Utensílios de autodefesa se popularizam na China após crimes violentos

14/09/2014 10:25 Atualizado: 14/09/2014 10:25

Notícias em agosto sobre sequestros violentos, abuso sexual e, em alguns casos, assassinatos de jovens universitárias na China têm estimulado as vendas de utensílios de autodefesa e a inscrição em aulas de artes marciais em todo o país.

Dados da maior rede de compras online da China, o Taobao, mostram que as vendas para mulheres de equipamentos de autodefesa nos últimos 30 dias (até 6 de setembro) aumentaram mais de 6.600% em relação ao mês anterior, e mais de 1500% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a mídia estatal.

O Taobao lista mais de 36 mil produtos de autodefesa de fornecedores chineses: estão disponíveis sprays de vários tipos, alarmes, bastões, uma caneta de autodefesa, anéis de defesa e muito mais.

Um dos produtos de autodefesa mais vendidos é também um dos mais baratos e mais simples: um alarme que custa 18 yuanes (US$ 3). Cerca de 32 mil desses foram vendidos no mês passado, segundo dados do Taobao. O dispositivo tem cerca de 5 centímetros de comprimento e pode soar um alarme bastante alto, que se assemelha a uma buzina de carro quando um anel no dispositivo é puxado. A ideia por trás disso é que os espectadores venham em auxílio do usuário angustiado (ele é projetado especificamente para mulheres e crianças, diz a embalagem) – embora este espírito de ajuda mútua seja frequentemente ignorado nas ruas da China.

Além de dispositivos de autodefesa, clubes de artes marciais e academias de boxe e de ginástica também começaram a atrair mais clientes do sexo feminino, segundo a mídia estatal Noticiário de Jinling.

O sr. Shao, um instrutor numa escola de artes marciais na cidade de Zhengzhou, província de Henan, disse que até recentemente todos os seus alunos eram do sexo masculino, quando então algumas mulheres se inscreveram.

O sr. Chen, um instrutor numa escola de artes marciais na cidade de Nanjing, província de Jiangsu, disse que seus alunos são geralmente crianças e idosos, mas ele tem recebido 20 ligações por dia nas duas últimas semanas de mulheres jovens perguntando sobre suas aulas de autodefesa.

Tudo isso vem na esteira de sete casos graves em agosto de jovens universitários que foram sequestradas e torturadas. Três das vítimas foram encontradas mortas e todas sofreram diferentes graus de abuso sexual e tortura. Os suspeitos nestes três casos dirigiam “táxis pretos”, ou táxis sem licença, que foram usados para capturar as jovens desprevenidas.

Além de universitárias, muitas jovens adolescentes também foram atacadas na China. Uma adolescente de 13 anos foi estuprada e morta num milharal a caminho da escola numa área rural perto de Baoding, província de Hebei, em 7 de setembro. Uma menina de 16 anos foi assassinada em Shanghai no primeiro dia de seu emprego temporário em 11 de agosto.

A polícia local de Nanjing conduziu um experimento para testar a consciência de segurança das jovens da cidade, oferecendo passeios a cinco jovens num carro sem placa. Quatro dos cinco entraram no veículo, segundo o Diário de Nanjing. Um policial sugeriu que as meninas precisam ser mais conscientes do perigo potencial de entrar no carro de um estranho.

A notícia dos assassinatos e o aumento nas vendas de equipamentos de autodefesa também fizeram muitos chineses refletirem sobre a sociedade como um todo, particularmente sobre a deterioração da moralidade e a sensação geral de insegurança sentida pelo povo chinês. “Não devemos culpar as meninas por não serem cuidadosas”, disse um blogueiro chinês no Sina Weibo, uma mídia social popular na China similar ao Twitter. “É a sociedade que tem um grande problema.”