Chamam atenção dois fatos sobre a barbárie no presídio de Pedrinhas, onde 62 presos foram assassinados desde o fim do ano passado, três deles sendo degolados diante de câmeras de celular. O primeiro é a própria barbárie em si, mostrando que a civilização não suporta calor e pressão extremos.
O segundo foi o editorial da Folha mostrando que, enquanto presos eram torturados e decapitados, a governadora Roseane Sarney licitava 80 kg de lagosta e 1,5 tonelada de camarão.
Roseane Sarney subiu ao poder com apoio de Lula e Dilma, elegendo também um vice-governador petista, Washington Luiz, que renunciou para assumir uma vaga no Tribunal de Contas do Estado. Como observou Reinaldo Azevedo, ele deu-se bem: arrumou um emprego permanente até os 70 ano.
Na campanha foi martelado um discurso: “O Maranhão tem problemas, como todo o Brasil, e até São Paulo tem. Falta de saneamento, pobreza. Mas São Paulo não é só pobreza. E o Maranhão também não”. Ou seja, eram apenas “problemas diferentes”. A mensagem era que o Maranhão logo seria um estado rico, e que ele precisava de “amor”. Faltava amor no Maranhão – mas com Roseane tudo ficaria mais amado. Como disse Lula, José Sarney não é um “homem comum”. Seu feudo deixa isso claro.
Lula, Dilma, Roseane e Sir Ney, que amam tanto o povo e os pobres, não se posicionaram ainda sobre as decapitações. Pelo visto, porque amam mais os votos dos pobres do que os pobres. Lula e Dilma, que pediram votos para Roseane, ainda não entraram na mira da imprensa, da blogosfera e das discussões políticas. Cabeças deveriam rolar – metaforicamente, porque literalmente algumas já rolaram, como notou Rodrigo Constantino.
Roseane se elegeu e o Maranhão-com-amor não parece ter se concretizado. Nem a diminuição da pobreza – a não ser que o “amor” prometido por Roseane Sarney e Dilma Rousseff queira dizer que amam os pobres devidamente pobres, e não que querem que os pobres enriqueçam, já que os amam.
O que o governo de Roseane Sarney cogitava enquanto isso chega a ser mórbido: decidir para qual empresa pagará, com o dinheiro do pagador de impostos maranhense (dinheiro dos pobres do Maranhão!), jantares de luxo, como mostra a matéria: Em meio à crise, Roseana Sarney gasta R$ 1 milhão com iguarias culinárias.
O discurso propalado agora é o de que o Maranhão tem um problema: Sarney. O homem, no poder desde 1966, seja de forma direta ou indireta (na verdade, sua família é bem menos unida do que a já desunida família de ACM), transformou o Maranhão em um feudo onde tudo tem o nome “Sarney”. Mas essa leitura cega, que atinge um poderoso que esquerda e direita detestam, esconde um problema ainda maior.
Dá-se a impressão de que Roseane resolveu, espalhafatosamente, organizar alguns jantares chiques, por coincidência exatamente quando o estado passava por uma crise de violência que culminou com 40 ônibus incendiados e a morte da menina Ana Clara de Sousa, de 6 anos, que não conseguiu sair a tempo do ônibus enquanto criminosos, três deles menores de idade, ateavam fogo ao ônibus em que ela estava com a mãe. Seu pai não viu lógica no que fizeram. A esquerda, que explica tudo pela chave da “desigualdade social”, também não viu, e até agora se calou.
Mas não foi só isso o que aconteceu. O que acontece é que Roseane Sarney faz o tempo todo jantares chiques para receber empresários e figurões do establishment que gostam de ser bem tratados com o dinheiro do pobre pagador de impostos. Na verdade, todos os políticos viciados em estatismo, sob os diversos eufemismos usados (“encontro com executivos para incentivar a indústria com verba do contribuinte“), fazem isso.
Quando se defende “investimento”, “incentivo” e dinheiro público para gerir a economia, basicamente o que se faz é o que Roseane Sarney fez – empresário que faz contrato com o governo é peixe graúdo, e gosta de ser bem tratado, senhor.
Até as crenças em “redução da tarifa” de ônibus e metrô literalmente escondem o que acontece de fato: ao invés do usuário pagar a tarifa, vendo o quanto gasta, o governo pega o dinheiro de todos os pagadores de impostos e, noves fora e com encargos terceiros, “repassa” para os empresários mancomunados com o governo, que ganharão sem precisar concorrer no mercado e sem precisar oferecer um serviço decente para os usuários. E isso não acontece com encontros com churrasco grego e tubaína, e sim em jantares com lagosta.
Se você não tem dinheiro para comer lagosta você mesmo, pense se teria com os 40% que dá do suor do seu trabalho para o Estado gerir “projetos” por você, e depois dizer que está fazendo muito por um Brasil melhor, mais industrializado e moderno.
Choca-se agora com o esbanjamento de Roseane Sarney, mas o problema é o próprio Estado-Babá que serve para “consertar a desigualdade do mercado”. O resultado é esse: o dinheiro concentrado entre aquele que “não é um homem comum” e os que dependem do Estado lhes dar algumas migalhas (já que as empresas não concorrem entre si, a não ser para ver quem ganhará licitação para trabalhar para o Estado – uma espécie de concurso público para empresário).
Chamam a atenção as licitações de Roseane enquanto a barbárie corre solta no Maranhão, mas basta se lembrar de Dilma se hospedando em Roma em hotel cuja diária chega a até 7,5 salários mínimos, mesmo tendo podido se hospedar de graça na luxuosa embaixada brasileira, fazendo com que até um jornal espanhol, acostumado com a malversação do dinheiro público do esbanjador rei Juan Carlos, se assustasse com os gastos de Dilma, não-católica, que usou 52 quartos de hotel e 17 carros para ver o papa com o dinheiro dos eleitores apenas para fazer uma média entre seus eleitores católicos.
Basta lembrar que Dilma torrou R$ 22 mil por dia em suíte da Tiffany em Nova York, valor que equivale a 32,5 salários mínimos por dia, ou quase 700 Bolsas-Família. A presidente já achou suítes presidenciais gratuitas de 81 m² “acanhadas” – e em resposta fez tais gastos do governo serem “sigilosos”. Essas notícias não repercutiram na imprensa e nem foram motivo para o povo ir às ruas garantindo que cabeças rolariam. Metaforicamente. Isso num país com 50 mil homicídios por ano e arranca R$ 1,6 trilhão dos brasileiros por ano para sustentar esses gastos.
O que é toda a corrupção de um país extremamente corrupto perto do que fazem os presidentes do PT legalmente?
Claro, fora os gastos, resta ainda uma resposta à barbárie. De novo caímos no problema da crença no Estado, o único capaz de corrigir a “desigualdade” – até agora, mostrando que mortos, somos todos iguais. Se uma empresa fosse responsável pelo sistema penitenciário brasileiro ela já teria ido à falência, e sem dinheiro do pagador de impostos – assim como se um técnico de futebol fosse o responsável pelos programas de diminuição de pobreza, ele já estaria no olho da rua.
A “terceirização” maranhense só serve para empresas terem dinheiro do pagador de impostos mesmo sem oferecer um serviço que faça o cidadão querer pagar por tal serviço – o tal “mercado desigual”. Os estatistas (e péssimos estadistas) só usam os votos como arma política para se perpetuar no poder.
Na desocupação do Pinheirinho, em que a polícia, cumprindo uma decisão judicial, enfrentou uma multidão insuflada por sindicalistas radicais de partidos como PSTU (e até um assessor do ministro Gilberto Carvalho) sem que houvesse um ferido grave, todas as grandes autoridades petistas e progressistas correram para criticar a ação do governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin.
A ministra da Secretaria dos “Direitos Humanos”, Maria do Rosário (aquela que chamou o estuprador, seqüestrador, torturador e degolador Champinha de “uma criança”), criticou a ação e exigiu explicações. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deu declarações imediatas. O próprio Gilberto Carvalho falou. Nossa presidente Dilma Rousseff, que parece viver uma lua de mel em hotéis luxuosíssimos com nosso dinheiro, chamou a desocupação legal de “uma barbárie”. A blogosfera progressista, então, estava em chamas pedindo a cabeça do governador Alckmin.
Posteriormente, todas as denúncias de “tortura” e “mortes” se provaram fabricações manipuladas pelos mentirosos de sempre, que querem dirigir a opinião pública – e, misteriosamente, são todos a favor de mais controle nas mãos do Estado.
Agora que uma menina de 6 anos é morta queimada, sua mãe tem 40% do corpo queimado junto a várias outras pessoas em estado grave por atos terroristas no Maranhão da companheira Roseane Sarney, fora os 62 presos mortos com três decapitações, não ouvimos um pio de Maria do Rosário, fora ter achado “um horror” durante comentário na esquisitíssima e manipuladora exumação de João Goulart. José Eduardo Cardozo, Gilberto Carvalho e Dilma Rousseff, despachando de casa pela canseira, não ligaram ainda para o pai da menina Ana Clara, nem desejaram melhoras para a sua mãe. A blogosfera progressista não reclamou até agora dessa brutalidade. Pelo visto, quando as mortes se tornam reais, ela pára de se preocupar.
Talvez até estejam desfrutando de algumas lagostas e camarões em palácios movidos ao dinheiro de nossos 40% de impostos.
Flavio Morgenstern é analista político, redator e tradutor. É graduando em Letras germânicas.
Esse artigo foi originalmente publicado pelo site Implicante