Três meses de revolta civil na Ucrânia resultaram numa vitória para o povo do país, com o presidente Viktor Yanukovych sendo expulsos de Kiev em 22 de fevereiro, e agora procurado pela polícia por assassinato em massa.
A série de eventos gerou discussão entusiasmada de internautas chineses que estavam animados com a remota possibilidade do colapso do Partido Comunista Chinês (PCC).
Alguns chineses foram do computador para as ruas, segurando cartazes em público dizendo: “O povo ucraniano está livre agora. Quanto tempo o povo chinês terá que esperar?”
Muitos dos comentários de apoio na China sobre a derrubada do governo na Ucrânia estavam disponíveis apenas temporariamente: censores de internet do Partido Comunista foram rápidos em excluí-los dos principais websites e plataformas de mídia social na China.
‘Proíbam o Partido Comunista’
Os chineses disseram que estavam particularmente inspirados pelas fotografias online do povo ucraniano destruindo as estátuas de Vladimir Lenin, o ex-ditador da União Soviética. Um grande retrato de Mao Tsé-tung ainda paira na Praça da Paz Celestial (Tiananmen), em Pequim, e o legado violento do comunismo na China é regularmente renovado pelo Partido, embora historicamente suprimido.
“A razão por que a Ucrânia teve retrocessos durante o processo de democracia e de construção da Constituição é porque ela não proibiu o comunismo e o Partido Comunista”, disse Ye Gongmo, um empresário chinês.
Como muitos que partilharam suas opiniões sobre a Ucrânia, ele escreveu no Sina Weibo, uma plataforma chinesa semelhante ao Twitter, que tem estado sob grande pressão das autoridades recentemente.
“Ao derrubar as estátuas de Lenin, isso significa que a Ucrânia está limpando a sujeira restante do comunismo, e abrindo os braços para uma Constituição real”, escreveu Ye.
“Se a Ucrânia anuncia que o Partido Comunista é proibido no país, eu anuncio que o Partido Comunista é proibido em todo o mundo”, disse blogueiro Xiaosa Kunlunxia.
De olho no tumulto
A China Central de Televisão (CCTV), uma porta-voz oficial do PCC, deu cobertura intensa sobre os acontecimentos na Ucrânia, mas sua perspectiva era diferente da dos inquietos internautas chineses. A mensagem básica da cobertura da CCTV era simples: protestar contra o governo cria caos.
Isso mudou em 22 de fevereiro, no entanto, quando Yanukovych fugiu da cidade. A cobertura foi abruptamente interrompida. “Os extensos relatórios da CCTV sobre incêndios, protestos violentos e tumulto na Ucrânia fizeram minha vida parecer mais doce do que mel”, disse o advogado chinês Gao Jian. “Mas de repente não havia mais notícias sobre a Ucrânia” depois que Yanukovych fugiu, acrescentou ele.
Após os canais oficiais da mídia chinesa descobrirem que o povo saiu vitorioso, que os militares se revoltaram, e que o presidente fugiu, “a CCTV mudou o foco para o renascimento do militarismo japonês”.
O internauta Xiao Li se queixou de que os meios de comunicação oficiais chineses nunca informaram sobre por que o povo ucraniano se revoltou contra o governo. “Eles não se atrevem a dizer como o povo ucraniano odiava a corrupção do governo.”
Memória do massacre
A supressão violenta dos manifestantes promovida pelo antigo governo ucraniano recordou a muitos na China o próprio massacre do Partido Comunista Chinês ao movimento democrático estudantil na China em 1989, quando tanques e metralhadoras foram usados para matar manifestantes desarmados.
“Os resultados são tão diferentes”, lamentaram alguns internautas. Alguns apontaram que Yanukovych ordenou uma repressão que levou à morte de 87 manifestantes, e agora tem um mandado de prisão contra ele. Os militares chineses, por outro lado, mataram centenas ou milhares, e as atividades em memória das mortes ainda são proibidas e punidas na China.