Nicolás Maduro mandou imprimir 3 milhões de posters contendo pinturas do ex-presidente Hugo Chávez. Isso mesmo que você leu. As pinturas são obras do pintor cubano Dancel Valdés e foram dadas como “presente” de Natal à população.
O anúncio da empreitada foi realizado durante uma aparição pública do presidente em uma etapa da Gran Misión Barrio Nuevo Tricolor, um programa de urbanização focado em bairros de grandes cidades, e foi transmitido ao vivo pela TV. As obras de Dancel estavam dispostas atrás do presidente e são compostas de árvores, rochas e montanhas, que compõem uma imagem com os contornos da face e do busto do ex-presidente Chávez.
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Conforme o presidente anunciou, as 3 milhões de cópias foram dadas à população como um presente natalino, integrando as diversas ações do governo do país para o natal deste ano.
“Iniciaremos com uns três milhões de posters que contêm um pensamento bem bonito sobre nosso comandante [Hugo Chávez]. Vamos levá-los como um presente de natal ao povo da Venezuela.”
Segundo o chefe de Estado, a ideia de distribuir as obras pelo país na forma de cartazes veio da ministra do Poder Popular para a Comunicação e Informação, Jacqueline Faría, e que o trabalho aparece como uma forma de oposição à atual crise enfrentada pelo país.
“Essa obra foi produzida em 2014, em meio à mais bárbara e agressiva guerra econômica contra o povo Venezuelano. […] Com ou sem os gringos, a Venezuela seguirá seu rumo de construir-se desde dentro, com amor.”
O presidente ainda afirmou que pretende expandir as ações do programa Gran Misión Barrio Nuevo Tricolor no próximo ano, aumentando a cobertura das ações para atingirem 3 milhões de famílias, contra as atuais 1 milhão e 110 mil beneficiadas pelos projetos de integração urbana.
Entre as obras da Gran Misión incluem-se a criação de corredores, que são agrupamentos urbanos para “fortalecer o poder popular e consolidar uma cultura urbana e revolucionária, para o desenvolvimento de uma consciência socialista”. Os trabalhos incluem a criação de cooperativas e comunas, como forma de aprimorar a distribuição de alimentos entre as comunidades.
Segundo dados do próprio governo, já existem mais 70 corredores espalhados pelo país, número que deve aumentar para 200 até o final de 2015.
Essa não é a primeira polêmica envolvendo o governo venezuelano com o Natal. No ano passado, como ação do então recém inaugurado Ministério da Suprema Felicidade, Maduro decretou uma nova data para o Natal – o 25 de dezembro, dia em que se comemora o nascimento de Cristo, deu lugar para o 1º de novembro. Para justificar a ação, Maduro declarou que antecipar a celebração do Natal daria ânimo aos venezuelanos e criaria um ambiente de festa.
“O Natal antecipado é a melhor vacina para aqueles que querem inventar tumulto e violência. Aqueles que andam amargurados por aí terão uma canção natalina para alegrar a alma.”
Na Venezuela, o chavismo atua como uma verdadeira religião. No ano passado, para celebrar a memória de seu mentor, Maduro chegou a comparar Hugo Chávez com Jesus Cristo.
“O presidente Chávez está no céu. Eu não tenho nenhuma dúvida de que, se há um homem que passou por esta Terra e que tenha mérito suficiente para que o Cristo Redentor lhe desse um assento ao seu lado, este foi o nosso redentor e libertador do século XXI, o comandante Hugo Chávez.”
Também no ano passado, antes de “revelar” ao mundo que o rosto de Chávez havia aparecido em uma obra do metrô de Caracas, Maduro declarou que o falecido presidente havia lhe aparecido como um passarinho.
“Senti-o aqui como uma bênção, nos dizendo: ‘hoje começa a batalha. Rumo à vitória. Vocês têm nossa bênção’. Eu o senti da minha alma. De repente entrou um passarinho, pequenininho, e me deu três voltas aqui em cima – disse apontando para a cabeça. O pássaro – continuou Maduro – parou em uma viga de madeira e começou a cantar, um assobio lindo. Fiquei vendo-o e também cantei para ele, então. ‘Se você canta eu canto’, e cantei. O passarinho me estranhou? Não. Cantou um pouquinho, deu uma volta e foi embora e eu senti o espírito dele.”
Antes disso, na escolha do cardeal Jorge Mario Bergoglio como primeiro Papa sul-americano, Maduro declarou que Chávez havia influenciado sua eleição nos céus.
“Nós sabemos que nosso comandante ascendeu até essas alturas (o céu), está frente a frente com Cristo. Alguma coisa influenciou para que fosse escolhido um Papa sul-americano, alguma mão nova chegou e Cristo lhe disse: chegou a hora da América do Sul. Assim acreditamos.”
Maduro ainda acrescentou, em tom de brincadeira, que Chávez provocaria uma revolução nos céus.
“A qualquer momento (Chávez) convocará uma constituinte no céu para mudar a Igreja no mundo e que seja o povo, o puro povo de Cristo que governe o mundo.”
Em setembro desse ano, numa cerimônia do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), chavistas lançaram a “Oração do delegado”, uma versão da oração cristã Pai Nosso em homenagem a Chávez.
A oração se inicia clamando por “Chávez nosso que estais no céu, na terra, no mar e em nós, os delegados e delegadas”. Os versos suplicam para que o nome do ex-presidente seja santificado e seu legado levado até outros povos e encerram pedindo “e não nos deixeis cair na tentação do capitalismo, mas livrai-nos da maldade da oligarquia, assim como do crime e do contrabando, amém”.