Wen Jiabao coloca a reforma na China no centro do palco

15/04/2012 03:00 Atualizado: 15/04/2012 03:00

Wen Jiabao pede reformas, incluindo a retratação ao Falun Gong e aos ativistas da democracia de 1989. (Lintao Zhang/Getty Images)Solicitando retratação ao Falun Gong e aos ativistas da democracia de 1989

Análise de notícias

O Primeiro-Ministro Wen Jiabao é muitas vezes chamado de “o melhor ator da China” por seus grandes roteiros clamando por reforma política, mas que não produziram mudanças. No entanto, com o escândalo de Wang Lijun-Bo Xilai se desdobrando nos últimos dois meses, as palavras de Wen, de repente, tomaram um novo significado, colocando-o no centro do palco.

De fato, como primeiro-ministro, Wen não tem autoridade sobre o sistema político; seu domínio é a economia e a burocracia estatal. A única forma de Wen avançar a causa da reforma política tem sido a de falar sobre isso.

Depois que Wang, o ex-chefe da polícia de Chongqing, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro em busca de asilo, uma luta de poder que fermenta a longo tempo nos círculos mais elevados da Partido Comunista Chinês (PCCh) veio à tona.

Bill Gertz, repórter da segurança nacional dos EUA, informou que de acordo com autoridades norte-americanas, Wang deixou documentos no consulado fornecendo informações sobre a corrupção e as ligações ao crime organizado de Bo Xilai, o ex-chefe de Wang e ex-secretário do PCCh em Chongqing.

De acordo com Gertz, um oficial dos EUA disse ainda que Wang forneceu informações sobre uma conspiração de Bo e do czar da segurança doméstica do regime chinês, Zhou Yongkang, para interromper a suave sucessão do poder do pressuposto próximo chefe do PCCh, Xi Jinping. Em outras palavras, Bo e Zhou planejavam um golpe.

Depois que Wang foi levado sob custódia por oficiais do Partido em 7 de fevereiro e removido para Pequim para investigação, observadores esperavam a próxima queda, ou um movimento contra Bo Xilai.

Wen Jiabao anunciou tal movimento em 14 de março, no final de sua conferência de imprensa no encerramento do Congresso Nacional Popular.

“O presente Comitê Municipal do Partido em Chongqing e o governo municipal devem refletir seriamente e aprender com o incidente de Wang Lijun”, disse Wen. Observadores do PCCh notaram a seriedade da crítica pública de um oficial do Partido.

No dia seguinte, a imprensa estatal anunciou que Bo tinha sido removido de seu posto como chefe do Partido em Chongqing. Na época, foi comentado que ele estaria em prisão domiciliar em Pequim. Mais recentemente, o Xinhua, a mídia porta-voz do regime comunista, anunciou que Bo tinha sido removido de sua posição no Partido e colocado sob investigação.

Bo é um membro-chave da facção agrupada em torno de ex-líder do Partido, Jiang Zemin. Essa facção opõem-se ao líder atual do Partido, Hu Jintao e a Wen, já que os dois tomaram posse em 2003.

A facção de Jiang tem contestado com Hu e Wen sobre quem detém o poder, e como esse poder será usado para moldar China.

O futuro da China

Wen referiu-se à batalha e sobre que futuro a China deveria ter em sua conferência de imprensa em 14 de março, quando advertiu, “Uma tragédia histórica como a Revolução Cultural poderá ocorrer novamente.”

A observação era destinada diretamente a Bo, que ganhou fama em Chongqing por uma campanha de cantar músicas maoístas. Essa campanha marcou a aspiração de Bo a liderar o PCCh na direção maoísta.

No entanto, a observação não visa apenas Bo. Ela também visa aqueles na facção de Jiang e no Partido como um todo que se recusam a se mover na direção da reforma política.

No discurso de Wen, ele descreveu a China como avançando em direção à reforma ou deslizando para trás em direção a uma política ao estilo da Revolução Cultural. “A reforma alcançou uma fase crítica”, disse Wen. “Sem o sucesso da reforma política, as reformas econômicas não podem ser realizadas. […] Cada membro do Partido e os dirigentes deveriam ter uma sensação de urgência.”

Talvez o maior adversário do PCCh para a reforma política seja Zhou Yongkang, que comanda o poderoso Comitê dos Assuntos Político-Legislativo (CAPL), com autoridade sobre quase todos os elementos da aplicação da lei na China. Na luta sobre Bo Xilai, Zhou foi real oponente de Wen.

Em 26 de março, na conferência anual do Conselho de Estado em oposição à corrupção, Wen falou sobre como o maior perigo que o PCCh enfrenta é a corrupção, que ele novamente associou à necessidade de reforma política. “Se este problema não for resolvido, a natureza do poder político pode mudar, e o Partido poderia perder seu poder para governar o país.”

Uma fonte de Pequim que conhece o que há por trás dos comentários de Wen disse ao Epoch Times que Wen visava Zhou, porque Wen sempre pensou que o CAPL é a maior fonte de corrupção na China.

Após as observações de Wen em 26 de março, ações foram tomadas no sentido de limitar o poder de Zhou dentro do CAPL.

Retratar o 4 de junho e o Falun Gong

Fontes em Pequim familiares com as ações de Wen nos conselhos do Partido dizem que nos últimos anos ele instou repetidamente pela reabilitação dos dissidentes da Praça Tiananmen e dos praticantes do Falun Gong, isto é, que eles não devem mais ser tratados como criminosos, e devem ser feitas reparações.

Zhang Tianliang, um comentarista político da NTDTV, vê o pedido de Wen por tais retratações como um senso de que é a coisa certa a fazer, mas também como um meio de fazer avançar seu projeto de reforma política.

“Corrigir a questão do Falun Gong tem haver com afirmar a liberdade de consciência e a independência do judiciário, estes são os objetivos de Wen para a reforma política”, disse Zhang. “O movimento estudantil de Tiananmen foi sobre democracia real, que também é objetivo de Wen.”

“A retratação das vítimas do Massacre da Praça Tiananmen significaria que o governo admitiu que eles não têm o direito de usar os militares e matar para impedir as demandas do povo pela democracia”, disse Zhang.

Abandonar a tendência à violência seria pender a balança na China em direção a uma verdadeira reforma, de acordo com Zhang.

“Se o Partido desistir do ‘modelo de 4 de junho’, isso faria mais pessoas irem para as ruas lutarem por seus direitos ou interesses. Seria como uma versão chinesa da revolução Jasmim.”

Jiang Zemin, que se acredita estar em estado vegetativo, Zhou Yongkang e Bo Xilai estão conectados como adversários de Wen pelo poder no PCCh. Eles também estão vinculados em sua culpa com a realização da perseguição ao Falun Gong.

Zhang explicou que os praticantes do Falun Gong não pedem por reforma política, mas pela proteção de sua liberdade de crença. Eles também querem que os responsáveis pela perseguição, incluindo Jiang, Bo, e Zhou sejam levados à justiça.

“A retratação do Falun Gong pode ajudar Wen a conquistar o coração do povo. Há 100 milhões de praticantes do Falun Gong na China, além de suas famílias”, disse Zhang. “Ao mesmo tempo, Wen pode acusar Zhou de genocídio ou crimes contra a humanidade.”

Retratar o Falun Gong, então, dá a Wen uma carta poderosa para jogar em sua luta com Zhou.

De acordo com uma fonte em Pequim, Wen está particularmente irritado com o crime da extração forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong. Wen disse recentemente numa reunião do alto escalão do Partido, “A colheita de órgãos de pessoas vivas sem anestesia e a venda de órgãos por dinheiro, isso é algo que um ser humano poderia fazer?”

Sobre esta questão, Wen tem censurado Hu Jintao, de acordo com a fonte, dizendo-lhe que, sem reformas, “vamos todos enfrentar investigação no final”.

Pesquisa feita por Jane Lin e Angela Wang.