Ucrânia: separatistas russos declaram vitória no referendo

12/05/2014 13:31 Atualizado: 12/05/2014 13:41

Separatistas pró-Rússia afirmaram nesta segunda-feira (12) ter conseguido uma vitória esmagadora com 89% dos votos no polêmico referendo realizado ontem sobre a autonomia das regiões do Leste da Ucrânia, Luhansk e Donetsk, segundo a BBC. Autoridades de Kiev desaprovaram a votação, classificando o referendo como “farsa criminosa”, enquanto a União Europeia e os EUA dizem estar preocupados com a chance de haver uma guerra civil. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, havia feito um apelo para que o referendo fosse adiado.

Jornalistas da BBC achavam-se presentes nas votações e afirmaram ter visto inúmeras irregularidades, como colégios eleitorais sem urnas ou falta de cadastro dos eleitores. Uma mulher foi filmada votando duas vezes. Nas zonas rurais aplicaram-se urnas portáteis e, em algumas cidades, as mesas de voto foram instaladas na rua, sem cabines. Os dados dos eleitores eram rascunhados às pressas em formulários genéricos. Em Primorky, na cidade portuária de Mariupol, foram armadas apenas oito mesas para meio milhão de pessoas.

Um correspondente da BBC presente em uma mesa de voto de Primorsky, em Mariupol, interpelou o presidente da assembleia de voto, Sergei Babin, perguntando se pessoas de outras regiões tinham autorização para votar ali. Babin justificou que as listas seriam confrontadas para assegurar que ninguém tenha votado mais de uma vez. O correspondente da BBC perguntou quanto tempo levaria esse processo, e Babin respondeu “um dia”. O que se via eram longas e demoradas filas, mas apesar disso, o ambiente era festivo.

Autodeclarados representantes das regiões de Donetsk e Luhansk garantiram que a participação eleitoral chegou a 70%. Bill Taylor, ex-embaixador dos Estados Unidos na Ucrânia, disse que a conclusão do referendo deste domingo deve ser analisada com cuidado depois do que aconteceu na Crimeia. “Os dados iniciais aos quais tivemos acesso quanto ao referendo na Crimeia demostram que houve uma abstenção de 80%, e que 97% votaram pelo sim. Mas dias depois, de acordo com um site do governo russo, a abstenção não foi de 80%, foi apenas de 30%, e o voto pelo sim não foi de 97%, mas de apenas 50%”, afirmou Taylor à BBC.

Roman Lyagin, chefe da delegação eleitoral da República Popular Donetsk (assim batizada pelos separatistas), declarou aos jornalistas que 89,07% dos votantes são a favor da independência – com 10,19% contra e 0,74% de urnas inválidas, e que 75% dos eleitores foram às urnas, segundo o jornal americano NPR News. Já as investigações feitas pelo Pew Research Centre, nos Estados Unidos, mostraram que a maior parte dos ucranianos, mesmo aqueles que residem no leste do país, desejam continuar em um país unificado, ainda que não aprovem o atual governo.

Um líder dissidente entrevistado por uma agência de notícias russa disse que, tão logo os números forem divulgados, os exércitos ucranianos que operam em Donetsk e Luhansk serão considerados “tropas de invasão”. Em várias cidades, separatistas armados entraram em oposição contra a polícia ucraniana. Uma pessoa teria sido morta por um disparo em Krasnoarmeysk, na região de Donetsk. Combatentes fiéis ao governo de Kiev fecharam à força uma área de votação.

A pergunta feita a três milhões de eleitores no referendo foi: Você aprova a determinação de autogoverno da República Popular de Donetsk e da República Popular de Luhansk? Um segundo turno do referendo está marcado para semana que vem, desta vez sobre se as duas regiões desejam se unir à Rússia. Os separatistas anunciaram que irão sabotar as eleições presidenciais marcadas para o dia 25. No sábado (10), dirigentes da União Europeia, como François Hollande, da França, e Angela Merkel, da Alemanha, prometeram novas sanções contra a Rússia se o país se intrometer nas eleições presidenciais da Ucrânia.