Considerada foragida da Justiça, a advogada Eloísa Samy, de 45 anos, denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro sob acusação de associação criminosa juntamente com outros 22 manifestantes, procurou o Consulado do Uruguai no Rio na manhã desta segunda-feira (21), para pedir asilo político, mas deixou o prédio no início da noite.
De acordo com a assessoria da deputada Janira Rocha (PSOL), que acompanhava o caso ao longo do dia, o governo do Uruguai negou asilo aos três manifestantes, sendo dois Black Blocs, que estavam abrigados no consulado: além de Eloísa, David Paixão, de 18 anos, filho adotivo dela, e Camila Nascimento, de 19 anos, que seria namorada de David. Os três saíram do prédio, na Praia de Botafogo, zona sul, por volta das 19h15, no carro oficial da deputada, um VW Bora preto, informou a assessoria de Janira.
“Ela (a deputada) deu uma carona até o bairro de São Conrado e não sabe o que eles fizeram depois”, disse o assessor de imprensa de Janira, Ricardo Villa Verde. “Eles desceram de elevador e saíram pela garagem, que fica na frente do prédio. Ninguém fez nada escondido”, disse o assessor.
A advogada se diz “perseguida política”. Ela disse: “Ela (Myriam) veio falar comigo, perguntou o que estava acontecendo e disse: ‘Mas o Brasil é um Estado democrático de direito’. (Eu respondi que) O problema não é o Brasil, o problema é o Estado do Rio, a Justiça, que está agindo como um verdadeiro Estado de exceção, contando com a cumplicidade e o silêncio do governo federal. Não vi outra solução a não ser o asilo político”. A advogada nega as acusações feitas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro no inquérito iniciado em 2013, que foram respaldadas pelo Ministério Público na denúncia entregue na sexta-feira e aceita cerca de duas horas depois pelo juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal.
Itabaiana emitiu mandados de prisão preventiva contra 22 manifestantes, dos quais 17, além de Eloísa, são considerados foragidos. Na denúncia encaminhada à Justiça, o promotor Luís Otávio Figueira Lopes afirma que Eloísa “inicialmente juntou-se aos demais no exercício de sua atividade, tendo, após, desvirtuado sua conduta e passado a participar ativamente dos atos violentos, passando instruções aos ocasionais participantes, tendo sido vista ordenando o início de atos de violência”. “Além disso, escudando-se em um suposto exercício da atividade profissional, presta apoio logístico, cedendo sua residência para reuniões”, diz o Ministério Público na denúncia.
“Jamais cometi qualquer ato que infringisse a lei, mas estou sendo vítima das forças coercivas do Estado exatamente por defender pessoas que se ergueram e foram às ruas para protestar contra as ilegalidades cometidas por ele próprio. Quem atua na ilegalidade é o Estado”, afirma Eloísa em vídeo divulgado nesta segunda-feira pelo grupo clandestino Mídia Independente Coletiva (MIC).
Ela negou a acusação de que sua casa seria usada para reuniões da organização terrorista clandestina Frente Independente Popular (FIP): “Nunca teve reunião na minha casa. A FIP e eu temos diferenças políticas, de questionamento ideológico, que já causaram desentendimentos”. Uma equipe da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), responsável pelo inquérito, fez plantão em frente ao prédio do consulado durante a tarde, mas já havia deixado o local quando a advogada saiu.