TV estatal chinesa revela um suposto ‘manual de autoimolação’ tibetano

05/06/2013 23:04 Atualizado: 05/06/2013 23:11
Uma imagem do documentário propagandista da China Central de Televisão alegando que há um guia tibetano com instruções para autoimolação; o que foi negado por grupos tibetanos (The Epoch Times)

Um documentário sobre um suposto guia para tibetanos se imolarem apareceu na China Central de Televisão (CCTV), uma mídia estatal porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC), o que foi imediatamente negado como calúnia por um representante do Dalai Lama.

Desde 2009, 117 tibetanos se puseram em chamas, incluindo mulheres e adolescentes. Falando no Conselho de Relações Exteriores, o primeiro-ministro tibetano Lobsang Sangay disse que a Administração Central Tibetana (ACT) no exílio desencoraja uma atitude tão drástica. Como solução para o problema crescente, ele pediu a Pequim que adotasse uma “política moderada” na região e que desse “autonomia genuína conforme garantido na Constituição chinesa”.

A CCTV transmitiu o documentário em 16 de maio, supostamente detalhando pesquisas e entrevistas realizadas nas áreas tibetanas ocupadas pela China, onde algumas das autoimolações acorreram.

O documentário alegava que o manual online oferece provas irrefutáveis de que a “camarilha do Dalai”, os membros do governo tibetano no exílio, estaria incitando as imolações e nomeou o autor como Lhamo Je, descrevendo-o como um “membro do Parlamento” por dois mandatos e que agora teria uma posição importante no “sistema educacional”.

No entanto, a ACT já declarou anteriormente que Lhamo Je vive na França e não é parte do governo tibetano nem membro do gabinete particular do Dalai Lama. Um comunicado de imprensa de 7 de março do ministro das Relações Exteriores Dicki Chhoyang disse: “Tais escritos são irresponsáveis e permitem desnecessariamente que o governo chinês recorra ao jogo de culpa e fuja das responsabilidades que de fato provocam as autoimolações.”

Dawa Tsering, presidente da Fundação Religiosa Tibetana do Dalai Lama em Taiwan, escreveu num artigo no periódico Open Magazine de Hong Kong em 17 de maio que as autoridades chinesas estavam usando o documentário para estigmatizar os autoimoladores. “Desde o início, o governo chinês tem se recusado a reconhecer a legitimidade dos apelos daqueles que se imolam. Em vez disso, eles usam todos os meios caluniosos possíveis na tentativa de encobrir a essência do problema e mudar o foco da questão.”

O documentário da CCTV citou vários supostos casos de autoimolação, incluindo uma tentativa fracassada em março de um aldeão de 26 anos chamado Banmajia na Prefeitura Autônoma Tibetana de Garze, que “tinha revelado o ‘guia’”. O programa afirmou que a polícia local impediu o jovem no último minuto e também encontrou uma nota de suicídio, escrita em conformidade com o manual, que teria sido fotocopiado várias vezes.

Segundo o documentário, o guia de autoimolação consistiria de quatro partes: ideologia; instruções; slogans e “outras atividades não-violentas”. O livro deveria ensinar a necessidade do “sacrifício” ou escolher datas e lugares importantes para a imolação.

Em 20 de maio, a administração tibetana no exílio publicou uma versão revisada de “Por que o Tibete está queimando”, seu Livro Branco sobre as razões por trás das autoimolações, para coincidir com o Dia Internacional de Solidariedade pelo Tibete.

No novo prefácio do livro, o primeiro-ministro Lobsang Sangay escreve: “Essa crise que se aprofunda no Tibete é alimentada pelo total desrespeito da China pelas crenças religiosas, valores culturais e aspirações políticas razoáveis do povo tibetano. A crise nasce da repressão política, da assimilação cultural, da marginalização econômica, da discriminação social e da destruição ambiental do Tibete promovidos pela China.”

“Publicamos esse relatório para iluminar os níveis mais profundos da atual crise no Tibete. É nossa esperança que isso motivará e ajudará os membros da comunidade internacional a exortarem a nova liderança conduzida por Xi Jinping a lançar novas políticas prudentes no que diz respeito ao povo tibetano. Como já dissemos várias vezes, a culpa e a solução da crise no Tibete está nas mãos da liderança chinesa.”

Um manual diferente

O Centro Tibetano para os Direitos Humanos e a Democracia (TCHRD) divulgou a informação em 13 de maio sobre um documento do PCC chamado “Guia do bem-estar psiquiátrico enquanto se mantem a estabilidade”, publicado pela Polícia Militar do Povo (PMP) na província de Sichuan, que estava sendo divulgado entre a polícia e oficiais de nível provincial, distrital e municipal.

O grupo de direitos humanos disse que o manual chinês se refere a problemas psicológicos e morais que surgem durante a “manutenção da estabilidade” – isto é, reprimir protestos violentamente, abrir fogo contra civis desarmados e assim por diante – em áreas tibetanas e que foi elaborado por especialistas em saúde mental em hospitais militares chineses.

O guia de 25 páginas inclui 29 perguntas e respostas sobre os problemas enfrentados por policiais militares no Tibete. Ele menciona “traumas psicológicos comuns” e aconselha como “melhorar ainda mais” o trabalho de manutenção da estabilidade em áreas tibetanas, “particularmente os oficiais da PMP e outras forças armadas que precisam de orientação educacional e ideológica profunda sobre seu trabalho”.

O artigo do TCHRD observa que, embora o manual tenha sido elaborado antes do novo líder chinês Xi Jinping assumir o cargo, não há sinal de qualquer mudança nas políticas linha-dura do regime a respeito do Tibete.

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