O transporte público precisa ter novas fontes de financiamento para se tornar mais eficiente e menos caro. A conclusão é de especialistas do setor, que participaram, na sede da Associação Comercial do Rio, no centro da cidade, do 10º Seminário Nacional Metroferroviário, organizado pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), na Associação Comercial do Rio de Janeiro. “Tem que ter fontes de financiamento. Hoje só temos uma que é o usuário. É fundamental que a tarifa de transporte público seja baixa, porque senão se incentiva o transporte privado”, analisou o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho.
Para o técnico de Planejamento e Pesquisa – da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea – a política tarifária é a única forma de diversificar as fontes de financiamento para reduzir os valores das passagens e tornar o transporte público mais atrativo. Ele apresentou, como alternativa para o financiamento do setor, o investimento de empresas do setor imobiliário, associado ao sistema de transporte, com instalações de estações de ônibus e do metrô no entorno dos empreendimentos, a exemplo do que ocorre em Tóquio, no Japão, e em cidades da Europa.
“Eu acredito que dá para usar no Brasil também. A gente já tem instrumentos urbanísticos para fazer isso, mas não há essa cultura. O que precisa é começar com projetos pilotos para criar essas culturas. Pelo menos para criar, no entorno de uma estação de metrô, um adensamento urbano maior, como também nos corredores de transporte de massa para viabilizar financeiramente os investimentos”, explicou à Agência Brasil.
Para Carlos Henrique, o transporte público atualmente está deixando de ser competitivo, e o grau de importância do segmento no orçamento familiar dentro do cálculo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vem caindo. Ele disse que o movimento é decorrente do aumento de rendimentos do brasileiro de renda mais baixa e da política de estímulos ao setor automobilístico, dada pelo governo federal, além do preço da gasolina considerado baixo.
“É uma conjuntura de fatores que leva a isso. As famílias, com o aumento da renda, migram para o transporte privado. Do ponto de vista pessoal é bom, porque as pessoas estão tendo acesso a um bem durável, que antes não tinham, mas do ponto de vista de funcionamento da cidade, da vida urbana, é complicado, porque as cidades não comportam esse modelo de mobilidade estruturado em cima do transporte individual”, esclareceu.
O diretor de Planejamento da Associação Nacional de Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilho), Conrado Grava de Souza, que também participou do painel Política Tarifária e Pleitos do Setor, defendeu que uma das formas de reduzir as tarifas pode ser a desoneração do custo da energia elétrica para o setor metroferroviário. Segundo ele, há metrô no Brasil que o custo da energia elétrica representa 25 % no cálculo da operação. “É muito pesado”, acrescentou.
Durante os debates, o moderador e membro do Conselho Diretor da ANTP, Cláudio de Senna Frederico, disse que “uma das coisas que a rua clama hoje [as manifestações populares nas ruas de várias cidades do país] é impossível de ser entregue. A tarifa zero sempre será um fantasma caminhando pelo castelo. Gostaria que alguém exemplificasse para mim um serviço público gratuito, no Brasil, de qualidade. A qualidade está hoje na cesta básica do consumidor brasileiro de qualquer renda”, comentou.
Conrado Grava concordou que não há condições financeiras para a adoção da tarifa zero no transporte público brasileiro. Ele explicou que as experiências internacionais mostraram que nenhuma cidade conseguiu implantar o serviço gratuito. “Como política pública, bancada pelo governo, não há no mundo experiência hoje de sucesso em uma cidade grande”, destacou. Ele disse que onde a política foi tentada, houve aumento de custo de manutenção, que inviabilizou a medida.
Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal EBC