Tropeços do governo de Hong Kong criam oportunidade para líder chinês

12/10/2014 13:41 Atualizado: 12/10/2014 21:40

A difícil posição de Xi Jinping

Os protestos de Hong Kong ter colocado o atual líder chinês Xi Jinping numa posição difícil.

A verdadeira dificuldade enfrentada pelo secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC) não são os protestos estudantis mas as ações do governo de Hong Kong, que em cada ocasião tornou os protestos mais intensos e difíceis de administrar.

Por exemplo, usar bandidos para espancar manifestantes pacíficos apenas levou mais cidadãos de Hong Kong às ruas e gerou condenação internacional. Soltar bandidos sobre os manifestantes seria um erro somente se o chefe-executivo Leung Chun-ying estivesse tentando melhorar as coisas em Hong Kong. Seu objetivo, na verdade, é tornar a situação a mais caótica possível.

Leung é um soldado leal da facção agrupada em torno do ex-líder chinês Jiang Zemin. Jiang e seu grupo comandaram a China por mais de duas décadas, e eles observam o crescimento do poder de Xi Jinping como algo a ser degradado e descartado o mais rápido possível.

Desde que Xi Jinping assumiu o poder, a camarilha de Jiang Zemin tem usado qualquer oportunidade para criar caos e conflito. Se eles puderem tornar a situação instável o suficiente, isso poderia explodir na cara de Xi Jinping. Então, os asseclas de Jiang Zemin aproveitariam a chance para retomar o poder.

A situação nos Mares do Leste e do Sul da China no início deste verão oferece alguns exemplos. O Vietnã estava se tornando cada vez mais belicoso enquanto via uma gigante plataforma de petróleo chinesa, acompanhada por uma armada de 80 navios, começar a perfuração e exploração em águas vietnamitas.

Ao mesmo tempo, a aproximação perigosa envolvendo jatos militares chineses e japoneses começou a acontecer mais frequentemente nas proximidades das disputadas ilhas Senkaku. Observadores comentaram que um acidente poderia gerar uma guerra na região.

Então, em 30 de junho, a administração de Xi Jinping anunciou a detenção e remoção do general Xu Caihou. Xu foi um dos dois vice-secretários no comando dos militares chineses e um aliado próximo de Jiang Zemin. A notícia de sua prisão foi descrita como um “terremoto” pela mídia estatal chinesa.

Esse terremoto chamou a atenção de alguém. Logo depois, a plataforma de petróleo e sua frota de navios retrocederam. Os céus no Mar do Leste da China acalmaram. E um possível conflito internacional regional acalmou. Xi Jinping deveria aprender algo com esses eventos passados.

Pouco antes de a crise em Hong Kong começar, Xi Jinping estava metodicamente estabelecendo as bases para a prisão de Jiang Zemin. Equipes de investigação se estabeleceram na base de Jiang Zemin em Shanghai e seus comparsas estavam sendo investigados e presos sucessivamente.

Em algum lugar em Pequim, o dossiê sobre Jiang Zemin estava engordando rapidamente. Sem dúvida, o memorando explicando aos quadros do Partido Comunista Chinês (PCC) a necessidade de derrubar o ex-líder supremo da China estava sendo elaborado.

Xi Jinping agora deveria pôr de lado essas preliminares e puxar o gatilho para a detenção de Jiang Zemin. Ao mesmo tempo, Xi também deve derrubar Zeng Qinghong, um peso-pesado do regime comunista. Zeng Qinghong é o agente pessoal de Jiang Zemin nos bastidores do poder, um politiqueiro e mentor de vários esquemas e trapaças, especialmente na perturbação da paz em Hong Kong nos últimos anos.

Como um pedaço de mobília que será quase ignorado na queda de dois homens responsáveis por décadas de desgoverno perverso em toda a China, o chefe-executivo Leung Chun-ying também deve ser destituído do cargo.

As prisões de Jiang Zemin e Zeng Qinghong chocarão todo o Partido Comunista Chinês, o povo da China e os cidadãos de Hong Kong. O mal que vem do governo de Hong Kong cessará imediatamente e o povo de Hong Kong se sentirá satisfeito com a partida de Leung, que é amplamente odiado.

Reconhecendo que a prisão de Jiang Zemin e Zeng Qinghong encerra uma era, os cidadãos de Hong Kong repensarão suas respirações coletivas por um momento para ver o que Xi Jinping pretende fazer. A etapa seguinte dependerá inteiramente dele.

Se Xi Jinping aproveitar esse momento e procurar consolar os cidadãos de Hong Kong, as divisões que parecem tão rígidas no momento se diluirão. Se ele nomear um novo chefe-executivo que trabalhe com o povo de Hong Kong para resolver os problemas da cidade passo a passo, os cidadãos locais procurarão participar da reforma por meio de compromisso e negociação ao invés de confronto. Se Xi Jinping levará adiante este conselho é difícil saber.

Xi Jinping tem sido um mistério para aqueles que estão fora de seu círculo imediato. Isso tem certa utilidade. Maoístas e democratas veem em Xi Jinping um companheiro de viagem que está impedido pelas circunstâncias de revelar sua verdadeira natureza. E assim ambos torcem pelo seu sucesso, mesmo que não possam dizer com certeza o que isso significará.

Desde que o sucesso de Xi Jinping envolva a derrota de personagens vis como Jiang Zemin, amigos da China podem se sentir confiantes na torcida por ele. Um Xi Jinping que queira o melhor para seu país será inexorável em extirpar seus inimigos enquanto oferece uma mão de paz para aqueles a quem seus inimigos abusaram anteriormente.

Momento de criminosos

Enquanto as pessoas ao redor do mundo acompanham em seus televisores o desdobramento dos protestos pró-democracia em Hong Kong, eles observam a vergonha que o chefe-executivo Leung Chun-ying trouxe para esta cidade única.

Fazendo a polícia de Hong Kong agir como bandidos espancando manifestantes pacíficos não foi uma resposta digna a estudantes que cantavam repetidamente “Escute os clamores do povo”.

Bandidos e vândalos têm desempenhando um papel semioficial em Hong Kong, tendo sido introduzidos na política da cidade por Zeng Qinghong, que comandou a pasta do PCC referente a Hong Kong e Macau por cerca de uma década.

Sob a orientação de Zeng Qinghong, a máfia local foi usada para comprar votos para candidatos favorecidos e para intimidar os democratas, mas eles operavam mais ou menos longe dos holofotes. Sob o chefão Leung, bandidos se tornaram uma parte regular da vida pública da cidade.

Um grupo chamado ‘Associação de Cuidados da Juventude de Hong Kong’ (HKYCA) apareceu de repente em junho de 2012 (depois que Leung foi eleito, mas antes de ele assumir o cargo) numa parada de trem perto da fronteira com a China continental, onde os praticantes da disciplina espiritual do Falun Gong tinham um estande no qual ofereciam informações aos transeuntes.

O grupo HKYCA cercou o discreto local do Falun Gong com faixas gigantes que caluniavam a prática, usaram megafones em alto volume a pouca distância dos ouvidos dos praticantes para xingá-los e espancaram os praticantes quando eles momentaneamente estavam fora de vista pública, como passando por trás das grandes e ofensivas faixas.

Esta cena foi logo repetida por toda a Hong Kong. Além disso, áreas inteiras da cidade foram cobertas com cartazes gigantes da HKYCA, frequentemente criando situações perigosas para o trânsito da cidade. A polícia em sua maior parte não fez nada, assim como não fez nada quando bandidos espancaram os manifestantes pró-democracia.

O trabalho de bandidagem para o regime chinês paga bem. Membros da HKYCA disseram a praticantes do Falun Gong que recebiam 50 dólares por dia – um salário substancial para pessoas da China continental, onde a renda familiar anual média é de US$ 2100.

Uma revista de Hong Kong descobriu que a HKYCA tem laços com Pequim; seus líderes são membros do Partido Comunista e compartilham o espaço de escritório com a organização do PCC encarregada de perseguir o Falun Gong. Uma fonte familiarizada com o assunto disse ao Epoch Times que Leung Chun-ying ajudou a formar e organizar o grupo.

Durante o mandato de Leung, outro grupo misterioso chamado ‘Voz de Hong Kong’ tem se dedicado a assediar os pró-democratas.

Num fórum comunitário em agosto de 2013, Leung deixou de lado qualquer pretensão de não estar relacionado com os bandidos que atormentam a cidade. Enquanto ele falava no evento, homens tatuados com cabelo espetado espancaram pessoas que foram protestar contra o chefe-executivo de Hong Kong. A polícia não fez nada e não enfrentou reprimenda por sua inação.

Interferência estrangeira

Um argumento de longa data da propaganda do Partido Comunista é culpar os Estados Unidos por interferir nos assuntos internos da China. Esta ladainha é repetida em toda e qualquer oportunidade.

Culpar os Estados Unidos ou poderes estrangeiros para inflamar o patriotismo é notoriamente o último refúgio de pilantras no poder, ou seja, de funcionários do Partido Comunista Chinês. Mas isso pode pelo menos distrair e desviar a atenção do povo chinês dos enormes crimes e fracassos do PCC.

Desde que os protestos de Hong Kong começaram, a mídia estatal chinesa tem recorrido a culpar o EUA com força e frequentemente. Ao contrário de outras ocasiões, quando os EUA foram culpados, por exemplo, por uma má colheita de trigo na Mongólia Interior, os propagandistas do PCC agora podem estar planejando algo mais agora.

Claro, alguns podem desejar que o governo norte-americano seja mais vigoroso no apoio aos manifestantes, embora voluntariamente alguns indivíduos, incluindo três ex-cônsules-gerais que serviram em Hong Kong e na Ordem dos Advogados de Nova York, tenham tentado se posicionar. Mas o apoio atual dos Estados Unidos aos manifestantes não é o que incomoda Pequim.

O exemplo dos Estados Unidos como uma república vigorosa e livre que goza do estado de direito e da proteção das liberdades individuais inspira os pró-democratas em Hong Kong e em outros lugares que buscam escapar da sombra da tirania.

Esse exemplo sempre colocou medo no PCC. Isso explica por que o PCC busca controlar cada byte de informação que entra na China. Se o PCC não investisse pesado e levasse tão a sério o bloqueio, a censura e a distorção da informação, toda a China se pareceria com Hong Kong hoje, repleta de manifestantes pró-democracia. Esse é um pensamento que pode fazer sorrir um jornalista com ar severo.