Um vislumbre no resort secreto dos líderes chineses

16/03/2012 00:00 Atualizado: 16/03/2012 00:00

Um cartão postal de Beidaihe. (Wikimedia)Beidaihe é o resort secreto de férias dos líderes do Partido Comunista Chinês (PCCh). As reuniões de verão lá realizadas são onde quase todas as decisões estratégicas do PCCh são tomadas e conflitos internos resolvidos.

De acordo com uma notícia no site da BBC em língua chinesa, existe um Beidaihe escondido além das áreas abertas ao público. “Atrás das barreiras de segurança existe um resort de luxo rodeado de floresta onde as praias estão vazias e o mar é azul e claro, é aqui que os lideres do PCCh passam férias e se juntam no verão para participar em reuniões e tomar as decisões mais importantes.

Na edição de dezembro do China Economic Weekly foi escrito que as filas de veículos presentes durante o verão desapareceram. Alguns edifícios do resort ainda tinham guardas, mas outros tinham as portas lacradas com tábuas de madeira.

O Apple Daily de Hong Kong reportou em 9 de agosto de 2011 que depois da tragédia do trem de Wenzhou em 23 de julho de 2011, os membros do Comitê Permanente do Politburo não podiam ser encontrados em local algum. Enquanto Wen Jiabao visitava o local do acidente, todos os outros membros permaneceram incontatáveis por 16 dias.

O colunista afirmou, “Os mais altos líderes foram todos para Beidaihe e suspenderam suas atividades oficiais para se encontrarem secretamente e discutirem a distribuição de poder após o 18º Congresso do Partido em 2012.”

Uma tradição de trabalho

Beidaihe, a 171 milhas de Pequim, é um distrito de Qinhuangdao, na província de Hebei, e era um famoso destino de férias durante os últimos anos da Dinastia Qing. Desde 1953, os líderes do PCCh “tradicionalmente” trabalham em Beidaihe durante o verão. Oficiais de vários níveis vão para lá descansar e se recuperar durante um mês.

Desde os dias de Mao Tsé-tung, os líderes do PCCh trabalham em Beidaihe durante os meses quentes de verão e, consequentemente, muitas áreas locais têm seu acesso restrito ao público. Depois de ocupar seu cargo em 2002, Hu Jintao anunciou o fim do “trabalho em Beidaihe”, mas, na realidade, a tradição de passar férias lá não terminou.

Entre 17 e 30 de agosto de 1958, o Politburo do PCCh realizou uma reunião em Beidaihe onde foi tomada a decisão de que o aço e o ferro seriam o centro da campanha do “Grande Salto para Frente”, um novo “movimento das comunas populares” que teve lugar na China.

A subsequente proliferação de fornalhas nos quintais chineses produziu um período de fome terrível pelo qual nenhuma grande autoridade foi responsabilizada.

De acordo com o China Economic Weekly, cada edifício em Beidaihe recebe uma soma substancial em subsídios do Estado. Fazendo uma estimativa levando em conta que cada edifício necessitaria de um milhão de yuanes para cobrir despesas de funcionamento anualmente, então, os cerca de 100 edifícios irão custar cerca de 100 milhões de yuanes (15,7 milhões de dólares).

Jogos de poder

Sempre que uma troca de poder é iminente, as reuniões em Beidaide tornam-se ainda mais importantes.

De acordo com a reportagem de Lin Baohua, comentador da Rádio Free Asia, de 9 de agosto de 2011, “Trabalho de verão” em Beidaihe “é, na realidade, onde a luta pelo poder e influência toma lugar entre os oficiais do PCCh e onde especialmente a geração mais velha tenta exercer sua influência política. Alguns oficiais mais velhos não têm títulos e não podem participar das reuniões oficiais, por isso ‘trabalham’ em Beidaihe. Eles participam em reuniões e têm discussões privadas para exercer sua influência.”

A revista Dong Xiang de Hong Kong afirmou na sua edição de setembro de 2011 que Bo Xilai foi o grande derrotado na última reunião de verão em Beidaihe. Durante a reunião, “ninguém nomeou Bo Xilai nas votações entre os membros do Partido, Bo Xilai ficou em último lugar com uma grande margem entre ele e o penúltimo.”

Boxun reportou em 6 de agosto que Jia Qinglin, um membro do Comitê Permanente do Politburo, “abdicou dos seus direitos de nomeação em favor do seu sucessor a nível provincial e dos secretários e governadores do Partido sob seu comando.” A razão alegada foram os laços de Jia com Lai Changxing, que recentemente foi extraditado do Canadá de volta a China para enfrentar acusações de corrupção.

Deste breve vislumbre do funcionamento secreto do Partido fica claro que “diversão ao sol” para os líderes do PCCh significa “tempestade” para o chinês comum.