Washington perde controle sobre Banco Mundial, uma mudança histórica

09/04/2012 03:00 Atualizado: 06/09/2013 00:22
O candidato indicado pelos EUA para a presidência do Banco Mundial, Jim Yong Kim, chega ao Ministério da Fazenda em Brasília. O conselho de diretores do Grupo Banco Mundial está previsto para selecionar seu próximo presidente neste mês (Pedro Ladeira/AFP/Getty Images)
O candidato indicado pelos EUA para a presidência do Banco Mundial, Jim Yong Kim, chega ao Ministério da Fazenda em Brasília. O conselho de diretores do Grupo Banco Mundial está previsto para selecionar seu próximo presidente neste mês (Pedro Ladeira/AFP/Getty Images)

A abertura da candidatura para a presidência do Banco Mundial é uma mudança histórica cujo significado não foi totalmente apreciado. Isto não é surpreendente, dada a incompreensão generalizada das instituições de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial).

A perda de poder do FMI sobre a maioria dos países de renda média, que tem ocorrido desde a década de 1990, é provavelmente a mudança mais importante no sistema financeiro internacional nos últimos 40 anos. No entanto, passou largamente despercebida na imprensa.

O Fundo tem sido a via principal da influência de Washington sobre os países em desenvolvimento. Ele pressionou os governos a adotarem políticas “neoliberais”, às vezes conhecidas como o “consenso de Washington”. O que incluía abandonar estratégias de desenvolvimento industrial lideradas pelo Estado, políticas fiscais e monetárias mais restritas (frequentemente pró-cíclicas), e, muitas vezes, indiscriminada abertura ao comércio internacional e ao fluxo de capital.

Na América Latina especialmente (mas também em muitos outros países), essas políticas coincidiram com o colapso do crescimento econômico e, portanto, uma queda na redução da pobreza.

O Banco Mundial tem sido parte de um “cartel de credores” com o FMI, pressionando junto por mudanças políticas neoliberais em diversos países. Isso ainda é verdade hoje em alguns países, mas menos, porque muitos países de renda média não mais emprestam do FMI.

A escolha de Jim Yong Kim pelo Presidente Obama para presidente do Banco Mundial representa uma enorme quebra com o passado. Mesmo que Kim, nascido na Coreia, seja cidadão norte-americano, ele não é um político ou banqueiro, como todos os últimos 11 presidentes foram. Ainda melhor, ele passou a maior parte de sua vida adulta trabalhando para melhorar a saúde pública.

Ele é cofundador da Partners in Health, uma das mais bem sucedidas e progressivas organizações de saúde pública no mundo.

Embora Kim ainda seja a “escolha” dos EUA, continuando assim uma regra tácita indefensável de 68 anos, ele não é realmente a escolha de Washington, e é improvável como qualquer pessoa de qualquer nacionalidade que cumpra ordens de Washington. É sabido que o Presidente Obama queria nomear Larry Summers ou algum outro associado.

Uma mudança radical na escolha dos EUA foi causada por uma série de fatores, incluindo a oposição dos governos e da sociedade civil; e um reenquadramento do debate na mídia, que começou a aceitar a demanda por uma “seleção aberta e baseada no mérito”. A candidatura insurgente do economista Jeffrey Sachs também desempenhou um papel importante na movimentação do debate, e Obama estava olhando para evitar qualquer controvérsia desnecessária num ano eleitoral.

O Brasil nomeou José Antônio Ocampo, um dos economistas mais interessante, bem preparado e experiente no hemisfério (ele chefiou a Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe e também seu Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais). Ele também é um proeminente crítico das políticas neoliberais. E Ngozi Okonjo-Iweala, nomeado pelos países africanos, é ministro das finanças da Nigéria e um ex-diretor-administrativo do Banco Mundial.

O novo presidente ainda enfrentará duras batalhas com os EUA e seus aliados no conselho de diretores do Banco Mundial. Mas a perda de controle de Washington sobre o Banco Mundial é uma grande mudança que vai beneficiar milhões de pessoas.

Mark Weisbrot é codiretor do Centro de Pesquisa Política e Econômica em Washington DC e presidente da Just Foreign Policy