O vice-presidente da Argentina, Amado Boudou, será levado a julgamento por suspeita de falsificação de documentos relativos à compra de um automóvel nos anos 90. O juiz Claudio Bonadio negou os pedidos de anulação do processo, aberto em agosto, e determinou que Tribunal Oral Federal 1 julgue o caso, última etapa antes de uma eventual condenação.
Caso o julgamento ocorra antes de dezembro de 2015, data que marca o fim do mandato da presidente Cristina Kirchner, será a primeira vez na história argentina que um vice vai enfrentar um julgamento. Ele pode pegar até seis anos de prisão.
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O juiz Bonadio é o mesmo que recentemente ordenou uma operação de busca e apreensão na sede de uma empresa que tem como sócia a presidente Cristina Kirchner. A ordem se baseou em uma denúncia de que a empresa operava de maneira irregular e não divulgava balanços patrimoniais. A atitude do juiz provocou a ira do governo.
A própria Cristina Kirchner tratou de revelar que Bonadio também era sócio em uma empresa que também não divulgava balanços. Já os problemas de Boudou na Justiça são bem mais graves. O processo por falsificação de documentos é um dos três que ele responde na Justiça. As primeiras investigações sobre o caso foram abertas em 2009.
No início do ano, Boudou chegou a prestar um depoimento em que culpou os despachantes que cuidaram da transação envolvendo seu carro. Mas o juiz Bonadio acabou entendendo que Boudou usou um formulário falso e com datas alteradas para transferir para seu nome um veículo Honda CRX Del Sol ano 92. De acordo com o juiz, peritos apontaram irregularidades na documentação apresentada por Boudou à época da transferência.
A Justiça suspeita que no final dos anos 90, Boudou, que à época estava se divorciando, mudou propositalmente a data no documento de compra de 1993 para 1992 para não ter que dividir o veículo com sua ex-mulher, registrando assim que a transação teria ocorrido antes do seu casamento. Um dos erros apontados é que na data forjada para a compra – outubro de 1992 –, o veículo nem estava na Argentina: aguardava transporte do Japão para a América Latina.
Além de Boudou, a Justiça decidiu processar Agustina Seguin, uma ex-namorada de Boudou que utilizava o carro à época da tramóia, e María Graciela Taboada de Piñero, a despachante que comandou a transação. Boudou também está enrolado na Justiça por causa do chamado “Caso Ciccone”, que em junho resultou na abertura de um processo criminal por suspeita de corrupção.
Em julho de 2010, durante uma investigação de vantagem comercial indevida, o Fisco argentino pediu à Justiça a quebra do sigilo da gráfica Ciccone, que mantém contratos com o governo e vende papel moeda ao Banco Central argentino. A Justiça suspendeu o pedido três meses mais tarde por solicitação da própria empresa, que negociou um plano de pagamentos de multas à Receita.
Uma investigação descobriu que o Ministério da Economia, pasta então ocupada por Amado Boudou, teria pressionado o Fisco para favorecer a empresa. Depois do episódio, a companhia foi vendida para o fundo de investimentos The Old Fund, presidida por Alejandro Vandenbroele, que é apontado como testa de ferro do próprio Boudou, embora o vínculo tenha sido negado pelo vice-presidente.
Amado Boudou deixou a pasta de Economia depois das eleições de 2011 para ocupar a vice-presidência, mas as denúncias ofuscaram sua carreira política e seus planos de suceder Cristina Kirchner na Presidência do país. Boudou também responde por corrupção em um terceiro processo.
A denúncia afirma que o vice administrou de forma irregular uma quantia de dinheiro público destinada à construção de 600 casas e quatro escolas. A sucessão de denúncias e processos contra o vice já fizeram a oposição argentina pedir em várias oportunidades para que Boudou renuncie, mas o vice vem resistindo e a própria Cristina Kirchner não sinaliza que está disposta a abrir mão do seu protegido.
Editado por Epoch Times