Venezuela pós-Chávez e a oportunidade de mudança

07/03/2013 14:04 Atualizado: 07/03/2013 15:33
Venezuelanos se reúnem num cortejo por Hugo Chávez a caminho da Academia Militar em Caracas, Venezuela, em 6 de março (Juan Barreto/AFP/Getty Images)

A passagem do presidente venezuelano Hugo Chávez abre oportunidades para esta nação sul-americana rica em petróleo poder mudar suas alianças globais, algo que deveria ser incentivado, segundo alguns observadores.

A Constituição da Venezuela estipula que uma eleição ocorra dentro de 30 dias após a morte de Chávez para escolher seu sucessor.

O vice-presidente Nicolas Maduro, sucessor escolhido de Chávez com tendências socialistas, já é o presidente interino. Se ele continuar como líder, é provável que continue a campanha de seu ex-chefe contra os EUA e o “imperialismo” ocidental na América Latina, e permaneça acolhedor com países como China, Cuba, Rússia e Irã.

Os sentimentos antiestadunidenses de Chávez muitas vezes resultaram numa erupção de acusações, como culpar testes militares norte-americanos pelo terremoto de 2010 no Haiti.

Certa vez, ele disse que não ficaria surpreso se o governo norte-americano houvesse secretamente espalhado câncer na América Latina – o câncer do qual ele acabou sucumbindo. Nem ele teria sido surpreendido ao saber que “havia civilização em Marte, mas […] o capitalismo chegou lá, o imperialismo chegou, e acabou com o planeta”.

Chávez manteve o poder tão firme que ele ia para seu quarto mandato em outubro passado, embora não pudesse deixar sua cama de hospital para a cerimônia de posse.

Oposição e oportunidade

Enquanto se espera que Maduro leve adiante o legado de Chávez se for eleito, isso não é provável se seu principal adversário, o líder da oposição Henrique Capriles, ganhar.

Capriles poderia rever o lugar da Venezuela no mundo ou pelo menos reformar as relações com alianças tradicionais. Ele disse em sua campanha presidencial do ano passado que quer rever contratos feitos com a China, a Rússia e outras nações, para estar mais de acordo com os interesses venezuelanos.

Roger Noriega, ex-secretário-adjunto de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental (Canadá, América Latina e Caribe) e ex-embaixador dos EUA junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), diz que agora é o momento para os Estados Unidos motivarem a mudança na região.

“A administração Obama é […] avessa a assumir um papel de liderança neste tipo de questões e provavelmente seus instintos são de que temos algum tipo de bagagem na América Latina – o que não é verdade”, disse Noriega num vídeo publicado no website do Instituto Empreendedor Americano (AEI) um dia após a morte de Chávez.

Ele diz que os países latino-americanos esperam que os Estados Unidos assumam um papel de liderança e que outras nações ocidentais apoiariam uma campanha norte-americana para exigir que os “chefões do narcotráfico” e redes iranianas e do Hezbollah sejam expulsas.

Os Estados Unidos mantêm alguma influência na Venezuela.

As relações comerciais EUA-Venezuela viram episódios espinhosos – Chávez nacionalizou as participações norte-americanas da Exxon e de outros e Washington impôs sanções ao petróleo estatal da Venezuela após ela fornecer petróleo ao Irã em 2011.

Apesar desses atritos e das visões antiestadunidenses de Chávez, “[Chávez] foi inteligente o suficiente para nunca cortar o comércio com Washington, o parceiro comercial mais importante da Venezuela”, diz Daniel Greenberg, fundador do Instituto de Estudos da América Latina da Universidade Pace em Nova York, num comunicado divulgado na quarta-feira.

A Venezuela continua sendo um dos maiores fornecedores de petróleo para os Estados Unidos e os dois países cooperam em áreas de interesse mútuo, como o narcótico, contraterrorismo, comércio e energia.

Enquanto forças pró-Chávez trabalham contra a oposição, esta pode estar à procura de amigos. Partes interessadas começaram a se preparar para a morte de Chávez quando o líder ainda lutava contra o câncer.

Em abril passado, generais fortemente envolvidos no comércio de drogas já tramavam medidas repressivas contra a oposição para preservar seu poder, como foi observado numa discussão organizada pela AEI em Washington DC na época.

Noriega foi parte dessa discussão. Ele também informou que os chineses exigiam novas garantias num empréstimo de quatro bilhões de dólares, segundo suas fontes na Chancelaria venezuelana. Os chineses queriam garantias de que um “governo pós-Chávez honrará seus queridos acordos”, disse Noriega.

Dos aliados da Venezuela, aquele que talvez tenha mais em jogo é a China.

Interesses petrolíferos da China

Sob o governo de Chávez, o Tesouro venezuelano desenvolveu uma necessidade premente por dinheiro para manter ambiciosos programas sociais voltados para as classes menos favorecidas da Venezuela. Chávez, portanto, abriu a porta para os investidores em países aliados, particularmente a China, permitindo que esta comprasse petróleo venezuelano bem abaixo dos preços de mercado.

O apoio técnico e financeiro chinês desempenhou um papel chave para manter o regime de Chávez em funcionamento.

O interesse da China em Chávez é claro: a Venezuela tem as maiores reservas mundiais de petróleo. Suas reservas de petróleo atingiriam 296,5 bilhões de barris em 2010, superando os 264,5 bilhões de barris da Arábia Saudita, segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Na segunda metade do governo de 14 anos de Chávez, a China se tornou um jogador importante na indústria de petróleo da Venezuela. Hoje, a China importa dez vezes mais petróleo da Venezuela do que cinco anos atrás. Por outro lado, os Estados Unidos importam 40% menos do que há uma década. Nos próximos dez anos, a China pretende dobrar as importações.

Pequim tem feito o que pode para garantir que o petróleo continue fluindo num futuro pós-Chávez. Pequim fez grandes empréstimos para a Venezuela, totalizando 38 bilhões de dólares em abril de 2012. Esses empréstimos são todos pagos em petróleo.

Em 2014, a Venezuela será obrigada, por causa dos empréstimos chineses, a produzir mais de 500 mil barris por dia, bem abaixo dos preços de mercado.

Se eleições forem realizadas – o que é de se esperar para ver – e Capriles vencer, renegociar esses acordos seria um grande desafio.

Greenberg acha que Capriles teria uma boa chance contra Maduro, o escolhido sucessor de Chávez, que carece de talentos de liderança. Então, há certa oportunidade de mudança.

“Se Capriles ganhar”, diz Greenberg, “as reformas de Chávez provavelmente serão expandidas ao invés de desmanteladas. De qualquer forma, a Venezuela sem Chávez será um lugar muito diferente.”

Com reportagem de Gary Feuerberg.

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