A experiência humana começa com as percepções individuais de cada um em relação ao meio que habita e seus integrantes. Tem início no útero e segue adiante após o nascimento, compondo a história daquele ser, ou daquele caráter, como bem definido por Paulo Francis.
Ainda na infância cada um de nós passa a se perceber como matéria física e pouco depois como intelecto apto a compreender a própria percepção da existência em si.
Ao mesmo tempo em que a sensação de si mesmo se dá, emerge a consciência de que somos relevantes em relação aos demais também. E a partir desse universo social, começam as eleições.
Não elegemos nossos pais biológicos ou a carga genética inserida em nossos cromossomos. Contudo, na convivência com aqueles que nos criam e educam vamos nos elegendo como indivíduos mais ou menos capazes, dependendo da atuação familiar positiva ou não.
No decorrer da vida, elegemos também nossos amigos, companheiros, heróis, vilões, sócios, parceiros, clientes, confidentes, inimigos e tantos outros componentes mais ou menos transitórios na estrada a trilhar.
Em todos os casos acima, avaliamos os defeitos e qualidades dos que nos cercam e influenciam a nossa vida, incluindo o que deles desejamos em relação ao presente e ao futuro, cientes de que precisamos colaborar para que a troca seja justa e próspera para as partes envolvidas.
Interessante notar que, quando se trata de eleições políticas, parece que os critérios básicos acima descritos desaparecem. Já não se pensa em reciprocidade, em troca, em proporção, em um equilíbrio entre o que se dá e o que se espera. Elegemos representantes que não nos representam e seguimos reclamando durante todo o mandato.
Algo está errado nessa equação.
Será que não existe a percepção de que escolher os representantes que irão elaborar as normas do país, administrar as instituições do poder e julgar o povo é tão importante quanto eleger amigos, companheiros, esposas e maridos, sócios, parceiros e demais participantes diretos de nossas vidas?
A nação de pessoas que elegemos para fazer parte da nossa história pessoal realmente fará diferença no resultado final de nossa experiência. Pois bem, o mesmo ocorre em relação aos políticos que elegemos para nos representar com o objetivo de elevar o nosso país à melhor condição que se possa desejar.
Fica evidente, assim, que não se trata de uma questão partidária, ideológica, mas, muito antes desses aspectos, de uma questão cultural, de uma questão existencial. Se somos capazes de eleger a maior parte das pessoas que irão interagir conosco na elaboração e construção de conceitos, valores, enfim, do roteiro de nossas vidas, como podemos ser tão relapsos na escolha de quem conduzirá o plano geral do país a fim de que possamos realizar nossos objetivos de forma segura e honesta? Patriotismo tem um significado muito além de uma camisa ou uma bandeira em eventos midiáticos.
Você se elegeria para um cargo político que julga importante? E se você pudesse escolher uma pessoa que convive com você para esse cargo? Que critérios usaria? Quando a proximidade dos resultados bate à nossa porta, o cuidado é bem maior. Então seria prudente prestar mais atenção, já que tal cenário está em pleno andamento.
Elegemos os demais de acordo com o que elegemos para as nossas vidas, sejam parceiros, companheiros, amigos, candidato político…
Nas próximas eleições, imagine que entre os botões da urna eletrônica exista um com o seu nome. Você o apertaria?
João Antonio Wiegerinck é professor de direito e de filosofia jurídica em cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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