Universidade de Cambridge dissolve associação acadêmica e estudantil chinesa

30/11/2011 22:58 Atualizado: 04/09/2013 19:45
Embaixada chinesa tentou impedir as eleições, mas a universidade interveio
Campus da Universidade de Cambridge (Loic Vennin/AFP/Getty Images)
Campus da Universidade de Cambridge (Loic Vennin/AFP/Getty Images)

A Universidade de Cambridge dissolveu sua maior associação de estudantes chineses, após o fracasso da associação em realizar uma eleição para presidente e exigir nova eleição para reformar a organização. A embaixada chinesa está envolvida na tentativa de anular a votação.

Chineses em todo o mundo tem acompanhado essa história, que foi relatada pela primeira vez em 25 de novembro pelo Semanário do Sul de Guangzhou, a maior circulação semanal na China continental.

O Semanário disse que o atual presidente da Associação Acadêmica e Estudantil Chinesa em Cambridge (AAEC-CAM), a Sra. Chang Feifan, anunciou em julho que continuaria por um segundo mandato sem eleição.

Muitos entre os 800 ou mais estudantes-membros se opuseram a esta decisão e informaram a universidade. A universidade requereu que a AAEC-CAM apresentasse uma constituição em 1º de outubro para que as normas que regessem a associação ficassem claras. Após a Sra. Chang se recusar a fazê-lo, a associação de 27 anos foi ordenada a ser dissolvida, segundo o Semanário do Sul.

Um ex-membro da AAEC-CAM disse ao Epoch Times que os estudantes estavam irritados pela seleção arbitrária da presidente por mais três ou quatro meses.

Uma pessoa na AAEC-CAM contou ao Epoch Times que, “A embaixada chinesa disse: ‘Não apoiem eleições gerais.’” Foi com esse suporte que ela ousou agir dessa maneira. Entretanto, ela não pensou que o evento se tornaria algo tão grande.

De acordo com a Sra. Li Guiha, PhD, que trabalha há bastante tempo em Cambridge, “Votar para presidente da AAEC é um antiga tradição em Cambridge e tem sido assim por mais de dez anos.”

“No início, a embaixada precisava mobilizar pessoas para concorrer ao cargo. Mais recentemente, especialmente após o ex-líder chinês Jiang Zemin visitar Cambridge em outubro de 1999 e em seguida o premiê Wen Jiabao em fevereiro de 2009, o presidente do AAEC-CAM teve de se reunir com líderes do continente, a mídia e outros e também obteve benefícios econômicos, assim, muitas pessoas competiam pela vaga de presidente”, disse Li Guiha.

“Entretanto, durante uma eleição geral, a embaixada agora teme que candidatos possam criticar abertamente o ex-líder chinês Jiang Zemin, pois isso contraria diretamente os interesses da embaixada, então, a embaixada tentou detê-los”, disse Li Guiha.

Papel da embaixada

Um ex-estudante chinês e funcionário da AAEC disse ao Epoch Times que as autoridades do consulado chinês controlam diretamente a associação de estudantes.

O Semanário do Sul relatou que quando o ex-funcionário da AAEC responsável pela internet, Chen Qi, comparou a constituição do AAEC-CAM com a de outras associações, ele descobriu que a constituição do AAEC-CAM era “copiada diretamente da china continental”.

O Sr. Wang, que trabalha em Cambridge, disse, “A associação de estudantes é uma porta-voz política da embaixada chinesa. Quando a embaixada deseja satisfazer certa missão política, como acolher líderes chineses ou iniciar algum movimento político, normalmente, a associação de estudantes chineses toma a dianteira, enquanto a embaixada se oculta por trás.”

“Segundo as leis em muitos países, os consulados estrangeiros não tem o direito de controlar ou interferir nas atividades da sociedade local, mas a embaixada chinesa nunca obedece às leis”, disse Wang. “Eles usam o povo chinês nas associações estudantis no exterior para realizar atividades ilícitas.”

Li Guiha teve experiência pessoal com como a AAEC-CAM atua em nome do regime chinês. Ela é uma praticante do Falun Gong e soube que seus e-mails sobre o Falun Gong não eram permitidos na lista de e-mail da AAEC-CAM. O regime chinês tem perseguido o Falun Gong desde 1999.

“O fato de a embaixada controlar a associação estudantil é um segredo bem conhecido”, disse Li Guiha. “Há alguns anos, o então líder da associação estudantil chinesa, Wang Pengzhu escreveu um e-mail à lista da AAEC-CAM respondendo um e-mail meu (Li Guiha), no qual ele difamava o Falun Gong. Ele seguia instruções da embaixada.”

“Eu escrevi de volta para explicar, então, após a troca de uma série de e-mails, mais e mais pessoas apoiaram o Falun Gong. Mais tarde, Wang Pengzhu bloqueou meu endereço de e-mail”, disse Li Guiha.

O Sr. Wang explicou o porquê dos líderes estudantis seguirem as instruções da embaixada. “A embaixada dá aos líderes das associações chinesas recompensas financeiras ou status político. Os estudantes chineses e as associações estudantis em especial recebem financiamento para atividades da embaixada chinesa e o líder estudantil recebe compensação adicional.”

Status e benefícios

Chang Feifan, a mulher no centro da controvérsia da AAEC-CAM, pode ter aborrecido alguns de seus colegas, mas ela manteve seu apoio ao Partido Comunista Chinês (PCC).

Um estudante de Cambridge disse ao Epoch Times, “A família dela é relativamente poderosa e rica. Um de seus parentes é vice-governador provincial na China. Ela é muito pró-comunista.”

Outro estudante contou ao Epoch Times, “Ela fala muito diferente dos outros, gosta de usar jargões burocráticos e frequentemente menciona termos como ‘classe social’ e ‘revolução’.”

Chang Feifan sabia que, se obedecesse às instruções de Cambridge de enviar uma nova constituição, seu mandato seria encerrado. Apenas se negando, ela poderia evitar uma eleição.

Mas as eleições ocorrerão de qualquer forma. A universidade anunciou que haverá uma eleição geral no dia 2 de dezembro para os cargos de presidente, vice-presidente, secretário e tesoureiro e os eleitos podem registrar uma nova associação estudantil.

Na campanha, ela tem vantagens que outros candidatos não têm – suas conexões com o PCC.

Uma pessoa na AAEC-CAM contou ao Epoch Times, “Há muito poucos que apoiam Chang Feifan. Eles acreditam que enquanto a associação estudantil puder trazer benefícios materiais, como frequentes viagens e jantares pagos, eles votarão em quem puder fornecer os benefícios.”

“Recentemente, para vencer as eleições, Chang Feifan tem frequentemente gasto dinheiro levando pessoas para jantar, pagando para dezenas ou até cem pessoas. De acordo com os regulamentos, tudo isso é contra as normas eleitorais e contam como suborno.”

Mesmo que muitos alunos estejam dispostos a aceitar jantares oferecidos por Chang Feifan, este informante disse que a controvérsia sobre a eleição mudou a forma de pensar de alguns estudantes. “Eles percebem agora que isso não é um incidente pequeno”, disse ele.