Baidu, o maior motor de busca na internet chinesa por participação de mercado, recentemente pareceu levantar a proibição de pesquisas para termos normalmente censurados estritamente, neste caso, as frases chinesas “Levem Jiang Zemin à Justiça” e “Levem Zhou Yongkang à Justiça”.
Essas palavras de ordem estavam expostas em faixas exibidas por praticantes do Falun Gong, uma prática espiritual tradicional chinesa que o ex-líder chinês Jiang Zemin começou a perseguir em 1999. Jiang nomeou um protegido político, Zhou Yongkang, anteriormente um magnata do monopólio estatal do petróleo, para chefiar a segurança pública e continuar a campanha genocida mesmo após Jiang deixar seus cargos oficiais.
Normalmente, na China, tudo relacionado ao Falun Gong, a sua perseguição e aos apelos dos praticantes do Falun Gong para levar à Justiça o ex-líder do Partido Comunista Chinês (PCC) é estritamente bloqueado como questões políticas altamente sensíveis e subversivas.
A razão por que as buscas foram autorizadas recentemente – internautas na China identificaram isso em 27 de agosto – não está clara. O Baidu não respondeu a perguntas a respeito, e Kaiser Kuo, o porta-voz do Baidu para organizações estrangeiras, disse: “Para o registro, o Baidu não emite comentários oficiais para o Epoch Times”, em resposta a uma pergunta via Twitter. Porque o Epoch Times informa sobre os acontecimentos na China sem censura e ignora as tentativas do regime comunista chinês para controlar a narrativa, o regime tem sido hostil ao Epoch Times.
O momento do desbloqueio pode ser sugestivo, uma vez que rumores sobre Jiang Zemin ter sido capturado no expurgo político têm circulado desde 29 de julho, quando foi anunciado que o ex-chefe de segurança Zhou Yongkang estava sendo investigado oficialmente por corrupção.
Ao pesquisar pelos dois termos em 27 de agosto, os usuários podiam encontrar fotografias de praticantes do Falun Gong no estrangeiro meditando e protestando contra a perseguição de sua prática. Pesquisas em 28 de agosto na América do Norte não retornaram as mesmas imagens.
Lapsos oportunos na censura
Não está claro se as pesquisas foram autorizadas temporariamente como uma medida deliberada, uma demonstração de uma questão política, ou foi de alguma forma um mero acidente. Tais incidentes ocorreram no passado em torno de eventos politicamente sensíveis, e dado o rigor habitual do regime de censura do Partido Comunista, o momento do aparente desbloqueio e a sensibilidade política do que foi disponibilizado para pesquisa, observadores opinam que essas medidas podem ser atos deliberados de sinalizações políticas.
As pesquisas sobre informações da extração forçada de órgãos foram permitidas em março de 2012, durante uma crise política envolvendo Wang Lijun, o ex-chefe de polícia da cidade de Chongqing, e Bo Xilai, o ex-membro do Politburo e chefe do PCC em Chongqing.
Em setembro do ano passado, quando Bo Xilai foi levado a julgamento e, em dezembro, quando Li Dongsheng, ex-vice-diretor da Secretaria de Segurança Pública, foi demitido, o Baidu também teria permitido temporariamente buscas por matérias sobre o Falun Gong. Nenhuma explicação oficial da empresa foi dada para esses aparentes lapsos ou medidas deliberadas. O Baidu, como o motor de busca da internet mais utilizado na China, está intimamente ligado às políticas do regime chinês de gestão da internet e foi o beneficiário direto da saída do Google da China.
Sensibilidades políticas
A perseguição ao Falun Gong tem sido uma das cruzadas mais sensíveis e pessoais de Jiang Zemin, promovida em detrimento de outras prioridades nacionais e sem o apoio da liderança na época.
Dezenas de milhões de chineses têm sido alvo da campanha, um número desconhecido foi detido em campos de trabalho forçado, centros de lavagem cerebral e prisões. O Minghui, um website administrado por praticantes do Falun Gong, fornece relatórios em primeira mão sobre a perseguição na China, e já documentou 3.776 mortes na campanha, embora as estimativas de mortes sejam na verdade de pelo menos dezenas de milhares, devido à extração forçada de órgãos sancionada pelo regime comunista chinês. Esta questão foi mais recentemente documentada num livro do jornalista Ethan Gutmann, “The Slaughter“.
Devido à violência da campanha, e à necessidade de que ela não seja interrompida e ele seja responsabilizado, Jiang Zemin instalou comparsas em posições-chave no regime antes de sua saída formal da política chinesa em 2002, homens que continuariam seu legado de perseguição e ao fazê-lo protegeriam os responsáveis pelos crimes de serem responsabilizados.
Estas nomeações incluem Zhou Yongkang, que estava no comando das instituições do aparato de segurança e da aplicação da lei na China, e seguia de perto as ordens de Jiang Zemin para realizar a perseguição, utilizando o sistema judiciário, a Procuradoria, a polícia civil, militar e secreta e as agências de inteligência.
Esta é uma configuração política que Xi Jinping, que novo líder chinês que assumiu o poder no final de 2012, têm lentamente extirpado nos últimos 18 meses.
‘Grande sapo’
O aparente desbloqueio do Baidu veio junto com outras referências veladas a Jiang Zemin na mídia estatal recentemente. Em 27 de agosto, um artigo enfatizando que funcionários aposentados não devem intervir nos assuntos do Estado, foi publicado por uma agência porta-voz do regime, o Global Times, e foi então amplamente reproduzido em outros websites.
O relatório enumerou uma série de altos funcionários aposentados que seriam modelos da não interferência na política após sua aposentadoria. Jiang Zemin – notório por sua intromissão por anos após a aposentadoria – não estava na lista e os internautas chineses rapidamente chamaram a atenção para o assunto.
Opiniões sobre a natureza salutar de ficar fora da política foram dadas por Tian Jiyun, um membro aposentado do Politburo, que disse: “Funcionários aposentados não devem intervir nos assuntos do Estado usando suas redes pessoais nem apontar o dedo para os líderes atuais.”
Huanxicheng Dezhu, um usuário do Sina Weibo que comenta sobre a política contemporânea chinesa, escreveu: “Publicar essa matéria neste momento tem um propósito. Isso faz as pessoas imediatamente pensarem no grande sapo.”
Jiang Zemin foi durante anos conhecido como “sapo” pelos internautas chineses, em parte pelas características de suas feições e também porque todos os líderes comunistas da liderança precisam ser apelidados para que os internautas possam comentar sobre eles enquanto evitam palavras censuradas. Uma vez que as autoridades identificam as palavras-código, no entanto, elas também podem ser excluídas.
Em 25 de agosto, Wang Qishan, a principal autoridade anticorrupção do PCC, teria sugerido sutilmente que outros “tigres” – o termo padrão para um funcionário poderoso e corrupto – poderiam ser alvo da campanha anticorrupção.
Quando perguntado diretamente a respeito, Wang Qishan simplesmente sorriu e não respondeu. Quando reinterpelado, ele disse: “Você entenderá em breve.” A resposta, no contexto dos rumores sobre Jiang Zemin, levou a ainda mais especulações na internet chinesa.