Treinamento da polícia na China usado para mudar o poder

19/07/2012 03:00 Atualizado: 19/07/2012 03:00

Policiais participam de uma cerimônia na Secretaria de Segurança Pública de Hunan em 2011. (ChinaFotoPress/Getty Images)A recente formação em massa organizada para os chefes de polícia em todo o país parece ser parte de um esforço maior para retomar importantes funções de segurança do controle de um comitê de segurança do Partido Comunista que tem estado sob as ordens de rivais da atual liderança.

De 26 de junho a 31 de julho, o Ministério de Segurança Pública (MSP) conduzirá a intensa educação ideológica e treinamento, que serão realizados em três fases, para 1.400 chefes de polícia de municípios e cidades que foram nomeados desde 2010. Esta é a última rodada de treinamento nacional para novos chefes de polícia desde 2009 e 2010. O tema do treinamento deste ano é: Melhorar a capacidade dos agentes da linha de frente da lei e preservar a estabilidade e o desenvolvimento local.

Enquanto isso, em 18 de junho, o Study Times, a publicação oficial da Escola do Partido Central, publicou um artigo intitulado, “Quem está gerindo a ordem social?” A escola, que treina os novos membros do Partido Comunista Chinês, é atualmente liderada por Xi Jinping, o atual vice-presidente e o indicado próximo sucessor da liderança do Partido Comunista Chinês (PCC).

O artigo afirmava que o Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), uma entidade extralegal do PCC que supervisiona todas as autoridades policiais no país, já ultrapassou os limites de sua autoridade e tem causado obstáculos ao governo interno.

À luz destes acontecimentos, muitos interpretam o treinamento em Pequim como mais um passo na tentativa da liderança de substituir o CAPL e ajudar o MSP a recuperar o poder.

O CAPL é dirigido pelo chefe da segurança pública Zhou Yongkang, que teria conspirado com o ex-chefe do PCC na cidade de Chongqing, Bo Xilai, para dar um golpe contra Xi Jinping. Anteriormente, o Financial Times relatou que o poder de Zhou foi transferido para o ministro de Segurança Pública, Meng Jianzhu, apesar de Zhou ainda continuar sendo um membro do Comitê Permanente do Politburo e chefe do CAPL.

Segundo Peter Mattis, editor do China Brief da Fundação Jamestown, escrevendo no The Diplomat, o sucessor de Zhou provavelmente verá seu poder rebaixado no 18º Congresso Nacional.

Outros na China também especularam que o CAPL não manterá o vasto poder que adquiriu. Wang Yukai, professor da Escola Nacional de Administração da China, que é um campo de treinamento para oficiais comunistas, disse a mídia estatal China News de Hong Kong que os acontecimentos recentes têm desafiado a política de “manutenção da estabilidade” do regime, com protestos em massa em Wukan, na província de Guangdong, o escândalo de Bo Xilai e o incidente de Chen Guangcheng. Estes acontecimentos levaram o regime comunista a reavaliar sua abordagem de “manutenção da estabilidade”. Wang disse que “não exclui [a possibilidade de que] formas organizacionais anteriores sofrerão ajustes” no 18º Congresso Nacional.

Xiang Xianjun, correspondente-chefe do Diário do Sul, o jornal oficial do Partido Comunista da província de Guangdong, escreveu recentemente em sua conta de microblogue no Sina Weibo que a recente série de protestos em massa na China indica que a política de “manutenção da estabilidade” só levará a um “beco sem saída”. Ele observou que o maior desafio da nova liderança será como rever o sistema legal para que o governo e as pessoas ajam de acordo com lei por sua própria vontade.