi o golpe mais doloroso para a alma do artista, e sua saúde começou a se deteriorar rapidamente. William Bouguereau faleceu em sua cidade natal, La Rochelle, em 1905.
Embora Bouguereau tenha sido considerado um dos maiores pintores clássicos da historia, e até comparado por alguns à Raphael, havia outros que criticavam-no. Em particular os impressionistas que tentaram derrubar as escolas tradicionais de pintura. Por fim, eles conseguiram. Isso trouxe o movimento modernista, e alterou drasticamente os assuntos sobre arte, e historia da arte. Desta perspectiva o trabalho de Bouguereau foi considerado regressivo. Princípios e práticas tradicionais foram considerados como grilhões que impediam a expressão da arte. Pensou-se que a perfeição de Bouguereau ocultava a real arte. A técnica do artista e o idealismo clássico de sua arte foram considerados, por alguns, como um retrocesso sem sentido. Mas sua arte era tão inútil como alguns disseram? Embora acusado de ‘sentimental’ e, às vezes, até piegas, seu trabalho também era conhecido como cheio de beleza, devoção e bondade. Quem sabe, essas qualidades, mereçam ser revividas novamente.