As pessoas beneficiadas pelo tratamento com altas doses de Vitamina D contra esclerose múltipla têm divulgado a informação da terapia a outros pacientes que sofrem da mesma doença. A terapia, segundo os beneficiados, apresenta resultados rápidos e eficientes na redução dos sintomas da doença, ajudando-os a superá-la e ter uma vida normal e sem sequelas.
A esclerose múltipla é uma doença autoimune, na qual o sistema imunológico do próprio corpo ataca a bainha de mielina dos axônios. O axônio é a parte alongada do neurônio (célula nervosa) responsável pela transmissão do impulso nervoso de uma célula para outra. Ele é envolvido por uma bainha, chamada de bainha de mielina, que é composta maiormente (70%) por lipídeos (gorduras), mas também por proteínas (30%). O sistema nervoso é composto pelo encéfalo, pela medula espinhal e pelos nervos periféricos (que se estendem da medula espinhal para todo o organismo).
No Brasil, estima-se que cerca 35 mil pessoas estejam afetadas pela doença, de acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM). A doença afeta, geralmente, jovens entre 20 a 40 anos,
Casos de possíveis remissões e a esperança na vitamina D
O jornalista, Daniel Cunha, de 27 anos, foi diagnosticado com a doença no final de 2009. Durante os seis meses de tratamento ele experimentou uma depressão, devido aos efeitos colaterais do tratamento convencional.
O tratamento convencional baseia-se maiormente no uso de interferons (tipos de proteínas que agem como antinflamatórios para o sistema nervoso; como remédios, elas são sintetizadas artificialmente pela engenharia genética), imunossupressores (que tentam regular e diminuir o ataque do sistema imunológico ao sistema nervoso), na administração de cortisona oral e intravenosa (essa, em especial, nos momentos de crises – a qual se denomina de pulsoterapia), e no uso de analgésicos, relaxantes musculares e antidepressivos.
Após este período, ele conheceu o tratamento com vitamina D, prescrito pelo neurologista Dr. Cicero Galli Coimbra, que também é professor e pesquisador na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Em 2010, o jornalista começou o tratamento com vitamina D, que gerou bons resultados, segundo ele. Imediatamente, Daniel se questionou sobre o tratamento não ser divulgado. Por ser jornalista e motivado em divulgar o tratamento, ele fez um documentário chamado Vitamina D – Por uma outra terapia (p/ a esclerose múltipla), que já teve mais de 200 mil acessos no You Tube, e criou um blog para que as pessoas pudessem se manter informadas sobre o tratamento.
“Hoje recebo muitos e-mails por dia … tem um monte de pessoas que comentaram o vídeo. As pessoas [beneficiadas pelo tratamento] se unem porque todas tiveram melhoras e querem difundir o conhecimento para outras pessoas”, disse Daniel.
Outro paciente, o engenheiro ambiental e surfista de 31 anos, Marcelo Claudio Bergamo de Palma, que apresenta seu depoimento no vídeo feito por Daniel, foi diagnosticado com a doença em 2008, e hoje leva uma vida normal graças ao mencionado tratamento com doses elevadas de vitamina D.
“Passei por diversas internações de pulsoterapias para receber medicação (corticóides) intravenosa e utilizei poucos meses do tratamento convencional com aplicações diárias de Copaxone. Após iniciar o tratamento com vitamina D abandonei o tratamento convencional e nunca mais precisei de pulsoterapia. Nos exames de ressonância magnética as lesões regrediram ou desapareceram e não houve mais lesões novas ou em atividade, o que mostra que a doença está em remissão permanente. Hoje minha vida é normal, com trabalho e atividades físicas”, disse o engenheiro.
Segundo Marcelo, pacientes da Europa e América do Norte, vem atualmente para o Brasil receber o tratamento prescrito pelo Dr. Cícero.
Tratamento convencional
O tratamento convencional da esclerose múltipla, oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, é feito por medicamentos chamados interferons.
A ABEM informa que o tratamento de esclerose múltipla pode ser subdividido em quatro tratamentos, conforme a evolução da doença: surto, modificadores da evolução da doença, sintomático e reabilitacional.
Para o surto, se utiliza habitualmente pulsoterapia com glicocorticoides, que são anti-inflamatórios hormonais e visam abortar a atividade inflamatória e, com isto, o evento sintomático.
Os modificadores da evolução da doença visam minimizar os surtos na intensidade e frequência, com isto acarretando menos acúmulos lesionais (no sistema nervoso) e concomitantemente menos acúmulo de incapacitações.
O tratamento sintomático visa amenizar e tornar mais toleráveis os sintomas vigentes. A reabilitação trabalha concomitantemente melhorias funcionais, melhorando funções deficitárias, adaptando e melhorando a qualidade de vida do paciente.
“[A efetividade do tratamento dos] modificadores da evolução da doença tem uma eficácia de 30-40% (interferons e acetato de glatirâmer). Já as medicações mais novas [tem eficiência] em torno de 68% (natalizumabe e fingolimod)”, informou a ABEM.
O gasto mensal de um paciente com esclerose múltipla varia de R$ 2.300,00 a R$ 5.700,00 com o interferon-beta ou acetato de glatirâmer, segundo o portal da UNICAMP.
O tratamento com Vitamina D
O tratamento com altas doses de vitamina D é conhecido e estudado pela comunidade científica há mais de 40 anos, com mais de 3.700 estudos publicados em revistas científicas.
“A vitamina D é um hormônio esteróide que controla 229 funções (genes) dos órgãos humanos. A falta desta substância pode causar doenças autoimunes ou não autoimunes”, afirma o Dr. Cícero.
O tratamento não se limita somente a esclerose múltipla. É usado também em outras doenças autoimunes, tais como artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico, psoríase, vitiligo, tiroidite de Hashimoto, entre outras. Algumas doenças não autoimunes, como câncer, tuberculose, depressão e esquizofrenia também podem ser melhoradas com o uso deste tratamento.
A vitamina D é uma substância produzida durante a exposição solar. Mas, o Dr, Cicero alerta que devido ao estilo de vida moderna, as pessoas possuem baixo nível de vitamina D em seus organismos.
“As pessoas estão se escondendo do sol, durante o trabalho ou dentro de casa; fazem compras em locais fechados e usam insulfilm nos vidros dos carros com medo da violência urbana”, afirma.
Além disso, “a vitamina D não é restaurada pela alimentação, ou o valor é muito baixo para permitir a sua suplementação no nível apropriado”, afirma o médico.
Segundo o doutor, estudos mostram que, se apenas 5.000 unidades diárias de vitamina D fossem suplementadas nos corpos de população adulta, os casos de câncer poderiam cair para 40%.
Polêmica na comunidade médica
O tratamento de esclerose múltipla e outras doenças com altas doses de Vitamina D tem gerado polêmica na comunidade médica. Alguns médicos alegam que este tratamento não deve ser ministrado isoladamente e que o tratamento convencional usando interferons deve continuar.
“O que está se focando sempre agora é que ‘estou bem porque não estou tendo surtos’, mas isso não é a única leitura da doença”, disse a presidente da Sociedade Gaúcha de Neurologia e Neurocirurgia, Dra. Maria Cecília Vecino, ao G1. Ela afirma que o tratamento com vitamina D pode ser usado como complemento ao tratamento convencional, feito com interferons.
O Centro de Atendimento e Tratamento de Esclerose Múltipla (CATEM), no editorial de junho deste ano, alertou que o tratamento convencional deve ser mantido, podendo-se repor doses de Vitamina D nos casos em que as pessoas tenham níveis inadequados deste hormônio em seus organismos.
“Não há até hoje sequer um artigo que demonstre o efeito terapêutico da vitamina D no tratamento da esclerose múltipla”, alega a CATEM em seu editorial de junho.
Entretanto, uma busca de artigos científicos relacionando as expressões “Vitamina D”, “esclerose múltipla” e “terapia” resultam em 58.319 estudos no portal científico Scirus.
O Dr. Cícero, quando questionado sobre a efetividade de seu tratamento, afirmou categoricamente “[Com este tratamento com altas doses de vitamina D] a doença é desligada”.
Ele também afirma que muitos médicos têm resistência a adotar novos tratamentos e podem enfrentar interesses econômicos das empresas farmacêuticas, fabricantes de medicamentos de alto custo, para o tratamento da esclerose múltipla.