Vivendo num mundo sem regras financeiras

28/02/2014 15:26 Atualizado: 28/02/2014 15:26

O Financial Times de Londres afirmou: “Se uma empresa que projetou um único jogo bem-sucedido de telefone móvel (Candy Crush) pode valer US$ 5 bilhões, tudo pode valer qualquer coisa e vivemos num mundo sem regras financeiras.”

Para este titã do establishment, os mercados hoje estão “vivendo na pós-financeira ‘Candy Land’” [um jogo que não exige habilidades, intelecto ou estratégia dos participantes, que apenas seguem direções sem tomar qualquer decisão, e cujo resultado é definido pelo embaralhar das cartas].

É certo que o mundo financeiro ainda está sofrendo “Choque e Pavor” devido à aquisição do WhatsApp – um novo aplicativo de mensagens de texto para celular – pelo Facebook. Mark Zuckerberg pagou US$ 19 bilhões por uma empresa digital sem qualquer propriedade intelectual, com competição quase ilimitada e, notavelmente, um modelo de negócios antilucro.

Nada disso faz qualquer sentido para os tradicionalistas. O inventário das perdas é formidável; nem as legiões de jornalistas de negócios, nem especialistas em tecnologia, nem assessores de gurus financeiros em grandes bancos de investimento têm a menor ideia do que está acontecendo. Eles se encontram (mais uma vez) num mercado em que não têm a capacidade de escolher os vencedores e não tem base racional para avaliações.

Então, por que o Facebook mergulhou no WhatsApp? Quatrocentos e cinquenta milhões de usuários.

Para o Vale do Silício, tudo se trata de possuir conexões no universo digital. O WhatsApps tem quase metade do número de usuários do próprio Facebook e está crescendo sua base de usuários rapidamente. O Facebook (em si mesmo uma proposição duvidosa para muitos tradicionalistas) estabeleceu o desafio digital. O ‘valor está na rede’: controle a rede em primeiro lugar e descubra uma maneira de lucrar com essas conexões mais tarde.

Parece que o universo financeiro foi virado de cabeça para baixo. Empresas tradicionais como a Coca-Cola (que registrou crescimento de apenas 1% no quarto trimestre) estão sentindo o aperto de uma economia global estagnada, enquanto sonhos digitais estão capturando todas as manchetes.

Por que isso está ocorrendo?

O segredo mais bem guardado do mundo moderno é que estamos no meio de uma mudança de paradigma que está transformando a ordem de nossa civilização de dentro para fora. Uma embrionária Revolução Criativa está varrendo a paisagem histórica minando a velha ordem industrial. Infelizmente, a força e a profundidade desta revolução estão criando grandes desafios para as pessoas que não experimentaram esta escala de mudança por séculos.

Dificilmente poderia haver um contraste maior do que entre uma economia baseada em fábricas que produzem ‘coisas’ e uma economia criativa cujo valor é determinado por relacionamentos e intangíveis. Valor e produtividade são definidos de forma diferente numa economia criativa. Num mundo de intangíveis digitais, como softwares, internet, aplicativos móveis, marcas e redes, o valor é criado pelas redes colaborativas de indivíduos e não nas disciplinadas fábricas.

Por exemplo, considere a indústria de software, onde o ‘produto’ é gerado digitalmente. Basicamente são apenas linhas de código de computador, geradas pela imaginação criativa de equipes de desenvolvedores que muitas vezes estão continentes de distância. A reprodutibilidade do ‘produto’ de software (hoje em dia) é praticamente sem limitações de custo ou de tempo e pode ser distribuído imediata e livremente em todo o mundo para clientes através da internet.

Compare este modelo com o tradicional Modelo Industrial de produção. Numa fábrica, os custos são afetados pela escassez de mão de obra e materiais, os modelos de penetração de mercado são limitados pelas restrições dos sistemas de distribuição físicos necessários para o transporte de bens tangíveis para o mercado, e depois ainda mais constrangidos pelas necessidades de varejo destes produtos pelas lojas em economias de regulamentado nacional.

Nos velhos tempos, as empresas cresciam lentamente, conquistando uma quota de mercado regional e, em seguida, anos mais tarde, expandindo para mercados globais. Hoje você é global desde o primeiro dia e se você capturar a imaginação da juventude, o crescimento pode ser instantâneo. Não há precedente histórico para este tipo de aceleração ilimitada.

Devido a essas mudanças na dinâmica da economia global, avaliações são apenas um jogo de dados?

Não de acordo com o especialista contábil Joseph Batty. Os problemas com as avaliações modernas começam com uma falta de compreensão sobre as qualidades únicas dos ativos intangíveis na economia digital global: estes novos ativos quebraram o molde e todas as regras industriais antigas. Resumindo, todos falhamos em acompanhar o ritmo destas mudanças.

O segredo de Batty: identificar os ativos (intangíveis) e analisá-los separadamente da empresa na qual estão contidos. Os ativos devem ser avaliados numa base de ‘Maior e Melhor Uso’, que capture todo o seu potencial ‘empreendedorial’ e não na base (muito mais baixa) de ‘custo histórico’. Compreender o potencial global dos ativos e valorá-los adequadamente está no melhor interesse de desenvolvedores de tecnologia, investidores e do mercado.

Compreender os ativos intangíveis em todos os seus pontos fortes e fracos é a verdadeira revolução que, uma vez apreciada, trará ordem e sensibilidade de volta ao mercado e talvez, apenas talvez, ajude a evitar outro grande desastre financeiro.

Robert McGarvey é historiador econômico e cofundador do Genuine Wealth Institute, um grupo de pesquisa sediado em Alberta, Canadá, dedicado a ajudar empresas, comunidades e nações a construir o bem-estar em comunidades. Ele também é autor de “The Creative Revolution”, um guia histórico para o futuro do capitalismo

Esta matéria foi originalmente publicada pela TroyMedia.com