Uma decisão de sessenta milhões de dólares

27/05/2013 16:38 Atualizado: 27/05/2013 17:57
‘Eu não aceitei dinheiro sujo de sangue de um governo que está assassinando seu povo’, disse Jeffrey Van Middlebrook, inventor do Vale do Silício
O empreendedor Jeffrey Van Middlebrook, no Parque Pioneiro em Mountain View, Califórnia, em 14 de maio de 2013. Ele recusou uma oferta de US$ 60 milhões da China após descobrir o envolvimento do regime chinês na colheita de órgãos de prisioneiros de consciência (Jasper Fakkert/The Epoch Times)

Jeffrey Van Middlebrook, inventor polímata do Vale do Silício, projetou em 2006 uma maneira de capturar os gases residuais de combustão, que se empregado em escala industrial, poderia valer uma fortuna.

Middlebrook inventou o sistema em sua oficina e chamou-o de liquefator de amplo espectro fracionário para captura de gases de combustão. Depois de fazê-lo funcionar em pequena escala, ele buscou financiamento nos EUA. Nem o governo nem a iniciativa privada estavam dispostos a oferecer o dinheiro necessário para fazer a invenção atingir uma escala industrial.

Então, em 2011, a China bateu em sua porta. Em duas ocasiões, Middlebrook reuniu-se com delegações do Partido Comunista Chinês (PCC): da província de Hubei, em San Jose em 2011, e de Jiangsu, em São Francisco em fevereiro de 2012.

Filiados a uma universidade na China e apoiados pelos cofres do PCC, eles ofereceram a Middlebrook e um parceiro de negócios US$ 60 milhões em financiamento para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Ele teria um laboratório numa universidade na China, com cientistas, engenheiros e equipamentos necessários para ampliar a invenção à escala industrial. Isso foi no início de 2012 e as negociações começaram bem.

Em maio de 2012, o parceiro de Middlebrook, um cientista do MIT que conduziu as negociações com as delegações chinesas, estava organizando uma viagem deles em setembro.

Os chineses estavam profundamente interessados na invenção de Middlebrook devido a sua potencial aplicação no avanço de tecnologia limpa de carvão. A China é o maior consumidor mundial de carvão e a poluição resultante da queima para gerar eletricidade é enorme. Cerca de meio milhão de pessoas na China morrem prematuramente a cada ano devido a doenças relacionadas à poluição do ar e a queima de carvão contribui significativamente para a fumaça preta que sufoca as cidades chinesas.

Então, Middlebrook começou a ler as reportagens no Epoch Times que hospitais militares chineses colheram órgãos de dezenas de milhares de prisioneiros de consciência, predominantemente praticantes do Falun Gong, uma disciplina espiritual pacífica. Ele leu sobre as torturas brutais e a inflexível perseguição conduzida pelo Estado chinês. E recusou a oferta.

Um desenho de uma invenção de Jeffrey Van Middlebrook, que tem o potencial de ajudar a reduzir a poluição gerada pela queima de combustível fóssil (Cortesia de Jeffrey Van Middlebrook)

“Quando comecei a ler, eu entrei num conflito moral extremo”, disse Middlebrook. “Por um lado, a oferta chinesa de US$ 60 milhões pairando sobre minha cabeça. Isso é muito sedutor. É muito difícil conseguir financiamento de P&D para novas tecnologias. É um processo difícil, não importa que tecnologia.”

Middlebrook continuou: “Então, havia um governo estrangeiro exibindo dinheiro diante de nós, enquanto isso eu comecei a ler sobre coisas horríveis na China. Eu pensei: ‘Não posso fazer isso. Não posso aceitar esse dinheiro. Não posso ir à China. Não importa o quanto minha tecnologia seja importante, não importa quanto dinheiro eles queiram investir, eu não posso aceitar dinheiro da China.’”

Amigos lhe perguntaram: “Por que você não pode aceitar o dinheiro, desenvolver a tecnologia para beneficiar o mundo e, em seguida, transformá-la e usá-la para fazer algo bom?” Middlebrook respondeu: “Aceitar esse dinheiro é aceitar dinheiro sujo de sangue. Se é verdade que eles estão matando pessoas por seus órgãos, então isso envolve os mais altos níveis do governo e não poderia ser diferente. Não posso vender minha tecnologia e me beneficiar financeiramente, não importa o quão benéfica seja a tecnologia para a melhoria do meio ambiente.”

Ele acrescentou: “Não posso aceitar esse dinheiro sabendo que pessoas estão perdendo suas vidas para que eu possa ter esse dinheiro. Não posso fazer isso.”

Middlebrook, formalmente graduado em geologia e engenharia, inventou uma infinidade de dispositivos, alguns dos quais estão atualmente sendo comercializados.

Seu sistema de captura de gases utiliza uma série de câmaras, cada qual absorve compostos indesejáveis de resíduos gasosos, transformando-os em líquido. O sistema pode capturar dióxido de carbono, dióxido de enxofre e sulfeto de hidrogênio, por exemplo, e, uma vez na forma líquida, eles podem ser neutralizados e usados para outras aplicações agrícolas ou industriais, em vez de liberados na atmosfera.

Outras invenções de Middlebrook incluem um escudo de segurança para motosserras, uma câmara toroidal de 360 graus, um sistema universal antirroubo de veículos por controle remoto e uma válvula horizontal de liberação de esgoto, que ele inventou em 1991 e está atualmente em negociação por um contrato.

Ele dirige a empresa Invention Dynamics, LLC, e é uma figura conhecida no norte da Califórnia há décadas. Um artigo do Semanário do Condado de Monterey observa que, no final de 1970, ele fez a “carpintaria, tubulação e sistema elétrico” para o escritório de Gary Kildall da Pacific Grove, um dos pioneiros da computação pessoal.

Cerca de seis meses após informar seu colega de que ele estava saindo do negócio, Middlebrook escreveu uma carta ao Epoch Times para agradecer ao jornal por sua “honestidade jornalística, pelo menos tão honesta quanto qualquer ser humano pode relatar qualquer coisa”. O Epoch Times então entrou em contato com ele e começou a verificar sua história.

Ele disse que escreveu para o jornal “para deixar tudo evidente […] e não para ser louvado”. Middlebrook disse esperar que os governos e grandes corporações e “não gente pequena como eu” considerem os direitos humanos na China mais seriamente. “As grandes empresas têm de se posicionar firmemente: é imoral, flagrantemente imoral, e não faremos esse tipo de negócios.”

Carta do ex-secretário de defesa norte-americano Leon Panetta a Jeffrey Van Middlebrook, datada de 8 de dezembro de 2008, avisando Middlebrook de que o governo norte-americano não concederia financiamento para sua invenção (Cortesia de Jeffrey Van Middlebrook)

Middlebrook forneceu uma descrição detalhada de sua invenção e permitiu que um editor revisasse dois pedidos de patente relacionados. Ele forneceu uma fotografia de parte do dispositivo, bem como uma carta de Leon E. Panetta, ex-secretário de defesa norte-americano, reconhecendo a invenção de Middlebrook sobre a captura de CO2. Panetta escreveu: “Seu melhor recurso, provavelmente, é alguma forma de financiamento do governo. No entanto, devo adverti-lo de que os fundos para estes tipos de projetos são escassos, devido ao estado atual da economia.” Isso foi em dezembro de 2008.

A documentação das negociações de Middlebrook com a delegação chinesa está com seu ex-parceiro chinês que conduziu as negociações e cujo nome Middlebrook deve manter em sigilo. “Não quero que ninguém seja prejudicado”, disse ele, em referência ao fato de que as forças de segurança chinesas e do PCC são conhecidas por punirem severamente as pessoas que falam sobre os abusos de direitos humanos cometidos pelo regime chinês.

Por estar associado a Middlebrook, seu ex-parceiro, que é de etnia chinesa, cresceu na China e continua a visitar a família e fazer negócios por lá, então pode se tornar um alvo de punição e ter seus interesses comerciais ou segurança ameaçados.

O parceiro tem invenções que visam reciclar os resíduos industriais da água utilizando microorganismos e que foram originalmente planejadas para serem desenvolvidas comercialmente com as câmaras de captura de Middlebrook. O Epoch Times verificou de forma independente a identidade do parceiro.

O Epoch Times contatou outro associado de Middlebrook, Reinaldo Garcia, um dramaturgo, músico e ex-jornalista, para mais referências. Garcia acabou de escrever um roteiro de filme baseado numa ideia de Middlebrook. Ele lembrou ter visto uma postagem no Facebook de Middlebrook meses atrás, anunciando o fato de ter recusado o financiamento da China após ler sobre a colheita de órgãos de prisioneiros de consciência promovida pelo regime chinês.

“Inicialmente, eu pensei que ele estivesse se gabando. Que talvez ele tivesse perdido o negócio, mas estivesse se justificando, dizendo que fora uma atitude por princípios morais”, lembrou Garcia. “Isso é real?”, Garcia teria perguntado a Middlebrook e este rapidamente e de boa vontade verificou o testemunho. “Ele não tinha vergonha de explicar as coisas. Ele foi muito explicativo sobre o que a China estava fazendo e como ele se opunha a isso. Ele poderia ter conseguido seu dinheiro de P&D.”

É impossível saber se a tecnologia inventada por Middlebrook teria êxito em escala industrial. “Quando as coisas são ampliadas, surgem complexidades que não podem ser previstas”, disse Middlebrook. “Mas tudo indica que é viável e que traria grandes benefícios.”

Ele continuou: “Em certo sentido, há um princípio maior, mas não à custa de pessoas que estão sendo assassinadas por seus órgãos. Não posso ser parte disso. É algo análogo às pessoas que sabiam que Auschwitz estava acontecendo e fizeram vista grossa. Isso para mim é o que a China está fazendo, assassinando pessoas por seus órgãos. É o Auschwitz da China. Estou ciente disso devido a seu jornal e isso significa que, mesmo que minha tecnologia não se concretize, eu posso me olhar no espelho e dizer, ‘eu não aceitei dinheiro sujo de sangue de um governo que está matando seu povo.’”

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