Visita do vice-presidente chinês dá poucas esperanças de reforma

17/02/2012 03:00 Atualizado: 05/09/2013 21:24
Xi Jinping, o vice-presidente chinês, atende o Fórum Econômico do Comércio China-EUA, recebido pelo prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa em Los Angeles, Califórnia (Robert Gauthier-Pool/Getty Images)
Xi Jinping, o vice-presidente chinês, atende o Fórum Econômico do Comércio China-EUA, recebido pelo prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa em Los Angeles, Califórnia (Robert Gauthier-Pool/Getty Images)

O vice-presidente da República da China terminará sua visita oficial aos Estados Unidos em 17 de fevereiro, uma visita que pode levantar mais questões do que dar repostas. O objetivo da administração Obama era o de conhecer Xi e construir com ele uma forte relação pessoal. Xi ainda não está no poder, mas está destinado a ser o próximo líder chinês, possivelmente pela próxima década.

Observadores sobre a China dizem que criar esta relação pessoal com Xi pode ser útil porque com a chegada de 2013 espera-se que as tensões entre a China e os Estados Unidos se tornem mais complexas. Mas até que ponto podem os Estados Unidos prever as decisões de um líder da China comunista é algo difícil de dizer.

Tentando avaliar o líder em potencial do Partido Comunista Chinês (PCCh), Dan Blumenthal, um analista sobre China que trabalha para o American Enterprise Institute (AEI) disse: “Ninguém sabe realmente quem é Xi e o que ele representa.”

Dan nota que os oficiais dos Estados Unidos tinham esperanças que o atual líder Hu Jintao fosse um reformista quando o mesmo visitou os Estados Unidos há uma década. Enquanto Hu supervisionou o crescimento econômico, ele também presidiu duros ataques à liberdade de expressão, práticas comerciais injustas e considerável deterioração dos direitos humanos.

As administrações norte-americanas desde então desistiram da ideia de Hu Jintao e do primeiro-ministro Wen Jiabao como reformistas, diz Blumenthal, acrescentando que agora suas expectativas recaem sobre o mais “cosmopolita” Xi. Mas Blumenthal está cético dizendo que sob um governo comunista a ideia de reforma é muito diferente da dos Estados Unidos.

Ele vê mais lutas internas entre facções ocorrendo na China e uma influência cada vez maior do Exército de Liberação Popular (ELP).

“Não vejo Xi e outros do gênero como reformistas”, diz Blumenthal.

Basquete e direitos

Xi está agendado para falar no Fórum Econômico do Comércio China-EUA em Los Angeles em 17 de fevereiro, em que estará presente o vice-presidente Joe Biden, que passou algum tempo com Xi na China no ano passado e é seu anfitrião oficial nesta visita aos Estados Unidos.

Xi concluirá sua visita assistindo a um jogo de basquete entre as equipes do NBA Phoenix Suns e Los Angeles Lakers.

Durante sua visita, Xi tem estado na defensiva no que diz respeito a direitos humanos e a assuntos quentes como Taiwan. O PCCh reclama a posse da ilha, uma posição que a maioria dos taiwaneses discorda. Os Estados Unidos estão decididos a defender Taiwan contra uma invasão do PCCh.

Xi levantou a questão de Taiwan durante o almoço na Câmara do Comércio dos EUA em Washington no dia 15 de fevereiro, dizendo que os Estados Unidos deviam seguir o princípio de “uma China” e tomar “ações concretas para se oporem à independência de Taiwan”. Também se referiu ao Tibete, propondo que os Estados Unidos respeitem sua pretensão de governar o Tibete.

A ameaça da opressão

O vice-presidente Biden encontrou-se com quatro proeminentes especialistas em direitos humanos antes da visita de Xi, publicando uma declaração que observava a deterioração dos direitos humanos na China. Ele reiterou publicamente as preocupações dos EUA sobre a situação dos direitos humanos na China durante o almoço em que recebeu Xi, no entanto, grupos de direitos humanos e ativistas acreditam que os EUA deveriam fazer mais.

O Dr. Yang Jianli, um dissidente chinês, diz que os Estados Unidos não devem tolerar a brutalidade do regime ao povo chinês.

“Um regime que oprime o próprio povo eventualmente constitui uma ameaça real para o mundo”, disse ele ao Epoch Times.

O Dr. Yang esteve entre as centenas de protestantes que se juntaram diante da Casa Branca durante a visita de Xi em 14 de fevereiro, os protestantes incluíam grupos de tibetanos, taiwaneses, praticantes do Falun Gong e uigures.

O Dr. Yang tem pouca esperança que Xi possa trazer mudança à China, enquanto aponta para os grupos e diz: “A violação dos direitos humanos na China é extensa, está por todo lugar […] isso é inaceitável. Essa é a minha mensagem a Obama e Biden.”

Ellen Bork, da organização pró-democracia Foreign Policy Initiative baseada em Washington, acredita que “esta visita nunca deveria ter ocorrido”.

Discursando no fórum da AEI, ela disse que a resposta dos Estados Unidos aos tipos de abusos que o povo na China incorre “não tem sido adequada às circunstâncias”. Bork, anteriormente ligada à Freedom House, acredita que uma forma de engajamento “muito pessoal” tem um carácter mais “processual” que “substancial”.

Ela gostaria de ver menos relacionamento entre figuras de alto nível e favorecer mais contatos entre pessoas e povos.

Derek Scissors, analista de assuntos chineses do Heritage Foundation, diz que se houve algo positivo proveniente da visita de Xi Jinping, foi sua visita a Iowa e Los Angeles.

Scissors acredita que os Estados Unidos sofrem de uma falta de estratégia coerente para lidar com a China e por isso mesmo tem sido incapazes de fazer progressos quanto a questões econômicas e comerciais entre os dois países, incluindo operações cambiais, violação de regras comerciais, roubo de propriedade intelectual e cibersegurança.

Até que as prioridades sejam o foco, ele acredita que a relação vai vacilar entre declarações amigáveis vazias e políticas ineficazes.

Contudo, “alargar o relacionamento além dos habituais círculos de poder dentro da China é positivo”, diz ele, porque permite que centros regionais tanto na China como nos EUA negociem diretamente.

Iowa pode concordar com isso. Durante sua vista a esse Estado, Xi anunciou planos para comprar 4,3 bilhões de dólares em soja, sendo este o maior negócio do gênero até a presente data.