O pior tufão na China em 41 anos atingiu a costa em 18 de julho, deixando milhões necessitando urgentemente de água, alimento e abrigo. O alívio enviado pelos governos locais e pela Cruz Vermelha Chinesa incluiu grandes quantidades de pão mofado e cobertores de inverno.
Segundo estatísticas oficiais, o tufão Rammasun matou 46 pessoas na China, e 25 pessoas ainda estão desaparecidas. A tempestade e os deslizamentos de terra destruíram dezenas de milhares de casas, terras agrícolas, estradas e portos, e cortou a eletricidade e o abastecimento de água em muitas cidades nas províncias de Hainan, Guangdong, Guangxi e Yunnan. Os prejuízos materiais somariam 33,65 bilhões de yuanes (US$ 5,4 bilhões) e 9,97 milhões de pessoas foram afetadas.
Em 20 de julho, os residentes da cidade de Weichang, província de Hainan, finalmente receberam suprimentos de ajuda do governo local, incluindo água engarrafada e pão, mas a maior parte do pão estava mofado e não podia ser consumido, segundo a mídia estatal Diário de Jiefang. Então, por dois dias, os moradores famintos tiveram de contar apenas com a água de poço que tinham acesso, pois a queda de eletricidade afetou também o abastecimento normal de água.
Um voluntário ajudando numa vila de Weichang disse ao jornal que duas caixas de pão chegaram, uma foi rapidamente esvaziada pelos aldeões famintos, mas ninguém sequer tocou a outra. “A maior parte do pão na outra caixa estava mofado e inaproveitável”, disse o voluntário, porque muitos dos pacotes tinham buracos.
Informação pública mostra que o preço do pão é muito barato ou apenas 1 yuan (16 centavos de dólar) por pacote, mas muitos comentários online de clientes mostram problemas na embalagem, segundo a reportagem.
O Departamento de Assuntos Civis na província de Hainan confirmou o problema do pão mofado em 21 de julho numa conferência de imprensa, dizendo que, após uma inspeção, das 1.127 caixas de suprimentos de emergência, 290 caixas de pão estariam mofadas.
O público também ficou indignado com a Cruz Vermelha Chinesa de Guangdong por enviar 2 mil cobertores de inverno e 5 mil casacos para as cidades do Sul da China nas zonas de desastre em 20 de julho. A temperatura nas áreas atingidas é superior a 32ºC (graus centígrados), e mesmo à noite a temperatura mais baixa é em torno de 26ºC.
Autoridades locais na cidade de Zhenjiang em Guangdong, o local mais atingido, disseram à mídia estatal Noticiário Yangcheng que os moradores locais necessitam urgentemente de colchões e cobertas, mas não cobertores de inverno. Muitos internautas também criticaram a Cruz Vermelha Chinesa (CVC) pelo desperdício de dinheiro e mão de obra e pela falta de consideração pelas vítimas.
Yang Xusheng, o vice-diretor do Departamento de Resgate da CVC disse à mídia estatal Beijing News: “É a tradição de resgate em nosso país enviar cobertores de algodão. Pode-se dormir sobre ou sob ele. Eles têm uma ampla gama de usos.”
Os internautas não foram convencidos pela explicação da CVC, e os quentes cobertores e o pão bolorento se destacaram nas reclamações na internet. “Para onde vão nossas doações em cada resgate de desastres? Será que o dinheiro vai para o bolso de funcionários?”, questionou um internauta no Weibo, uma plataforma chinesa semelhante ao Twitter.
O desvio de doações para ajuda humanitária tem sido frequentemente exposto pela mídia chinesa. Por exemplo, reportagens em abril deste ano revelaram que uma prefeitura de Mianyang, na província de Sichuan, ainda tinha hoje três salas de escritório cheias de suprimentos que deveriam ser sido enviados às vítimas do terremoto de Sichuan seis anos antes, em 2008. Muito arroz, pão, macarrão instantâneo, água mineral e roupas estavam lá e cheiravam “extremamente mal”, segundo reportagens.
A reputação da Cruz Vermelha Chinesa tem sido repetidamente afetada por escândalos de corrupção. Em 2011, Guo Meimei, de 20 anos, ostentava sua riqueza em mensagens de microblog, alegando ser uma funcionária da CVC. Também em 2011, Ruan Heng, o vice-presidente-executivo da CVC em Kunming, província de Yunnan, foi condenado por desviar dezenas de milhares de yuanes em fundos públicos e doações.
De acordo com a mídia estatal China News, a Cruz Vermelha Chinesa desperdiçou 67 milhões de yuanes (US$ 11 milhões) e deu falta de 210 milhões de yuanes (US$ 34 milhões) entre 2005 e 2010.