Uma China angustiada reflete após a tragédia da menina atropelada

20/03/2012 00:00 Atualizado: 20/03/2012 00:00

Yueyue na unidade de terapia intensiva do Hospital Geral do Comando Militar de Guangzhou, em 16 de outubro. Ela morreu em 21 de outubro devido a graves ferimentos que primeiramente atingiram o sistema respiratório e, eventualmente, outros órgãos vitais. (The Epoch Times)

Dezoito pessoas passaram diante da pequena Yueyue depois que ela caiu sob as rodas de dois carros em 13 de outubro de 2011; ela morreu na manhã de 21 de outubro.

Os chineses têm sofrido muito com o declínio dos padrões morais na China: indústrias de leite misturam-no com melanina química industrial causando cálculo renal em bebês; arquitetos constroem escolas com materiais de baixa qualidade levando milhares de crianças a serem esmagadas no terremoto de Sichuan; autoridades se enriquecem roubando casas e propriedades, e vendendo a terra a desenvolvedores; homens ricos e poderosos em limusines apanham meninas na saída de escolas para usá-las como amantes…

Mas o destino da pequena Yueyue, da cidade de Foshan, filmado por uma câmera de segurança que aparentemente todos na China já viram, causou uma sensibilização geral como nunca antes. A falha de 18 pessoas, em 13 de outubro, em resgatar a menina de 2 anos, depois de ser atropelada, primeiro por uma minivan e depois por uma picape, chocou a confiança da nação chinesa.

O ator Yuan Hong escreveu em seu microblog: “Após ter visto o vídeo, fui tomado por um forte sentimento de vergonha nacional e de inferioridade. Após 18 pessoas terem consecutivamente ignorado a menina ferida, mesmo se mais dezoito naves espaciais ‘Palácio Celestial’ fossem lançadas ao espaço, isso não seria capaz de remediar esta profunda vergonha.”

Yuan está longe de ser o único. O vídeo do sofrimento de Yueyue inspirou mais de quatro milhões de postagens em microblogues na China e no exterior.

O destino da China

Internautas chineses veem o destino da China envolvido com o caso da pequena Yueyue.

“Isso esmagou não apenas a menina, mas a consciência da sociedade atual”, escreveu um blogueiro.

Os blogueiros várias vezes retornam às mesmas perguntas: Como a China chegou a este ponto? O que aconteceu conosco?

“O que nos fez tão diferentes?”, escreveu o blogueiro Ning-Hao. “O incidente da pequena Yueyue mostra mais uma vez a perda da moral entre os cidadãos. Toda pessoa de consciência não pode deixar de se perguntar: Qual é a raiz desses problemas?”

“É por que o ambiente social já foi destruído, ou o egoísmo é a causa do problema? O que falta nas pessoas hoje em dia? Um sistema de educação, uma orientação de opinião pública, um sistema jurídico, ou outros aspectos justos e razoáveis? Estas são as sérias questões que todos se defrontam.”

O blogueiro Shaoye Suanming perguntou, “Como nosso glorioso país ousa ainda chamar-se de uma ‘terra civilizada’? Esses estrangeiros que se entusiasmam com a China não compreendem que ela perdeu seus antigos costumes. […]”

“A culpa do colapso da moralidade não pode ser posta sobre as pessoas comuns. […] São os que estão no poder quem têm a responsabilidade.”

Shenzhen, ativista da democracia e fundador do Vigilante Cidadão Chinês (Guo Yongfeng), disse à rádio Som da Esperança, “Nosso ambiente e sistema perverteram completamente a mente de cada pessoa. Todos se preocupam apenas consigo mesmos, incluindo o motorista responsável pelo acidente que tentou negar sua responsabilidade e proteger a si mesmo. Estritamente falando, é a cultura do Partido, o método de governo do Partido Comunista Chinês (PCCh), a cultura totalitária, mentirosa e violenta do Partido.”

Ataque à consciência

Zhang Erping, o porta-voz do Centro de Informação do Falun Dafa (CIFD), disse que o PCCh, ao longo de sua história, dizimou as fontes da moralidade na China com campanhas visando as crenças religiosas, os intelectuais, a propriedade privada e qualquer sinal de pensamento independente.

Mas Zhang vê uma conexão direta entre a perseguição da prática espiritual do Falun Gong (também chamado Falun Dafa) pelo PCCh e o recente e rápido declínio da moralidade na China.

Zhang observou que, no início da perseguição, o PCCh se opôs aos princípios do Falun Gong de “verdade, compaixão e tolerância”.

Numa carta do ex-líder Jiang Zemin, na época, distribuída aos membros do Politburo na noite de 25 de abril de 1999, Jiang disse: “Nós devemos nos manter na educação dos funcionários e da população com uma perspectiva correta sobre o mundo, a vida e os valores. O marxismo, o materialismo e o ateísmo que os membros do Partido Comunista promovem não podem vencer o que o Falun Gong promove? Isso é absolutamente ridículo!”

Três meses mais tarde, Jiang ordenou uma campanha para “erradicar” o Falun Gong. Iniciando em 20 de julho de 1999, a enorme máquina do regime comunista dirigiu-se com fúria contra os estimados 100 milhões de cidadãos chineses que praticavam o Falun Gong. Segundo o CIFD, centenas de milhares de pessoas já foram detidas, 3.400 casos de mortes causadas por tortura e maus tratos foram verificados, mas o número real de mortos pode chegar a dezenas de milhares.

Um mês após o início da campanha, o porta-voz do PCCh, a agência de notícias Xinhua, publicou um artigo que disse, “Os princípios chamados de ‘verdade, compaixão e tolerância’, pregados por Li [Li Hongzhi, o fundador do Falun Gong] não tem nada em comum com a ética socialista e o progresso cultural que nós nos esforçamos por alcançar.”

“Quando o PCCh suprime e criminaliza a verdade, a compaixão e a tolerância, ele reprime as virtudes que mantêm a sociedade”, disse Zhang. “E ao suprimir o bem, o PCCh promove o que é mal. A perseguição ao Falun Gong afeta a todos, por que ela destrói a boa moral no coração das pessoas.”

O medo das consequências

Alguns comentaristas têm apontado outra razão pela qual estas dezoito pessoas passaram diante de Yueyue enquanto ela morria: o medo dos custos de ser envolvido.

O caso de Peng Yue, da cidade de Nanjing, é famoso na China. Quando uma mulher idosa caiu tentando subir num ônibus, ele ficou para trás para poder ajudá-la. Depois que ela soube que precisaria de uma cirurgia no quadril quebrado, ela o processou para que pagasse suas despesas médicas.

O tribunal do distrito de Nanjing legislou que Peng deveria pagar 40% dos custos médicos, alegando que o comportamento de Peng era anormal, pois ele deveria ter ficado no local e levado a senhora ao hospital após a chegada de sua filha.

O problema com incidentes como este se tornou tão acentuado que em setembro passado o Ministério da Saúde emitiu instruções especiais em relação a ajudar idosos que caem.

Depois de essas orientações serem publicadas, o serviço Sina Weibo, equivalente chinês similar ao Twitter, abriu um fórum perguntando se as pessoas estavam dispostas a ajudar uma pessoa idosa caída. De 5.038 respostas, apenas 20% disseram “sim”.

Em tal atmosfera, as boas intenções são suspeitas. O Guangzhou Daily informou que as pessoas estavam criticando a limpadora de lixo, Chen Xianmei, que socorreu Yueyue, dizendo que ela “apenas queria ficar famosa”.

Ao ouvir os comentários do jornal, Chen perguntou, “Por que é tão difícil ser uma boa pessoa?”