‘A Voz do Brasil’: propaganda autoritária pode virar patrimônio cultural

11/04/2014 08:00 Atualizado: 11/04/2014 09:38

O programa “A Voz do Brasil” foi ao ar, pela primeira vez, em 1935, em plena ditadura do Estado Novo. Já se vão, portanto, quase oitenta anos que o brasileiro é obrigado a pagar e aturar esse verdadeiro entulho autoritário, com sucedâneos no mundo apenas em ditaduras como a cubana, a chinesa ou a norte-coreana.

E, quando a gente pensa que está perto o dia em que nos livraremos desse anacronismo entediante, descobrimos que nossos digníssimos representantes no Congresso Nacional trabalham com afinco, na calada da noite, para eternizá-lo.

No início desse mês, contrariando o parecer do Iphan, a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado votou favoravelmente ao projeto de lei nº 19/2011, de autoria da ex-senadora Marinor Brito (PSOL), que transforma “A Voz do Brasil” em “patrimônio cultural imaterial do Brasil”. É mole ou quer mais?

Como bem destacou o jornal Estado de São Paulo em editorial:

“O problema todo é o que certos congressistas entendem por ‘fonte de informação’. Para boa parte deles, os meios de comunicação não lhes dão o espaço que eles reivindicam para propagandear suas supostas qualidades, preferindo investigar e divulgar seus malfeitos. Logo, A Voz do Brasil seria a ‘única fonte de informação’ para contra-arrestar as denúncias que jorram cotidianamente do noticiário independente.

“Além disso, o programa serve para que inexpressivos políticos tenham seus segundos de exposição gratuita, em rede nacional. É o que diz a justificativa do projeto, ao argumentar que A Voz do Brasil leva ‘a todos os rincões do País as notícias dos feitos parlamentares, independentemente de cor partidária, nem sempre alvo da chamada imprensa tradicional’.

“Eis aí o busílis. A Voz do Brasil é danosa por ser uma imposição diária da transmissão de ‘notícias’ chapa-branca, que não têm a menor importância, a não ser para um punhado de políticos.”

A nós, brasileiros sem voz, só resta a alternativa de desligar o rádio ou colocar um CD para tocar todos os dias, às 19 horas em ponto.

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo

Esse conteúdo foi originalmente publicado no site Instituto Liberal