Venezuela, a caminho do primeiro calote de 2015

10/01/2015 11:28 Atualizado: 10/01/2015 11:28

O ano poderia ter começado melhor para a República Bolivariana da Venezuela, também conhecida como um paraíso operário socialista onde os trabalhadores carecem de papel higiênico e outros itens básicos.

Os dados econômicos oficiais recentes do banco central são absolutamente devastadores. A economia encolheu 4% nos primeiros nove meses de 2014 em comparação com o mesmo período de 2013. A inflação anualizada em novembro foi de 73,5%. Mais uma vez estes são números oficiais, portanto, a realidade deve ser muito pior.

Como resultado, os preços dos títulos caíram pela metade e os mercados de crédito consideram uma probabilidade de 90% de inadimplência – a falha do pagamento da dívida pública – dentro de um ano, enquanto a Venezuela tem de pagar dívidas de US$ 30 bilhões em moeda estrangeira em 2015. As reservas de moeda – recentemente alavancadas por um empréstimo de US$ 4 bilhões da China – encolheram para US$ 22 bilhões, a maior parte deste valor em ouro, que não está à venda. A dívida externa total vale US$ 112 bilhões.

Enquanto a inflação e as estatísticas econômicas pintam um quadro razoavelmente preciso, as autoridades se recusam a aceitar a realidade nos mercados de divisas. A taxa do bolívar venezuelano em relação ao dólar no câmbio oficial ainda está fixada em 6,3. O mercado negro comercializa-o por 173, mais do que o dobro de 75 do início de 2014.

Pelo menos os títulos estão indo bem. A Bolsa de Valores de Caracas subiu 45% em 2014, e 475% em 2013. É claro que esse quadro cor de rosa não reflete a realidade do cotidiano de milhões de venezuelanos que experimentam a escassez de bens de todos os tipos diariamente. A maioria deles não possui ações, mas mesmo aqueles que possuem perderam quase 20% em termos reais, enquanto a inflação aumentou mais rapidamente do que os preços no mercado de ações este ano.

A presidente argentina Cristina de Kirchner e o presidente venezuelano Nicolás Maduro durante a 47ª Cúpula do Mercosul, em Entre Rios, Argentina, em 17 de dezembro de 2014. Durante anos, a economia ineficiente da Venezuela foi sustentada por um preço relativamente alto do petróleo, que agora sofre com a queda dos preços (Juan Mabromata/AFP/Getty Images)
A presidente argentina Cristina de Kirchner e o presidente venezuelano Nicolás Maduro durante a 47ª Cúpula do Mercosul, em Entre Rios, Argentina, em 17 de dezembro de 2014. Durante anos, a economia ineficiente da Venezuela foi sustentada por um preço relativamente alto do petróleo, que agora sofre com a queda dos preços (Juan Mabromata/AFP/Getty Images)

Choque do petróleo

Durante anos, a economia ineficiente da Venezuela foi sustentada por um preço relativamente alto do petróleo. Após a queda de preços chocante do ano passado, a Venezuela agora está vendendo petróleo a 48 dólares por barril e todas as feridas estão sendo expostas.

O orçamento da Venezuela depende do petróleo mais do que qualquer outro país – 96% provém das receitas do petróleo. E o orçamento tem grande importância num Estado em que a maioria das indústrias é nacionalizada e todos dependem da redistribuição dos escassos recursos do governo.

No entanto, por causa do controle de preços, controles de câmbio, bem como a nacionalização, os empresários mais produtivos deixaram o país há muito tempo. É por isso que a Venezuela agora tem de importar quase tudo [exceto energia], o que era possível fazer desde que o dinheiro estrangeiro continuasse fluindo por causa das receitas do petróleo.

Impressora mágica

Este não é mais o caso e a Venezuela não pode encobrir isso. Para pagar as importações, você precisa de dinheiro estrangeiro e isso você só consegue se exportar algo de valor. Isso não significa que você não pode tentar, é claro.

A maneira preferida de tentar encobrir uma política econômica abismal para qualquer república das bananas é recorrendo à impressora. De novembro de 2013 a novembro de 2014, o período em que os dados estão disponíveis, o banco central da Venezuela aumentou seu balanço em 35%, o que significa que ele imprimiu 437 bilhões de bolívares para financiar os gastos do governo.

Até aí estaria tudo muito bem e elegante, se houvesse algo que o governo pudesse comprar com os bolívares. Como a Venezuela não produz muito internamente, isso não funciona. Agora, mais bolívares disputam a mesma quantidade de bens denominados em dólares e euros, e a consequência pode ser vista na taxa de câmbio em queda livre.

Tudo isso coloca a Venezuela na dianteira da corrida pelo primeiro colete de 2015, à frente inclusive da Grécia.