Venezuela depois de Chávez, um lugar bastante incerto

19/04/2012 03:00 Atualizado: 19/04/2012 03:00

Hugo Chávez, o presidente venezuelano, é visto fazendo um discurso em Caracas, em 14 de setembro de 2011, depois de receber várias sessões de tratamento de quimioterapia em Cuba. (Leo Ramirez/AFP/Getty Images)Maciços investimentos da China feitos com Chávez, que está com câncer, podem estar em perigo

WASHINGTON – Hugo Chávez parece decidido em controlar o futuro da Venezuela, mesmo estando com câncer, e nenhum país seria mais feliz se ele pudesse do que a China. Ao longo dos últimos anos, Pequim tomou um grande interesse em manter o regime de Chávez à tona, principalmente para manter vivo os queridos negócios do petróleo venezuelano que Chávez assinou com a China.

Agora, dada a situação comprometida de Chávez, e a luta para preencher o vácuo de poder que vem, a Venezuela enfrenta um futuro complicado e potencialmente perigoso e a China também deve decidir como jogá-lo.

 

Interesses petrolíferos da China

Desde que chegou ao poder em fevereiro de 1999, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, fez campanha contra o “imperialismo” norte-americano e Ocidental na América Latina. Seu poder e popularidade são construídos sobre discursos inflamados, a nacionalização de indústrias estratégicas, a criação de alternativas instituições regionais, e a construção de programas sociais destinados a manter seu apoio popular.

Ele convidou os países afins, tais como Cuba, China, Rússia e Irã, para o país, e deslocou os investidores norte-americanos, europeus e até mesmo locais. O apoio técnico e financeiro da China desempenha um papel chave em manter o regime.

Roger F. Noriega serviu como secretário-assistente de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental de julho de 2003 a outubro de 2005 e como embaixador dos EUA junto à Organização dos Estados Americanos, de 2001 a julho de 2003. Um pesquisador visitante no American Enterprise Institute (AEI), o Embaixador Noriega fez uma palestra em 12 de abril no AEI intitulada ''Depois de Hugo Chávez: Avanço estratégico da China na Venezuela''. (Gary Feuerberg/The Epoch Times)Chávez tem desenvolvido uma necessidade premente de dinheiro para manter seus programas populares com os pobres da Venezuela. Para conseguir isso, ele entrou em acordos que permitem a China comprar petróleo venezuelano bem abaixo dos preços de mercado.

A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo. Suas reservas de petróleo comprovadas atingiram 296,5 bilhões de barris em 2010, superando os 264,5 bilhões de barris da Arábia Saudita, de acordo com a OPEP.

Nos últimos seis a oito anos, a China tornou-se um jogador importante na indústria de petróleo da Venezuela. Hoje, a China importa 10 vezes mais petróleo venezuelano do que cinco anos atrás. Em contraste, os Estados Unidos importam 40% menos em comparação a uma década atrás. Nos próximos 10 anos, a China pretende dobrar as importações.

O comércio bilateral entre a China e a Venezuela também tem acelerado. O comércio bilateral aumentou de 85,5 milhões em 1999 para 103 bilhões em 2010.

“A China tornou-se a fonte mais importante da Venezuela de apoio financeiro enquanto Chávez enfrenta o caos financeiro de sua própria criação, e precisa aumentar os gastos domésticos na véspera de uma eleição”, disse Roger Noriega, que serviu como embaixador dos EUA junto à Organização dos Estados Americanos em 2001-2003. Noriega foi um palestrante no American Enterprise Institute (AEI), em Washington DC, em 12 de abril, numa discussão sobre o que a China perderia quando Chávez morresse.

A estratégia de Pequim tem sido a de fazer o que puder para garantir que o petróleo continuará fluindo num futuro pós-Chávez. Pequim fez grandes empréstimos à Venezuela, totalizando agora 38 bilhões de dólares. Esses empréstimos devem ser todos pagos em petróleo.

Os grandes empréstimos que a China fez à Venezuela desde 2007 foram amarrados para futuros fornecimentos de petróleo venezuelano, segundo o Dr. Evan Ellis, que falou no fórum da AEI. Ellis é uma autoridade no comércio China-Venezuela, e autor de “China na América Latina: Os quês e porquês”.

Evan Ellis é professor de estudos de segurança nacional, jogos, modelagem e simulação do Centro de Estudos do Hemisfério de Defesa. O Dr. Ellis fez uma palestra em 12 de abril no AEI sobre ''Depois de Hugo Chávez: Avanço estratégico da China na Venezuela''. (Gary Feuerberg/The Epoch Times)Um contrato de empréstimo de 20 bilhões de dólares fechado em abril de 2010, por exemplo, será pago de volta em 10 anos na forma de 100 mil barris de petróleo por dia. Em junho de 2010, os 8 bilhões de dólares que o regime chinês contribuiu para o Fundo de Investimento Bruto venezuelano através do Banco de Desenvolvimento da China está sendo amortizado em embarques de petróleo na média de 100 mil barris por dia. Em 2014, a Venezuela será obrigada por causa dos empréstimos chineses a produzir mais de 500 mil barris por dia, bem abaixo dos preços de mercado.

“A China contribuiu com 24 bilhões de dólares para o fundo secreto lamacento de Chávez pelo último ano e meio”, de acordo com a introdução do evento da AEI de 12 de abril.

A China também está emprestando bilhões para construir a infraestrutura para extrair o petróleo e os minérios e manter “o governo venezuelano colaborativo no poder”, diz Ellis. Os projetos incluem ferrovias que ligam o litoral noroeste e o interior, expansão do porto (Porto Cabella), refinarias e instalações de mistura, plataformas petrolíferas, e mapeamento para a exploração de mineração.

“Como eles forneceram quantidades cada vez maiores de capital para o governo de Chávez, Pequim tornou-se cada vez mais ativa no controlo de como o dinheiro está sendo usado”, escreveu Ellis num resumo para a Fundação Jamestown em setembro de 2011.

Os pacotes de empréstimos em geral estão sendo reembolsados nas entregas de petróleo venezuelano em áreas que as empresas chinesas estão realizando a produção, Ellis escreve. O regime chinês estruturou o empréstimo para minimizar o risco de não ser pago. Normalmente, um país inadimplente de um empréstimo do FMI ou do Banco Mundial se recusa a enviar o dinheiro, mas “para a Venezuela dar calote na China, seria necessário prevenir ativamente a China de extrair petróleo da Venezuela”, escreve Ellis.

Morte iminente de Chávez

Pequim, é claro, não pode controlar que Chávez sucumba de câncer. Com duas operações de câncer em um ano, Chávez está se apagando. Uma eleição está marcada para 7 de outubro, e é uma incógnita em que estado Chávez estará até lá.

Com o futuro tão incerto, Pequim está calculando a melhor forma de jogar a situação.

Noriega afirma que suas fontes no Ministério das Relações Exteriores venezuelano dizem que os chineses estão exigindo novas garantias que o empréstimo de 4 bilhões de dólares seja negociado agora. Os chineses querem garantias de que um “governo pós-Chávez vai honrar seus acordos queridos”.

Os generais militares, que estão fortemente envolvidos no narcotráfico, não estão esperando e já consideram Chávez como morto. Eles estão planejando medidas repressivas contra a oposição para preservar seu poder a todo custo, diz Noriega.

A oposição está unida em torno do Governador Henrique Capriles do estado de Miranda, que ganhou o primeiro turno das eleições de seu partido de forma convincente em fevereiro. Ele disse que os contratos com a China, Rússia e outras nações seriam revistos, para estarem em consonância com os interesses venezuelanos. As pesquisas mostram que Capriles ainda está atrás de Chávez em popularidade, mas isso pode mudar como as pessoas percebendo que Chávez não durará mais um mandato de seis anos.

“A China desligaria a máquina de Chávez, sabendo que o resultado garantiria a derrubada de Chávez?” pergunta Ellis. Deveria a China fazer amizade com a oposição, esperando que eles possam ganhar?