O autor Ethan Gutmann teme que, numa época em que 900 palavras de não-ficção são supostamente o máximo que uma pessoa ocupada lerá sobre temas além de sua própria gama de experiência, seu livro The Slaughter de 355 páginas não alcance o vasto número de leitores que os heróis, vítimas e canalhas apresentados na obra merecem.
Na realidade, seu trabalho é tão absorvente e comovedor como qualquer excelente romance; há ainda 70 imagens para essa era mais visual.
É também um registro meticulosamente pesquisado da repressão, tortura e assassinato praticados pelo Partido Comunista Chinês (PCC) nos últimos anos e testemunhados por pessoas diretamente envolvidas, geralmente sobreviventes, mas também alguns desertores.
Gutmann habilmente coloca a perseguição dos praticantes do Falun Gong, tibetanos, cristãos domésticos e uigures em contexto. Ele se concentra principalmente no Falun Gong, como o grupo mais contínua e violentamente atacado desde 1999, quando o próprio PCC estimou que o número de adeptos fosse de 70-100 milhões, mas cada um dos outros grupos recebe atenção significante.
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Amplo espaço é dado à especulação a respeito de por que o regime chinês em Pequim arrisca tanto, incluindo o respeito internacional, para atacar esses vastos grupos de seus cidadãos. Gutmann também tenta bravamente permitir que os leitores cheguem às próprias conclusões, embora seja difícil para este revisor conceber como as conclusões de qualquer pessoa razoável difeririam significativamente das do autor.
Sobre a questão da extração forçada de órgãos, lemos sobre testemunhas que foram submetidas a exames físicos em campos de trabalho forçado, presídios, centros de lavagem cerebral e prisões negras, que foram claramente destinados a avaliar a compatibilidade de seus órgãos e tecidos. Gutmann acrescenta provas importantes às evidencias que David Matas, eu e muitos outros compilamos sobre a pilhagem de órgãos de praticantes do Falun Gong, e documenta crimes semelhantes contra os uigures, tibetanos e cristãos domésticos.
No apêndice, ele explica como ele chegou à sua “melhor estimativa” de que os órgãos de 65 mil praticantes do Falun Gong e de “2 a 4 mil” uigures, tibetanos e cristãos domésticos foram “coletados” apenas no período de 2000-2008. Exclusivamente na China, não há “doadores” que sobrevivam à pilhagem, pois todos os órgãos vitais são retirados para serem traficados por preços elevados para cidadãos chineses ricos e inclusive para “turistas de transplante” do exterior.
A partir de relatos da mídia, o livro The Slaughter se tornou um problema na recente eleição para prefeito de Taipei, capital de Taiwan. O vencedor, o dr. Ko Wen-je, um ex-cirurgião sênior do Hospital da Universidade Nacional de Taiwan, é um dos heróis do livro. Numa entrevista de 2008 com o autor, Ko disse que os cirurgiões numa cidade chinesa haviam-lhe informado que os órgãos para transplante lá eram todos provenientes de praticantes do Falun Gong. Mais tarde, Ko permitiu corajosamente o uso dessa revelação no livro; sua publicação bem antes do dia da eleição (29 de novembro) parece ter ajudado Ko a ganhar a eleição esmagadoramente mesmo que agora ele esteja proibido de pisar na China continental.
Três outros cirurgiões são aplaudidos por seus princípios hipocráticos em The Slaughter: Francis Navarro da França, Franz Immer da Suíça e Jacob Lavee de Israel. Como muitos de nós, o autor respeita muito a campanha internacional eficaz dos Médicos Contra a Extração Forçada de Órgãos (DAFOH), um grupo médico que defende a ética na profissão e visa a acabar com a pilhagem e o tráfico de órgãos na China. Mas lhe impressiona que até à data muitas outras organizações mundiais de saúde e associações médicas façam tão pouco pelo fim deste crime hediondo.
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Por que é reservada crítica especial à Sociedade de Transplantes (TTS), o organismo internacional criado para fornecer liderança ética para cirurgiões de transplantes em todo o mundo?
Resumidamente, o dr. Huang Jiefu, ex-vice-ministro da Saúde da China e a autoridade máxima da política de transplante de órgãos do regime chinês, admitiu que prisioneiros constituem praticamente todas as fontes de órgãos para transplante na China e que ele pessoalmente realizou mais de 500 transplantes de fígado. No entanto, Huang nunca admitiu o óbvio: que prisioneiros de consciência do Falun Gong – que são em sua maioria enviados para desumanos campos de trabalho forçado por até três anos com a simples assinatura de um policial – são apenas são a fonte principal de órgãos para transplantes na China mas em alguns dos muitos hospitais chineses são a única fonte.
Huang anunciou em março de 2012 que o regime chinês deixaria de usar órgãos de prisioneiros entre 3 a 5 anos. Pouco depois ele afirmou que até 2014 isso estaria resolvido e consequentemente recebeu o apoio da TTS pelos dois anos seguintes, durante os quais sem dúvida houve muitas novas vítimas entre os prisioneiros de consciência. Alguns dos receptores de órgãos eram de países, incluindo democracias ocidentais, que ainda não baniram o uso de órgãos traficados pelos seus cidadãos.
Gutmann observa que Francis Delmonico, o presidente americano da TTS, indicou aos membros dos DAFOH que ele não acreditava que houvesse provas suficientes que hospitais chineses extraíam à força e sob demanda os órgãos de prisioneiros de consciência. Hoje, tornou-se claro para o mundo que a pilhagem e o tráfico de órgãos continuarão como “um negócio normal” na China.
As eloquentes palavras de encerramento do livro são dirigidas a todos nós:
“Nenhuma entidade Ocidental possui a autoridade moral para permitir que o PCC impeça a investigação de um crime contra a humanidade em troca de promessas de reforma médica. Como um mecanismo de sobrevivência da nossa espécie, é preciso contextualizar, avaliar e finalmente aprender com cada queda humana no assassinato em massa… A coisa fundamental é que há uma história. E apenas as famílias das vítimas podem absolver o Partido de sua reponsabilidade.”
Estas palavras, que vêm no final do relato claro e bem documentado de Gutmann sobre a pilhagem de órgãos para transplante em toda a China, são a razão pela qual o mundo deveria ler na íntegra o que vem antes.
David Kilgour foi um membro do Parlamento canadense entre 1979-2006, e atuou como secretário de Estado para a Ásia-Pacífico, secretário de Estado para a América Latina e África, vice-presidente da Câmara. Ele foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2010 e é coautor com David Matas do livro “Colheita Sangrenta” Seu website é David-Kilgour.com