‘Vítimas do PCC nunca diminuíram, apenas aumentam’, diz jornalista

13/04/2012 00:00 Atualizado: 05/03/2014 18:44

Na China comunista, um país onde agora as mulheres andam por todos os lados perfeitamente maquiadas e com salto alto, e os homens jogam golfe e visitam clubes noturnos, é difícil imaginar que existam pessoas que sofrem de forma tão cruel a violência de Estado. Posso assegurar a todos, com base em minha experiência de mais de 40 anos como profissional do jornalismo que, tanto na China do passado como na atual, há um número bastante grande de vítimas da cruel violência comunista.

Provavelmente alguns me farão a seguinte pergunta: “Por que não se noticia ou se vê essas coisas?” Eu posso assegurar-lhes que o motivo fundamental para isso é o controle absoluto que Pequim exerce sobre os meios de comunicação. Eles subornam e ameaçam os jornalistas estrangeiros, e limitam a liberdade de atuação deles. Por esse motivo, a verdade sobre a China é ocultada, ignorada ou não lhe é dada a devida importância.

Possivelmente, vocês estão informados que a tomada do poder em Pequim se realizou com as armas de Josef Stalin e dos japoneses, ao preço da vida de milhões de camponeses. Nos primeiros 30 anos da constituição do poder político chinês, o Partido Comunista Chinês (PCC) ordenou, em nome da luta de classes e da construção da ditadura do proletariado, a criação de numerosos movimentos políticos, e um dos principais é conhecido como “o grande salto adiante”, que, no final, culminou na Revolução Cultural. Talvez vocês não saibam que nesses 30 anos morreram milhões de chineses de morte não natural e isto sem nem sequer incluir os soldados mortos na guerra da Coréia.

Talvez vocês saibam que, ao se encerrar a Revolução Cultura, foi publicada uma ata sobre a assembleia do Comitê Central do Partido na qual se destacou que o PCC já havia aprendido as lições da história e que tais tragédias não mais se repetiriam. Muitos, ingenuamente, acreditaram que, a partir daquele momento, não haveria mais vítimas do comunismo na China. No entanto, a verdade é bem diferente dos desejos.

No verão de 1989, o PCC fez algo que ultrapassou os limites de aceitação de toda a humanidade. Estudantes e habitantes de Pequim que exigiam a democracia e protestavam contra a corrupção foram, com o uso de tanques e fuzis, assassinados na Praça da Paz Celestial, bem diante das câmaras de televisão de todo o mundo. Até hoje, não há estatísticas exatas sobre o número de mortos. Os familiares de valorosas vítimas lutam até hoje para que se faça justiça e apelam à solidariedade das pessoas.

Dez anos mais tarde, no ano de 1999, o PCC dirigiu quase todos os recursos humanos e financeiros que dispunha para isolar e ameaçar com torturas um grupo de pessoas pacíficas que não acreditam na filosofia da luta de classes; este grupo se chama Falun Gong. A acusação que inventaram foi que: “Falun Gong pode se converter num movimento social chinês.” Os membros do Falun Gong são contra o uso da violência, porém o regime chinês pisoteou sem escrúpulos na dignidade humana deles. Até mesmo extraem e roubam seus órgãos, quando a pessoa ainda está viva e consciente, e os vendem no mercado de transplantes como se fosse um “suporte ao desenvolvimento”.

Sabemos que mais de 3.000 praticantes do Falun Gong já foram mortos como consequência de torturas e maus-tratos. Entretanto, não sabemos quantos mais praticantes do Falun Gong continuam prisioneiros e lutando para sobreviver. Como testemunhas desses assombrosos casos, figuram entre outros: Edward McMillian-Scott, vice-presidente do Parlamento Europeu; Manfred Nowak, enviado especial da ONU contra a tortura; o advogado David Matas; e o diplomata do Canadá David Kilgour, todos colaboradores das Nações Unidas para assuntos relacionados a torturas.

No ano de 2009, um acontecimento em Hong Kong passou despercebido no mundo todo. No final de novembro, pouco antes da celebração do dia dos Direitos Humanos, foi fundada em Hong Kong a organização “Aliança das vítimas chinesas”. As vítimas, aqui, são as que sofrem a perseguição da ditadura comunista e são particularmente esses grupos que rapidamente aumentam em número de membros.

Há 30 anos, o PCC substituiu a “luta de classes” pela palavra “desenvolvimento”. Seu lema também mudou de “luta de classes é sempre eficaz” para “desenvolvimento é o mais importante”. Na realidade, o princípio permanece o mesmo. Antes, tudo aquilo que se fez em nome da “luta de classes”, hoje se utiliza a palavra “desenvolvimento” como justificativa. Aqueles que atuam de acordo com as diretrizes do partido são escolhidos, e aqueles que não se submetem a suas regras são eliminados. Qualquer ‘slogan’ que o PCC utiliza, somente serve para apoiar e legitimar o regime do PCC.

O PCC tem o monopólio do mercado. Dizemos que é um mercado livre sob o controle de um único partido, é como um cassino sob o controle da máfia. A alta taxa de crescimento da economia chinesa é um tipo de crescimento desmesurado que se sustenta devido a reforços de estruturas monopolistas, a grandes investimentos de capital estrangeiro e à mão-de-obra barata. Este desenvolvimento se baseia na inexistência do direito à propriedade privada, funcionários corruptos, cujos desejos pessoais têm quase caráter de lei, e a violência permanente por parte da polícia.

O desenvolvimento econômico se baseia nos habitantes de povoados e cidades que perderam suas propriedades. Quantas casas e terrenos foram expropriados e vendidos em nome do progresso por funcionários do partido que, em seguida, colocaram o dinheiro em seus próprios bolsos? Um professor da Universidade de Nanjing estima que o número de pessoas afetadas seja de 10 a 20 milhões. Faz dois anos, este professor tentou defender os direitos dos prejudicados de uma forma conjunta, porém foi imediatamente preso e condenado logo em seguida.

No início dos anos 50, Mao Tsé-tung, devido à desconfiança que tinha dos núcleos do regime em diferentes províncias, abriu o “Departamento de recepção para visitantes do povo” com a finalidade de recepcionar e dar tratamento às queixas dos visitantes. Na realidade, esse “Departamento” se tornou uma organização estatal onde se guarda e analisa as informações, por isso é chamado “Segundo Centro de Análise e Investigação”. As vítimas, para as quais lhes é negado o direito de defesa jurídica em casos penais ou quando são tratadas injustamente pelo regime local, têm de ir à Pequim e expor seus casos diante do “Departamento de recepção para visitantes do povo”. Eles querem que tais injustiças sejam resolvidas pelos departamentos centrais do partido. Na China, a justiça não é feita por meio dos órgãos do sistema judiciário, mas pelas divisões centrais do partido. Este fato lamentável já é amplamente conhecido.

As vítimas do “desenvolvimento econômico” também recorrem com a mesma esperança a Pequim e são chamadas de “visitantes do povo”. Porém os tempos mudaram, pois a sede central do partido já não quer se ocupar com eles, nem com seus casos, ainda que sejam muito graves. O Partido manda a polícia enviar tais visitantes de volta para suas casas. Por isso esses “visitantes” não podem obter justiça e estão sempre à mercê do regime local que alimenta essas injustiças. Hoje em dia, faz parte do “cenário da cidade de Pequim” o destino dos tais “visitantes do povo”; certamente isso não passa despercebido dos diplomatas estrangeiros.

Resumidamente, depois da Revolução Cultural, o número de vítimas do PCC não diminuiu, mas é cada vez maior. Muitos optaram por se suicidarem devido ao desespero em que se encontram. Notícias sobre trágicos suicídios são cada vez mais frequentes. Na festa de celebração de 60 anos da tomada do poder pelo PCC se ouviu pela primeira vez em público o slogan “Morte ao partido comunista!” O PCC acredita que, com a abertura de seus mercados, poderá evitar ter o mesmo destino que o da União Soviética e do leste Europeu. Porém, a insistência do PCC em manter um governo único está causando problemas cada vez maiores para a sociedade.

A explicação dada por Pequim para tais problemas é: “São inevitáveis para se conseguir o desenvolvimento. O desenvolvimento não pode oferecer vantagens a todos.” Outra explicação é: “A China não tem tradição de direitos humanos como o mundo ocidental.” Tais justificativas falham em explicar o problema e somente podem enganar a estrangeiros desinformados.

Depois da Segunda Guerra Mundial, morreram quase tantos chineses de morte não natural quanto os habitantes da Alemanha. Desde o tempo da chamada reforma e abertura, há pessoas que são vítimas do partido comunista. Diante de tais fatos, as pessoas podem descobrir a verdade. Nenhuma experiência entre os países desenvolvidos mostrou que para se conseguir o desenvolvimento é necessário oprimir pessoas de opiniões diferentes, torturar pessoas de diferentes credos, reprimir a liberdade de expressão ou expropriar à força. Na realidade, somente precisamos tomar Taiwan como exemplo para ver isso, para compreender as mentiras. Os habitantes de Taiwan são chineses. Ali não há prisioneiros políticos e reina a liberdade de opinião. Ali, no governo não há autocracia de um único partido, e sim há muitos partidos e disputa política entre eles. A economia de Taiwan segue seu curso normal apesar da atual situação econômica do mundo. A renda per capita de Taiwan é mais elevada que na China Continental.

Dados do Banco Mundial publicados em 2010 mostram que, 30 anos depois da reforma na China, 41,4% da riqueza nacional pertence a somente 1% dos chineses cujas famílias ocupam posições importantes no PCC (parentes da chamada Nomenclatura). Os salários dos principais gerentes de empresas estatais são em média 128 vezes mais altos que o da média da sociedade. Uns dos jornais do partido “Investigação Econômica” também admitiu que o coeficiente de Gini da China está em mais de 0,5. A fronteira que marca a diferença entre pobres e ricos está definida em 0,4.

Se Deng Xiao Ping, o chamado timoneiro da China, soubesse desses resultados, ele estaria alegre em sua tumba. Há mais de 30 anos, ele disse: “Deixar primeiro que uma parte do povo se faça rica.” Porém, um alto funcionário lhe fez a seguinte pergunta: “Nossos filhos pertencem a essa parte?” Deng disse naturalmente: “Claro, naturalmente!”

As contínuas repetições de lições da história e o fato de o PCC estar mostrando sua verdadeira face motivam a muitos corajosos jornalistas e advogados a lutar contra o controle do partido. Jornalistas que descobrem casos de corrupção e advogados que defendem o Falun Gong e outros grupos são despedidos ou logo detidos por motivos não esclarecidos.

Sem dúvida, os chineses começam a despertar lentamente para essa realidade cruel. Vamos dar um exemplo. Até agora, os meios estrangeiros não deram atenção ao fato de que no Norte da China há um jornal, o Yan Huang, e no Sul há outro, o City. O jornal Yan Huang Chun Qiu é um periódico conhecido em Pequim e é editado por funcionários especializados. Em abril de 2010, o tema central do periódico foi dedicado uma vez mais a Mao Tsé-tung. Uma ata do Comitê Central da Assembleia Geral mostrou que alguém insultou a Mao no ano de 1980 numa reunião de altos funcionários na qual havia mais de 400 participantes. Este artigo do Yan Huang indica que nos altos escalões do PCC há membros que se libertaram das limitações ideológicas e expõem os fatos ocultos da história do PCC. O jornal City, do Sul da China, na realidade, sofreu obstruções e represálias, porém está investigando os problemas da sociedade e sua linha editorial foi mantida. Os jornalistas mostram as limitações da mídia da China atual, e se atrevem a instalar uma nova situação.

Seu objetivo é o mesmo que o das três mídias independentes de origem chinesa nos EUA fundadas no início deste século: Epoch Times, Rádio Som da Esperança e NTDTV. Estas empresas de mídia fazem tudo o que é possível para revelar as mentiras e combater a ditadura. Simultaneamente, há também muitos advogados sinceros que estão se organizando para proteger os próprios direitos, e também ganharam o apoio de outros países.

Na realidade, todos que foram, em diferentes épocas, vítimas do PCC estão se esforçando nesse sentido. Uns tentam mostrar as verdades históricas e outros querem justiça contra os atuais abusos. A luta dos antigos reservistas do exército, aos quais não foram oferecidas possibilidades adequadas para o futuro, é especialmente notória. Até agora já entregaram mais de 10 solicitações em protesto e todas foram recusadas. Disseram também que a paciência deles está chegando ao limite por tratamentos injustos para a situação deles.

Os meios da China continental informaram que um professor de universidade e um alto oficial do exército deram este ano, de forma independente, o mesmo prognóstico. Acreditam que nos próximos 10 anos a China experimentará uma grande transformação democrática.

Os alemães que se interessam pela China deveriam ajudar ela a se tornar um país democrático. A Alemanha sofreu as consequências da luta entre ideologias e agora é a locomotiva da economia europeia. O país está progredindo, mesmo durante a atual crise mundial. Digo com todo respeito aos amáveis alemães que, de coração, espero que paralelamente ao desenvolvimento das relações comerciais entre os dois países, mandem a seguinte mensagem ao povo chinês: na Alemanha, o marxismo que preferiu a ditadura e a violência já é passado. Os alemães são contrários à prisão e tortura de pessoas por motivos políticos ou religiosos.

Que mostrem aos chineses que não pode haver democracia enquanto não há mídias e justiça independentes. A competição não é só importante para a área econômica como também para a política. Isto é o que mostra a experiência dos países desenvolvidos. Penso que transmitir estas informações aos chineses é também uma obrigação dos alemães.

Wu Baozhang trabalhou nos anos oitenta em Paris para a agência estatal chinesa de notícias Xinhua. Por causa do massacre da Praça da Paz Celestial, em junho de 1989, ele abandonou seu trabalho e nunca mais voltou à China. Desde 1989 até sua aposentadoria, dirigiu a redação chinesa da Radio France International de Paris.