UE precisa da NSA para enfrentar espionagem chinesa, diz chefe da inteligência

23/12/2013 11:36 Atualizado: 23/12/2013 11:36

Enquanto a União Europeia (UE) considera propostas sobre como responder a espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA, incluindo recuar de alguns programas conjuntos com os Estados Unidos, um congressista americano argumentou que a UE precisa da NSA.

Em 17 de dezembro, Mike Rogers, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes dos EUA, defendeu os programas da NSA e disse ao Parlamento Europeu que a NSA e outras agências de inteligência são necessárias para combater a espionagem chinesa.

Rogers disse que as operações conjuntas entre a UE e os Estados Unidos são necessárias, a fim de defender-se contra a espionagem econômica chinesa. “Nós não temos uma frente unida contra a espionagem industrial da China”, disse ele, segundo a ‘Intellectual Property Watch’, um serviço de notícias sem fins lucrativos sobre políticas de propriedade intelectual.

Pouco antes da audiência, em 10 de dezembro, Rogers abordou a ameaça de espionagem estrangeira falando à Fox News. Numa discussão sobre a NSA, ele disse que outros países têm programas de inteligência contra os Estados Unidos e seus propósitos são mal-intencionados. “O debate é o quão ruim achamos que a NSA realmente é. Os chineses estão em nossas redes, os russos estão em nossas redes, os iranianos estão em nossas redes”, disse Rogers.

Rogers disse acreditar que a administração Obama deveria explicar os programas da NSA para o público e esclarecer as proteções que existem para evitar o uso indevido. “Isso não quer dizer que pessoas que trabalham para a NSA e fizeram um juramento à Constituição são ruins”, disse ele. “Mas eu lhes garanto que a inteligência russa, a inteligência chinesa e a inteligência iraniana são ruins.”

Propostas de reformas

Rogers estava entre várias pessoas convidadas a dar declarações perante a UE. O Comitê de Liberdades Civis, Justiça e Assuntos Internos do Parlamento Europeu considera reformas nas políticas da UE de cooperação com os serviços de inteligência dos EUA, à luz dos programas de espionagem da NSA.

As propostas incluem acabar com vários acordos com os Estados Unidos, incluindo o Acordo de Porto Seguro que protege intermediários da internet, e o Programa para Rastrear Financiamento Terrorista que concede aos Estados Unidos acesso a dados bancários.

Em 19 de dezembro, o comitê recebeu um resumo oral das reformas propostas pela NSA que foram incluídas num relatório para a Casa Branca tornado público no dia anterior, segundo a Intellectual Property Watch.

Entre as 46 recomendações do relatório está a reforma de uma das práticas mais controversas da NSA: a ampla coleta de metadados de todas as chamadas telefônicas americanas. O relatório propõe manter os dados nas mãos de empresas de telecomunicações privadas ou de um consórcio, e conceder acesso governamental a registros específicos somente por meio de ordem judicial.

O comitê convidou o ex-contratado da NSA Edward Snowden para depor. Snowden vazou documentos secretos da NSA para a imprensa e está atualmente na Rússia sob asilo. O repórter Glenn Greenwald do Guardian, que recebeu os documentos de Snowden, já testemunhou.

Contraespionagem

Destacando a necessidade de combater a espionagem em seu depoimento perante a UE, Rogers pode ser um sinal de que os departamentos de inteligência estão indo além de defender as operações de inteligência dos EUA sob o pretexto de prevenir o terrorismo.

Cerca de US$ 52,1 bilhões do “orçamento negro” da NSA, CIA, Escritório Nacional de Reconhecimento, Programa Nacional de Inteligência Geoespacial estavam entre os documentos roubados e vazados por Snowden.

O orçamento mostra que os departamentos têm cinco missões principais. Entre elas está combater a espionagem estrangeira, que tem um orçamento de US$ 3,8 bilhões. Outros US$ 4,3 bilhões são para defesa contra operações de ataque cibernético e prevenção da proliferação de armas de destruição em massa, segundo dados do Washington Post.

Historicamente, a espionagem é normalmente usada apenas em tempos de guerra e os serviços competentes são desmontados após o conflito. Isso mudou, no entanto, com a ascensão do comunismo e seu uso intenso de espiões para infiltrar, roubar e subverter tecnologias-chave.

O diretor aposentado do Serviço Nacional Clandestino da CIA e chefe de contraespionagem da CIA, Michael J. Sulick, detalha o histórico de operações de inteligência dos EUA em seu livro recente “American Spies”.

Sulick, bem como muitos outros ex-agentes de inteligência, alegam que a espionagem estrangeira contra os Estados Unidos, especialmente da China e da Rússia, continua sendo um grande e grave problema.

“Em 2007, o então executivo nacional de contrainteligência, Joel Brenner, afirmou que ‘agora há 140 serviços de inteligência estrangeiros que tentam penetrar nos EUA ou em organizações dos EUA no exterior, e para muitos deles nós somos seu alvo número um’”, afirma Sulick em seu livro.

O ex-agente da CIA Henry Crumpton faz uma afirmação semelhante em seu livro “The Art of Intelligence”, dizendo que “a Rússia e a China provavelmente tem mais agentes de inteligência clandestinos nos Estados Unidos agora na segunda década do século 21 do que no auge da Guerra Fria”.