A praga da meia idade
É importante para mim que o artista norueguês (meu marido) permaneça em boa forma.
É por isto que, quando eu vou para o estúdio para me exercitar com o DVD na sala de TV no andar de cima, eu chuto o homem para fora. Para que ele possa jardinar. Ou cortar madeira. Ou alimentar as cabras. Ou trazer para dentro a lata de lixo. Eu realmente não me importo, desde que ele esteja fora do prédio, incapaz de:
A) Ouvir-me fazendo barulho no andar de cima;
B) Comentar sobre os barulhos que eu faço me movendo no andar de cima;
C) Ouvir o diálogo do australiano musculoso me encorajando a me mexer graciosamente, ou
D) Imitar o australiano.
A opção D é o motivo pelo qual ele é barrado das outras premissas em primeiro lugar. Eu acho que começou com Denise Austin, murmurando ofegantemente, “A sua espinha é a sua vida. Mantenha-a saudável. Mantenha-a flexível. Mantenha-a forte.”
“Saudável. Flexível. Forte!” A voz no andar de baixo estava mais profunda, intrusiva, a 6 pés verticais de distância.
Um DVD de hula aeróbica havaiana, filmada numa locação com três havaianas bronzeadas e dançantes lançava ecos como o vento assoviando pela copa das árvores e atraiu a atenção do norueguês, junto com um espírito sussurrante do passado da ilha:
“Woo-oooooooh ah wah-ahhhhhh—Soco um, ooooooh, dois, ahhhhhh—Alongue—Estique—woo-ah-oh-ooh-ah.”
Chega. Ele vai pra fora.
“Mas eu não estou tirando sarro de você”, o artista norueguês protestou. “Apenas do DVD.”
FORA!
Meu ultimo exercício de DVD apresenta o australiano bronzeado. A capa mostra uma simpática morena ousada com um minúsculo top saltitante, mas o DVD em si apresenta um Adonis macho de proporções gigantes que mal cabe dentro de uma camiseta rasgada pelos músculos.
Ele é composto de uma série dos mais entediantes exercícios que eu já vi, funcionários de escritório sedentários, mães de numerosos filhos cansadas, e uma raposa fêmea de cabelo prateados que NÃO SORRI, e um homem tampinha gordinho.
“Isto é divertido!”, diz o CHIADO do Adonis australiano.
COMO um homem com estas dimensões impressionantes pode CHIAR?
“Vocês não estão se divertindo rapazes?”
Ninguém responde, ninguém sorri. Eu acho que o australiano parou numa porta de escritório ao lado e contratou uma equipe temporária prometendo batatas assadas e chá verde depois da provação.
Eu não acho que todas estas garotas gostem de ser chamadas de caras.
Se por um lado o ambiente de exercícios do australiano é arejado, uma academia aberta, o meu espaço, o andar de cima do estúdio, logo acima do cavalete do norueguês ausente, não é um segundo andar de verdade, pois os ângulos do telhado vão ficando mais próximos à medida que se aproximam da TV.
Para mim, isto significa que quando o australiano me encoraja a “Caminhar para frente quatro vezes e hop hop hop!” Eu bato a minha cabeça três vezes contra o teto.
Só para você saber, eu não faço isto toda vez que eu uso o DVD, tendo aprendido após as duas primeiras pancadas, mas isto não significa que eu ajusto a forma como eu sigo as direções, forçando-me a caber debaixo deste teto. É absolutamente impossível balançar as mãos sobre a cabeça, muito menos saltar enquanto faço isto, independente de quanto o australiano incentive.
Atrás de mim há um sofá, e sob meus pés estão restos de babatas chips e cascas de laranja secas jogadas indiscriminadamente pelo chão que machucam pés descalços. Interessantemente, nenhum ser humano jogou este lixo aqui, pelo menos, nenhum ser humano na família admite ter feito isto. Por que isto ainda me surpreende?
“Mãe?” É o Filho e Herdeiro.
“O QUE VOCÊ QUER?”
“Não há razão para ficar de mau humor”, a voz desencarnada implica.
“FORA!”
Slam.
Você sabe, é muito trabalhoso fazer exercícios.
Carolyn Henderson é uma autora freelance e escritora do blog Praga da Meia Idade. Além de observar as esquisitices e finalidades da vida, Carolyn é gerente da Galeria de Arte Steve Henderson, que apresenta as pinturas de seu marido, o artista norueguês.