Seria difícil viver sem petróleo e gás. Mas seria impossível viver sem água. No entanto, em nossa louca corrida para extrair e vender cada gota de gás e petróleo o mais rápido possível, estamos trocando água preciosa por combustíveis fósseis.
Um relatório recente, “Fraturamento hidráulico e estresse hídrico“, mostra a gravidade do problema. Alberta e Colúmbia Britânica estão entre as oito regiões da América do Norte analisadas no estudo da Ceres, um grupo de defesa sem fins lucrativos com sede nos EUA pela liderança da sustentabilidade.
Uma das descobertas mais perturbadoras é que o fraturamento hidráulico, ou ‘fracking’, está usando enormes quantidades de água em áreas que têm recursos restritos. O relatório observa que cerca de metade dos poços de petróleo e gás recentemente fazendo fracking nos EUA “estão em regiões com estresse elevado ou muito elevado de água” e mais de 55% estão em áreas que experimentam secas. No Colorado e na Califórnia, quase todos os poços – 97% e 96%, respectivamente – estão em regiões com estresse elevado ou muito elevado de água, ou seja, mais de 80% das águas superficiais e subterrâneas disponíveis já foram alocadas pelos municípios, indústria e agricultura. Um quarto dos poços de Alberta está em áreas com médio a alto estresse hídrico.
A seca e o método de fracking já fizeram algumas pequenas comunidades no Texas ficarem completamente sem água, e partes da Califórnia rumam para o mesmo destino. Enquanto continuamos a extrair e queimar cada vez maiores quantidades de petróleo, gás e carvão, isso pode provocar mais secas em algumas áreas e inundações em outras. Secas na Califórnia podem ser as piores em 500 anos, segundo B. Lynn Ingram, professor de ciências terrestres e planetárias da Universidade da Califórnia, Berkeley. Isso está provocando falta de água potável para beber, para a agricultura e para salmões e outros peixes que desovam nos rios e riachos. Sem chuva para limpar a atmosfera, a poluição na área de Los Angeles voltou aos níveis perigosos de décadas passadas.
Devido à falta de informação da indústria e inconsistências nos relatórios do volume de água, as análises da Ceres sobre o Oeste do Canadá “representam uma proporção muito pequena de toda a atividade em andamento”. Os pesquisadores determinaram, porém, que as operações de fracking em Alberta começaram a usar mais águas “salobro-salinas” subterrâneas, em vez de água doce. O relatório adverte que essa prática precisa de mais estudo “devido ao potencial da água salobra poder ser usada no futuro como água potável” e o fato de que a retirada de água subterrânea salgada “também pode afetar negativamente os recursos de água doce associados”.
Embora as operações de fracking na Colúmbia Britânica sejam agora principalmente em regiões de baixa tensão de água, a redução da precipitação e acumulação de neve, baixos níveis dos rios e até mesmo condições de seca em algumas áreas levantam preocupações sobre o plano do governo de expandir rapidamente a indústria. O relatório cita a “falta de regulamentação em torno da retirada de água subterrânea” e os impactos cumulativos sobre as terras das primeiras nações como problemas com o fracking atual.
O estudo da Ceres só observa os impactos do fracking sobre as reservas de água doce, e oferece recomendações para reduzir isso, incluindo a reciclagem de água, utilização de água salobra ou águas residuais, fortalecer os regulamentos e encontrar melhores maneiras de descartar os efluentes do fracking. Mas o método de perfuração gera outros problemas ambientais, desde contaminação das águas subterrâneas até desequilíbrios do amplo ecossistema e habitat, ou mesmo pequenos tremores de terra, tudo feito em nome de ganhos em curto prazo.
É importante prestar atenção às conclusões e recomendações deste estudo e outros, mas devido aos problemas com fracking e outras formas de extração, temos de encontrar maneiras de controlar nossa insaciável demanda por combustível fóssil. A queima exagerada e o desperdício podem causar poluição e desequilíbrios e nossos métodos de extração podem exacerbar problemas ambientais. Devemos dar uma boa olhada em como estamos tratando o planeta e tudo o mais nele, inclusive a nós mesmos e as gerações vindouras. É um lembrete de que precisamos olhar uns pelos outros.
No curto prazo, temos de perceber que temos melhores maneiras para criar postos de trabalho e construir a economia do que promover a filosofia de “tudo deve ir” na venda de nossos preciosos recursos. No longo prazo, temos de repensar nossos sistemas econômicos ultrapassados, que foram concebidos em tempos de recursos abundantes e infraestrutura escassa. Precisamos considerar prioridades como o ar que respiramos, a água que bebemos, o solo que fornece alimentos e a biodiversidade que nos mantém vivos e saudáveis.
Escrito com a colaboração de Ian Hanington, editor sênior da Fundação David Suzuki.