A síndrome do pânico ou transtorno do pânico é um dos distúrbios de saúde que tem estado em voga ultimamente.
Muitas pessoas têm sofrido com o transtorno do pânico, e os tratamentos médicos têm tido resultados positivos com algumas delas. Mas, também têm tido pouco ou nenhum resultado com outras, e isso parece ter relação com o desconhecimento de alguns aspectos essenciais e das prováveis causas subjacentes desse distúrbio por parte dos médicos e de outros profissionais da saúde.
Uma crise de pânico se caracteriza por um conjunto de estados e sintomas relativos ao medo agudo, que surgem de forma súbita e intensa, deixando a pessoa com a sensação eminente de colapso, de morte, de desespero e de falta de autocontrole.
Interiormente, no início de uma crise de pânico, a pessoa tende a entrar em estado de alerta, devido a pensamentos de medo e de perda do autocontrole. Simultaneamente, ocorre um aumento brusco da produção de adrenalina, da frequência respiratória e cardíaca e outros, que podem vir associados a tremores, boca seca, tontura, mãos frias ou formigando, hiper-transpiração, pressão alta, pressão no peito, dor nas costas, entre outros sintomas.
A partir desse momento e nessa condição, a pessoa já está apresentando um medo profundo e intenso de ter um mal súbito, um colapso, até de morrer, e fica extremamente ansiosa, agitada, ansiando por uma ajuda competente, com necessidade de espaço amplo e livre, de ar puro e de um ambiente tranquilo e seguro.
Na verdade, os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, tanto na forma quanto na intensidade, mas, em geral, apresentam essas características.
Depois de experimentar esses estados durante uma crise inicial, a pessoa tende a se apavorar e achar que está com alguma doença grave, que a qualquer hora pode levá-la a um colapso e isso se transforma numa insegurança crônica, que passa a deixá-la preocupada, ansiosa e até deprimida, coisas que podem se tornar gatilhos para novas crises agudas de pânico.
Quando essas crises se tornam recorrentes, caracteriza-se a síndrome do pânico ou o transtorno do pânico.
Tratamentos convencionais
Os médicos e psiquiatras tendem a tratar o transtorno do pânico com antidepressivos e ansiolíticos (calmantes), para que a sensação de bem-estar e de calma possam promover uma nova estabilidade e autoconfiança na pessoa, auxiliando-a a enfrentar seus temores e ansiedades ao longo do tempo.
A psicoterapia também tem sido indicada como forma de tornar a pessoa mais consciente de seus estados interiores (estresse, tensão, preocupações) que podem estar na base de suas crises e também para que esta desenvolva novas formas de lidar com as situações que lhe parecem desfavoráveis.
Causas e características
Antes de tudo, precisamos entender que a síndrome do pânico é um estado emocional ou psicológico que tem intensas somatizações; ou seja: a maioria, senão a totalidade dos sintomas físicos que a pessoa experimenta (taquicardia, aperto no peito, tontura, formigamento no peito ou nas extremidades) são o resultado de estados psicológicos intensos e não doenças ou distúrbios que têm origem em más funções orgânicas verdadeiras.
Além disso, é preciso saber que a síndrome do pânico não é um estado definitivo, uma situação sem cura. Pelo contrário, muitas pessoas se compreenderam e amadureceram depois de viverem a síndrome do pânico por um tempo em suas vidas e hoje encontram-se totalmente saudáveis, lidando de forma ainda mais competente com a vida e com os problemas do que antes de terem tido o pânico, e sem precisar de quaisquer remédios.
É claro que existem pessoas que tendo vivido situações muito traumáticas (guerras, acidentes graves, ameaças mortais, catástrofes, torturas) têm muito mais dificuldades em curar-se; mas nada é impossível, e até mesmo essas, com um tratamento humano, multidisciplinar e bastante inteligente podem ter a chance de curar-se.
Os perfis psicológicos mais comuns que podem desenvolver a síndrome do pânico são: as pessoas que são educadas e polidas demais e estão, aparentemente, sempre alegres; os que não sabem dizer não e colocar limites aos outros; os inseguros, medrosos e os que temem a exposição social; os hipocondríacos; os que tiveram experiências muito traumáticas ou abusivas; os que estão sob forte ameaça de perder a vida (com doenças graves, ou ameaçados de morte); os que temem muito pelos entes queridos (e temem morrer repentinamente e deixá-los), e outros casos, onde as pressões e conflitos interiores são grandes e a expressão dos mesmos é quase nula.
Porém, o que, de fato, produz ou dá origem ao transtorno do pânico?
Uma peculiaridade das pessoas que apresentam o pânico são as somatizações. Mas, por quê?
Na verdade, uma das características mais fundamentais dessas pessoas é a inexpressão eficaz dos pensamentos, sentimentos e ansiedades. Ou seja: as pessoas que têm a síndrome do pânico não costumam expor ou expressar seus sentimentos, preocupações ou ansiedades de forma aberta e plena. Elas, normalmente, desejam manter uma aparência de tranquilidade, segurança e bem-estar, mesmo que interiormente estejam vivendo torturas mentais e emocionais. Em outros casos, mesmo que normalmente a pessoa expresse seus pensamentos e sentimentos com certa fluidez, ela pode estar passando por uma situação muito peculiar, que a impossibilita de abrir-se interiormente para expressar suas preocupações, tensões e problemas.
Em ambos os casos, o ponto chave parece ser a contenção, o represamento da expressão dos sentimentos, pensamentos e conflitos interiores, o que acaba gerando as somatizações e os sintomas físicos.
Todos os sentimentos e emoções provocam alterações orgânicas, positivas (sensação de bem-estar, leveza, relaxamento muscular, pressão arterial estável, disposição, vigor, saúde) ou negativas (elevação ou diminuição excessiva da pressão arterial, produção excessiva de adrenalina, contrações musculares, hipofuncionamento glandular, hiperexcitação orgânica).
Numa pessoa que tem preocupações crônicas, ansiedades e temores contínuos, cuja mente sempre está remoendo seus conflitos, as alterações no funcionamento do corpo se tornam crônicas e podem se intensificar com o tempo. Isso vai tornando o seu equilíbrio fisiológico mais instável ao longo do tempo.
Para que uma pessoa tenha a síndrome do pânico, os acúmulos das tensões e o aumento das situações de opressão, de angústia e de medo começam a chegar num nível onde a falta de resolução dos conflitos ou de desabafo e descarga de suas tensões interferem muito intensamente na fisiologia orgânica, sobrecarregando ainda mais os órgãos e estruturas com fortes tensões.
Num determinado momento, as tensões crônicas acumuladas e as tentativas de conter suas necessidades de desabafo e de descargas emocionais chegam a um nível difícil de suportar pela pessoa; nesse ponto as tensões terão que sair e se descarregar de algum modo, e, então, vêm as crises somáticas intensas: tonturas, transpiração excessiva, dores no peito, hipertensão, formigamento pelo corpo e outras. Vamos ilustrar a situação:
Muitas vezes, nós passamos por momentos onde as situações exteriores de nossa vida são muito delicadas, decisivas, de enorme pressão, ou estamos passando por tremendos conflitos, situações terríveis e não podemos nos abrir com ninguém, ou mesmo sentindo que não podemos contar com ninguém. Por exemplo: as ameaças que a amante vem fazendo de contar o seu caso para a esposa do marido; uma pessoa inocente que está sendo acusada de roubo e assassinato e pode, em breve, ir para a prisão; uma menina que é abusada pelo padrasto e sofre ameaças de morte para não contar nada à mãe; um empresário que se sente esmagado pela responsabilidade da vida de milhares de funcionários, quando sabe que está falindo.
Mas, temos que continuar com nossas vidas cotidianas, mantendo um certo comportamento normal e socialmente adequado. Porém, no fundo, estamos angustiados, apavorados, tensos, com tremenda tristeza ou sentindo-nos incapazes de suportar a situação por mais tempo.
Nessa situação, vamos ficando cada vez mais tensos, com a mente acelerada, acumulando e acumulando sentimentos. Nossa mente se torna extremamente agitada, ansiosa, e, às vezes até caótica e meio aturdida.
Como estamos com a nossa mente voltada quase que exclusivamente para a resolução desses conflitos internos, ficamos menos atentos ao mundo, menos sensíveis e até um pouco atordoados, devido a tantos pensamentos e sentimentos confusos.
Porém, quando estamos com os outros, em meio a situações sociais ou familiares, temos que fazer uma força tremenda para não deixarmos transparecer nossas dores, medos e profundas angústias, mas não conseguimos afastar-nos completamente de nossos intensos conflitos interiores. Mas, a exposição e o contato humano exigem abertura e expressão dos sentimentos e pensamentos das pessoas para que se configurem as relações.
Com essa divisão de forças e o esforço enorme para estar no meio dos outros, mantendo uma aparência de bem-estar, cria-se mais um conflito e a nossa tensão psíquica vai aumentando, alterando ainda mais as tensões em nossos órgãos e estruturas. Daí começamos a sentir pressão no peito, dor de barriga, garganta fechada, tontura, suor, mãos frias e quando nos damos conta estamos passando realmente mal.
Ainda assim tentamos segurar as coisas, o que só faz aumentar as pressões internas até o ponto que estamos por explodir. Então, começa a sensação de mal estar profundo, de colapso eminente, a necessidade de sair a qualquer momento do ambiente e buscar desafogo, respirar, sentar e deixar-se ir. Como a maioria das pessoas não tem consciência efetiva desse processo interior, quando os estados internos alterados chegam ao ápice, vem um profundo medo de que se esteja tendo um mal súbito, um colapso, um algo desconhecido que pode levar à nossa morte. Eis a crise de pânico.
O que fazer e como tratar a síndrome do pânico
Muitas pessoas têm uma noção superficial das causas da síndrome do pânico, por não observarem e nem conhecerem com maior profundidade a mente humana, e, assim, dizem que as crises ocorrem sem motivo aparente ou que podem ser resultado de desequilíbrios nos neurotransmissores ou até devido a fatores hereditários. Mas, isso é um engano que ocorre devido à visão materialista, mecânica e fragmentada da ciência moderna, que atribui tudo aos componentes físicos (hormônios, neurotransmissores, genes etc), sem enxergar as profundas e determinantes implicações da mente humana no organismo. As relações entre a psique e o corpo são totais, imediatas e indissociáveis.
Nós não somos absolutos em não aceitar que componentes físicos e orgânicos possam desestabilizar a mente. Sabemos que, por exemplo, as crises hipoglicêmicas, algumas alterações hormonais e certas deficiências em neurotransmissores podem ocasionar medos intensos, ansiedades e outros distúrbios mentais e de comportamento. Porém, todas essas coisas têm suas especificidades, podendo ser tratadas com critério e não devem ser confundidas com as raízes psicológicas que estão por trás dos inúmeros distúrbios psicossomáticos, tais como o que conhecemos como a síndrome do pânico.
É triste vermos profissionais da saúde não se interessando e nem interagindo com a pessoa que está em sua frente: disso resulta a incompreensão do que ocorre com ela e dos motivos reais de seu distúrbio, o que normalmente impossibilita o tratamento correto e a sua cura.
Sendo assim, muitos profissionais apenas receitam remédios ou estratégias que acalmam, refreiam ou entorpecem as pessoas, restringindo a sua superfície, sem dar-lhes um auxílio real e curativo. Mas, o uso isolado de remédios não cura as pessoas.
As estratégias bem sucedidas no tratamento da síndrome do pânico são aquelas que transmitem confiança humana, segurança e sentido de orientação sólida e coerente. E, junto com isso, são as que trazem consciência à pessoa – revelando suas posturas e conflitos internos -, que a ajudam a conhecer-se, a entender-se, a educar-se e desenvolver-se psicologicamente, tornando-a madura e competente para lidar com as diversas situações da vida e, inclusive, com alguma situação momentânea específica e difícil.
Um psicoterapeuta ou uma psicóloga competentes e humanos são ótimos profissionais para esse processo. Eles têm de ter interesse genuíno pelo paciente e serem sinceros para auxiliar no menor tempo possível o amadurecimento do indivíduo e a sua cura.
Da mesma forma, um terapeuta floral ou um terapeuta corporal experientes, que compreendam os conteúdos psicológicos e as somatizações, podem ser fundamentais para a cura da pessoa. A terapia floral é um recurso excelente para a diminuição das ansiedades, para o autoconhecimento, para a dissolução de padrões psicológicos negativos e o amadurecimento psíquico nesse processo. E a psicossomática pode ajudar a revelar rapidamente os padrões de inexpressão verbal e as somatizações associadas.
Muitos outros recursos naturais podem ser utilizados com excelente proveito para o auxílio da estabilização do indivíduo durante o tratamento da síndrome do pânico: as ervas medicinais, a acupuntura, a homeopatia, as massagens terapêuticas e outros.
Porém, em todos eles é preciso ter humanidade, interesse pelo ser humano, empatia, apoio, disposição e integridade, para que assim estabeleça-se uma confiança mútua e uma possibilidade de caminho de recuperação saudável.
Antes de qualquer técnica, droga ou terapia, o acolhimento humano é ainda o melhor remédio: com apenas um toque de humanidade, verdadeira e amorosa, é possível dissolver grandes conflitos, dores e males, que talvez os remédios levem anos para resolver.
Alberto Fiaschitello é terapeuta naturalista e cientista social