O colapso global das taxas de transporte e o excesso da oferta geral de navios, bem como a desaceleração da economia chinesa, estão forçando cada vez mais construtores navais a fecharem suas empresas.
De acordo com um artigo do Diário Metropolitano do Sul, um jornal da região do Delta do Rio Pérola, no sudeste da China, o gerente-geral Tan Zuojun da Corporação Estatal de Construção Naval da China disse recentemente que 50% dos construtores de navios chineses do continente fecharão nos próximos 2-3 anos.
Um funcionário da Secretaria de Economia e Tecnologia da Informação de Taizhou disse ao 21cbh.com que as empresas estão funcionando em tempo emprestado. Alguns ainda têm ordens antigas para completar, pois o ciclo de construção de um grande navio pode levar vários anos, mas sem novas encomendas chegando, o número de empresas que falirão pode ser ainda maior do que o previsto.
Devido ao longo tempo de construção, o setor de construção naval está propenso a grandes ciclos de crescimento e falência, já que a produção não pode ser ajustada rapidamente. Neste momento, há um excesso persistente de navios e capacidade produtiva no mercado global. Apenas a China continental tem capacidade suficiente para atender a demanda do mundo todo por novos navios, como foi noticiado por um jornal da indústria de navegação chinesa.
Segundo o China Economic Weekly, empresas estatais e privadas da China continental entraram no negócio de construção naval em grande escala no início de 2007. Baseando-se em baixos custos de matérias-primas e mão de obra subvalorizada, a indústria cresceu aos saltos.
Em 2010, a indústria de construção naval chinesa ultrapassou a Coreia do Sul como líder mundial em capacidade total de construção naval. Durante seu auge, havia mais de 3400 empresas de construção naval na China em comparação com 329 estaleiros, incluindo diferentes estaleiros de uma mesma empresa nos Estados Unidos hoje, segundo dados do website Shipbuildinghistory.com.
No entanto, dois anos mais tarde, navegar não é mais tão bom para a indústria de construção naval chinesa. Dados divulgados pela Associação da Indústria de Construção Naval da China em 28 de agosto mostram que durante os primeiros sete meses deste ano, os três principais indicadores relativos à produção e encomendas apontavam para baixo.
A capacidade total concluída foi de 35,49 milhões de toneladas, uma queda 7,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Novos pedidos totais foram de 11,64 milhões de toneladas, uma queda de 50,7% em relação ao ano passado. A relação de encomendas atuais é de 123,48 milhões de toneladas, uma queda de 29,9% em relação ao ano passado.
A situação é bastante desoladora, segundo Zhang Yongfeng, o vice-diretor de análise de mercado do Centro de Pesquisa Naval Internacional de Shanghai. Ele disse ao Time Weekly em julho deste ano, “Com a indústria naval mundial em queda contínua, os construtores chineses estão entrando num inverno muito frio: É difícil conseguir encomendas, difícil satisfazer encomendas e é difícil financiar; os custos são elevados e o lucro baixo.”
Esses fatores colocam enorme pressão econômica sobre estas empresas de capital intensivo. Com a interrupção do fluxo de novos pedidos, muitas empresas de construção naval da China foram fechadas ao longo do ano passado.
De acordo com um artigo do Chinese Economic Weekly de 4 de setembro, os principais fatores que afetam a indústria de construção naval chinesa são apertadas normas de empréstimo, uma redução de novas encomendas e a dificuldade de satisfazer ordens antigas; e maiores custos de produção e financiamento deficiente são algumas das razões para atrasos, que geralmente geram pesadas sanções. A previsão mais pessimista diz que o número de empresas de construção naval cairá de 3400 em seu pico para menos de 300, segundo o relatório.
Dados divulgados pela Secretaria de Economia e Tecnologia da Informação da cidade de Leqing, na província de Zhejiang, colocam algumas cores neste prognóstico sombrio: Entre as 23 empresas de construção naval em Leqing, 13 ainda operavam normalmente no início deste ano, mas agora há apenas 7 permanecem, já que mais de dois terços das empresas pararam a produção.
Hu Jintao, diretor do Instituto de Pesquisa e Design de Navios Mercantes de Shanghai, disse ao Dongfang Daily, um jornal local em Shanghai, que 2012 é apenas o começo e piorará em 2013 e 2014.
Especialistas sugerem que o desenvolvimento acelerado das indústrias pesadas chinesas lembra o infame “Grande Salto para Frente” da década de 1960, quando a China estabeleceu metas ambiciosas para a produção de indústria pesada que sem a infraestrutura necessária resultou numa fome que matou milhões de pessoas.
Hoje, a China constrói principalmente navios de grande porte e baixo valor agregado e não tem a tecnologia necessária que proporciona vantagem.
Num fórum realizado em 15 de dezembro de 2011 na cidade de Taizhou, província de Jiangsu, um dos maiores especialistas na área, Shen Wensun da Academia Chinesa de Engenharia, disse, “No que diz respeito a tecnologias-chave na concepção, pesquisa, fabricação e desenvolvimento de componentes fundamentais de navios, [a China] ainda fica atrás da Europa, Japão, Coreia do Sul e outros países avançados e regiões. […] Há muitos empresas imitadoras que não possuem inovação e a maioria permanece nos estágios iniciais”, segundo um artigo da Cansi.
No mesmo evento, o acadêmico Zhang Bingyan da Academia Chinesa de Engenharia disse que aumentar a eficiência energética e reduzir a poluição são as grandes tendências em design de novos navios e que aqueles que não têm estas tecnologias não conseguirão nenhum novo pedido.