Este transplante de órgãos na China é uma real história de horror

31/10/2014 16:26 Atualizado: 31/10/2014 16:26

Um paciente de Taiwan recebeu um fígado e um rim compatíveis em apenas um mês num hospital no norte da China, segundo uma entrevista exclusiva em 30 de outubro com a emissora nova-iorquina NTDTV.

O tempo de espera extremamente curto para transplantes de órgãos tornou a China o país mais popular para o turismo de transplante, cujos pacientes de outros países viajam à China para se submeterem a cirurgias de transplante de órgãos. O tempo médio de espera para um paciente nos Estados Unidos receber um rim compatível é de quatro a cinco anos, informou o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA em março.

Um paciente taiwanês com cirrose foi à China com um visto de turista e chegou ao 1º Centro Hospitalar de Tianjin, na cidade de Tianjin, em setembro de 2012.

A decisão de fazer dois transplantes de órgãos foi de fato recomendada pelo cirurgião, segundo um membro da família do paciente, que não quis revelar o nome. “Nós planejamos fazer apenas um transplante de fígado originalmente. [Mas] o cirurgião sugeriu que transplantássemos tanto o fígado como o rim de uma só vez, em vez de transplantar um rim no futuro”, disse o familiar.

Essa sugestão, semelhante a um marketing para fazer mais transplantes, é “ridícula”, e ter um fígado e um rim compatíveis ao mesmo tempo é impossível em Taiwan, diz a reportagem da NTD. No entanto, encontrar fontes de órgãos correspondentes não foi um problema neste caso na China, pois no prazo de um mês o paciente foi informado pelo hospital que ambos os órgãos compatíveis foram encontrados.

O paciente e a família receberam pouca informação sobre as fontes dos órgãos, indicou o familiar. “Eu nem sabia quais eram as condições de compatibilidade”, disse ele. O familiar indicou que uma área foi especificamente criada no 10º andar do hospital para pacientes internacionais que passassem por cirurgia de transplante de órgãos, e que a segurança na área era especialmente rigorosa.

Toda a viagem de transplante de órgãos durou três meses na China continental e custou ao paciente e sua família cerca de US$ 500 mil ao todo. No entanto, o paciente sofreu infecção e acidente vascular cerebral, e permaneceu internado, disse a família.

O tempo de espera de um mês não é sequer considerado rápido no hospital, outro paciente recebeu um transplante de órgão no prazo de uma semana, disse o familiar.

Períodos curtos de espera similares para transplantes de órgãos também foram relatados pela mídia estatal chinesa. A paciente Xue Yanlin, que sofria de uremia, recebeu dois transplantes renais em 48 horas no Hospital Haidian de Pequim em dezembro de 2004, segundo a mídia estatal Beijing Times.

Xue foi hospitalizada no dia 19 de dezembro de 2004 e, apenas nove dias depois, ela foi informada pelo hospital que um rim compatível foi encontrado. Ela foi operada pelo dr. Han Xiuwu na noite de 28 de dezembro.

No dia da cirurgia, Xue disse repetidamente: “Como pode ser tão rápido? Eu ainda não estou preparada”, contou o marido de Xue à revista South, que é patrocinada pelo Comitê Provincial de Guangdong do Partido Comunista Chinês.

O primeiro transplante falhou devido à paciente rejeitar o órgão. Xue foi informada sobre ter outro transplante de rim em 30 de dezembro, porque foi encontrada uma nova fonte, mas o novo transplante também falhou. Xue faleceu em 30 de janeiro de 2005.

Depois do inicio da perseguição à disciplina espiritual do Falun Gong em 1999, o número de transplantes na China aumentou rapidamente. A China realiza hoje o segundo maior número de transplantes de órgãos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Chen Guihua, o presidente do 3º Hospital Afiliado da Universidade Sun Yat-Sen, também especialista em transplante de fígado, realizou 246 transplantes de fígado no ano de 2005, o que é um terço do número de transplantes realizados na China nos 12 anos anteriores, segundo a revista South.

A China nunca explicou as fontes de órgãos que possibilitam esse boom de transplantes. Em novembro de 2012, Huang Jiefu, o vice-ministro chinês da Saúde, disse à imprensa chinesa que o transplante de órgãos na China há muito tempo depende de prisioneiros executados. A disponibilização de órgãos na China é caótica e o comércio ilegal de órgãos e o turismo de transplantes são enormes, disse Huang.

Várias investigações internacionais e relatórios nos últimos anos têm apontado que não há prisioneiros no corredor da morte suficientes na China para fornecer os órgãos necessários. O gigante déficit é complementado pela extração forçada de órgãos de prisioneiros de consciência na China, que são simplesmente estripados e mortos para abastecer o lucrativo mercado chinês de transplante, afirmam os relatórios.

Uma pesquisa inovadora feita pelo ex-secretário de Estado canadense David Kilgour e pelo advogado internacional de direitos humanos David Matas está presente no relatório e mais tarde livro “Colheita Sangrenta“. Kilgour e Matas concluíram que, entre 2000-2005, a fonte mais provável de órgãos das 41.500 operações de transplante foram os praticantes do Falun Gong.

Após sete anos de pesquisa, Ethan Gutmann, um repórter investigativo veterano e especialista em China, publicou o livro “The Slaughter: Mass Killings, Organ Harvesting, and China’s Secret Solution to Its Dissident Problem” (tradução livre: “A Chacina: Assassinatos em massa, extração de órgãos e a solução secreta da China para seu problema de dissidência”). O livro apresenta entrevistas com praticantes do Falun Gong que sobreviveram aos campos de trabalho forçado do regime comunista chinês e várias outras evidências para compor uma imagem mais completa da extração forçada de órgãos na China.