Na gíria da internet, originalmente, o termo ‘troll’ era usado para se referir a alguém cujo comportamento sistematicamente desestabiliza as discussões [na antiga rede Usenet, que precedeu a Internet (1979)] postando comentários provocativos.
O chamado “Exército dos Cinquenta Centavos” é um grupo de comentaristas pagos pelo regime chinês para postarem comentários falsos nas redes sociais e em websites de notícias na China e no estrangeiro. Eles supostamente recebem 50 centavos de yuan (cerca de R$ 0,25) por cada comentário postado favorável ao regime.
Um vazamento de e-mails expôs a existência de um verdadeiro exército de trolls de internet trabalhando para o regime chinês. E-mails com ordens internas e sigilosas para os membros do Exército dos Cinquenta Centavos vazaram primeiramente em 2011. As diretrizes, segundo o site de notícias Business Insider, instruíam seus membros a fazer dos EUA um “alvo de críticas” e a manipular críticas contra o governo dos EUA de modo a criar sentimentos favoráveis ao regime chinês.
A pesquisa do termo “cinquenta centavos” [em chinês] nos sites de busca foi inicialmente bloqueada pelos censores da internet chinesa para que o assunto da descoberta do Exércíto dos Cinquenta Centavos fosse abafado e não tivesse maiores repercussões.
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Os e-mails vazados mostraram como o Departamento de Propaganda na Internet dá ordens para difamar pessoas que reivindicam democracia e para elogiar as ideologias e líderes do Partido Comunista Chinês (PCC).
Os e-mails também detalham como o Departamento de Propaganda na Internet administra o Exército dos Cinquenta Centavos (ECC). Nos e-mails é dito aos membros do ECC que postem amplamente comentários na internet, mas sempre se passando como internautas comuns. Para avaliar o desempenho do ECC, cada um de seus membros deve enviar um e-mail listando ao Departamento de Propaganda as mensagens postadas na internet e os respectivos links ou atalhos de URL.
O Departamento de Propaganda também fornece aos agentes do ECC e-mails que dão exemplos de comentários eficazes e instruindo-os como agir.
“A diferença entre esse e outros trabalhos na sociedade é que seu objetivo é reforçar o controle político e ideológico. A particularidade desse trabalho é que ele consome a riqueza social, mas sem criar qualquer valor”, disse He Qinglian à Voz da América em outubro de 2013. He Qinglian é uma proeminente comentarista online.
“Na China, esse trabalho é financiado com os impostos do contribuinte, porém, o trabalho vai contra o contribuinte”, disse ela.
Estimativa conservadora
A estimativa de que o regime emprega 500 mil pessoas em seu Exército dos Cinquenta Centavos pode ser conservadora.
Em 18 janeiro de 2013, o People’s Net noticiou que o vice-prefeito de Pequim, Lu Wei, que também é o diretor de propaganda em Pequim e membro do Comitê Permanente do PCC em Pequim, deixou vazar alguns números aproximados sobre o ECC.
Lu disse que apenas o sistema de propaganda de Pequim emprega cerca de 60 mil pessoas e que, adicionalmente, cerca de 2 milhões de pessoas trabalham para o sistema como um todo.
“Todo mundo que trabalha como propagandista do regime deve utilizar bem esse novo campo de luta política”, dizia a notícia. “Leia o Weibo. Use o Weibo. Poste no Weibo. E estude o Weibo. Tente influenciar a discussão sobre temas importantes.”
O Weibo é uma das principais plataformas de rede social na China, e muito similar ao Twitter. É nele onde a maioria dos cidadãos chineses discute notícias e política.
Num relatório de 2011, a organização Freedom House citou David Bandurski, da Universidade de Hong Kong, que, em julho de 2008, disse que o ECC a China empregava cerca de 280 mil pessoas. Posteriormente, em outubro de 2011, essa organização disse que havia indícios de que a China expandiu esse número para 560 mil.
Pesquisadores da Universidade de Harvard escreveram na edição da American Political Science Review de maio 2013 que o regime chinês tem entre 250 e 300 mil comentaristas pagos da internet do tipo trolls. De acordo com o Business Insider, alguns websites chineses e provedores da internet também contratam seus próprios comentaristas-trolls.
De acordo com a Freedom House, “independentemente do tamanho exato do Exército dos Cinquenta Centavos, é um sistema de propaganda de proporções assustadoras”. “Em vez de promover um diálogo aberto com os cidadãos chineses, o projeto é destinado a enganar as pessoas ao fazê-las pensar que o apoio público [ao Partido Comunista] e as suas políticas são mais predominante do que na realidade são, e que abusos de corrupção e tortura são muito menos comuns do que realmente são.”