Um subproduto dos transplantes de coração

19/06/2012 00:00 Atualizado: 06/08/2013 18:48

MEMÓRIA CELULAR: Pesquisadores sustentam hipóteses de que a personalidade dos receptores de órgãos transplantados muda devido à memória celular armazenada nas células. (Photos.com)

Poderia a memória e as preferências serem armazenadas nas células?

Conta a lenda que há 2.500 anos, durante o Período dos Reinos Combatentes na história chinesa, dois homens visitaram um grande médico chamado Bian Que. Bian curou suas doenças muito rapidamente, mas descobriu que eles tinham outro grande problema que se tornava cada vez mais grave com o passar do tempo. Bian disse que ambos iriam ficar bem caso eles trocassem seus corações, e eles concordaram em deixar Bian realizar a cirurgia.

Bian deu aos homens uma bebida anestésica e eles perderam a consciência por três dias, durante esse período Bian abriu o peito deles, trocou seus corações, e aplicou-lhes um medicamento. Quando eles recobraram a consciência, eles já haviam se recuperado e estavam tão bem quanto antes.

Mas algo estava errado: Quando eles voltaram para casa, ambos ficaram perplexos porque suas esposas não podiam reconhecê-los. Ocorreu que eles trocaram de casa e pensavam que a esposa do outro fosse a sua.

Parece inconcebível que aquela cirurgia pudesse ter sido realizada há 2.500 anos, mas esta estória é inacreditavelmente similar à situação observada em alguns casos de transplantes de coração.

O Daily Mail, do Reino Unido, relatou que, após um transplante de coração, Sonny Graham da Georgia se apaixonou pela esposa do seu doador e se casou com ela. Doze anos depois ele cometeu suicídio da mesma forma que o seu doador havia cometido.

Em outro artigo do Daily Mail, um homem chamado William Sheridan recebeu o coração de um artista que morreu em um acidente de carro, e, repentinamente, ele era capaz de produzir belos desenhos da vida selvagem e paisagens.

Claire Sylvia, a receptora de um coração e um pulmão em 1988, escreveu em seu livro A Change of Heart: A Memoir, que, após o transplante, ela passou a gostar de cerveja, frango frito e pimenta verde, tudo o que ela não gostava antes, mas que seu doador, um rapaz de 18 anos de idade, gostava.

Ela teve um sonho no qual beijava um garoto cujo nome achava que fosse Tim L., e o inalou para dentro de si enquanto o beijava. Mais tarde ela descobriu que Tim L. era o nome do seu doador. Ela imaginou se isso não tinha ocorrido porque um dos médicos havia mencionado o nome dele durante a cirurgia, mas disseram que os médicos não sabiam o nome do doador.

Em uma matéria publicada no Journal of Near-Death Studies, o Dr. Paul Pearsall da Universidade do Havaí, e o Dr. Gary Schwartz e a Dra. Linda Russek da Universidade do Arizona discutiram 10 casos de transplante de coração ou coração-pulmão no qual os receptores relataram ter “mudanças na preferência por comida, música, arte, sexo, recreação, e carreira, assim como mudanças específicas de percepções de nomes e experiências sensoriais relacionadas aos doadores”.

Em um dos casos descritos, o doador era um afro-americano, então, o receptor pensou que o doador gostasse de rap e por isso não achou que o transplante fosse a causa de sua nova preferência por música clássica. No entanto, verificou-se que o doador era um violinista e adorava música clássica.

Esse caso sugere que mudanças nas preferências dos receptores de órgãos ocorrem sem que o beneficiado as antecipe. Assim, esses casos são o contrário do efeito placebo, no qual a condição de saúde do paciente muda na direção das suas expectativas.

Além disso, os pesquisadores apontaram que assim como os beneficiados acima, pode ser que haja outros receptores que descartam a ideia de que eles adotaram as preferências de seus doadores devido a suas expectativas sobre eles, de forma que o número de receptores de transplantes de órgãos que experimentaram uma mudança de personalidade similar pode estar sendo ignorada.

Pearsall, Schwartz e Russek concluíram que é improvável que esses casos tenham acontecido por coincidência, e levantaram a hipótese de que isto seja por causa da memória celular, dando a entender que memórias e preferências podem ser armazenadas nas células.

No entanto, atualmente, é desconhecido se este tipo de memória existe.

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