Milhares de trabalhadores diaristas e terceirizados foram convocados para limpar o lixo nuclear e fechar a usina nuclear Fukushima Daiichi no ano passado atingida pelo terremoto. Muitos desses trabalhadores foram celebrados como heróis nacionais. No entanto, muito ainda é desconhecido sobre a saúde e a situação de trabalho de tais trabalhadores.
Os Fukushima 50, como foram chamados, estão mais perto de Fukushima 18.000, segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos, que diz que muitos desses trabalhadores – geralmente trabalhadores temporários que perderam seus empregos devido ao terremoto e ao tsunami de 11 de março – fizeram o trabalho por causa do dinheiro e não para servir seu país.
“Se [os trabalhadores diaristas] recusassem, onde eles arranjariam outro emprego? […] Eu não conheço ninguém que esteja fazendo isso [o trabalho de limpeza] pelo Japão. A maioria deles precisa do dinheiro”, disse um trabalhador citado pelo Boletim.
De acordo com uma pesquisa governamental da prefeitura de Fukushima realizada em outubro, entre as pessoas que estão vivendo em abrigos temporários por causa do desastre, quase 70% das que estavam empregadas antes de 11 de março não foram contratadas desde então, informou o Diário Yomiuri.
Esses trabalhadores foram frequentemente expostos a grande quantidade de radiação e, em alguns casos, as autoridades japonesas realizavam ajustes para contornar as normas nucleares internacionais e tirar o máximo proveito desses trabalhadores, diz o artigo.
Trabalhadores temporários não-qualificados, vestidos com trajes corporais e máscaras de proteção, eram pagos cerca de 130 dólares por dia sem contrato de trabalho assinado. Então, muitas vezes, quando seu limite de exposição à radiação era atingido, eles seriam substituídos por outra pessoa, geralmente por alguém que ainda não havia sido exposto. Alguns trabalhadores prolongavam o trabalho não carregando consigo os dosímetros de radiação, assim pondo em risco suas saúdes em longo prazo.
Aqueles que foram demitidos estão desempregados ou foram obrigados a trabalhar em “bairros de má reputação” nos arredores japoneses, acrescenta o Boletim.
Um artigo da agência de notícias Kyodo revelou na segunda-feira que o governo não tem calculado a quantidade de radiação que os trabalhadores têm sido expostos quando não estão trabalhando.
Isto significa que a radiação absorvida pelos trabalhadores quando estão saindo perto da usina atingida não foi calculada. Além disso, quando os trabalhadores descontaminam áreas ao redor da usina, os níveis de radiação também não são calculados pelo Ministério da Saúde, o que têm gerado preocupações entre as autoridades de saúde e os próprios trabalhadores.
“Não importa onde se é exposto à radiação, para o indivíduo é a mesma coisa em qualquer lugar”, disse Katsuyasu, o chefe do secretariado do Centro de Saúde e Segurança Ocupacional de Tóquio.
O Boletim nota que o Japão começou a usar trabalhadores terceirizados e temporários para manter reatores nucleares na década de 1970. A França, desde então, adotou o método japonês.
“Por sua vez, estes subcontratados contratam trabalhadores de curto prazo, que são empregados até atingirem o limite de exposição à radiação e depois são dispensados”, afirma o relatório. Estes funcionários temporários representam 90% da mão-de-obra das usinas nucleares japonesas.
“As estimativas sugerem que um trabalhador subcontratado absorve uma dose total anual de radiação duas a três vezes maior do que a média absorvida por um trabalhador regular da instalação”, diz o relatório.
Estes trabalhadores, também conhecidos como “nômades nucleares”, muitas vezes se deslocam de um local de trabalho para outro, vivendo em trailers, disse o boletim. Isto também significa que seus problemas de saúde e exposição cumulativa não são devidamente registrados e “assim, muitos problemas graves de saúde nunca são qualificados como doenças profissionais”, acrescenta o documento.
O relatório aponta que em todo o mundo as indústrias nucleares não são transparentes e não apenas usinas de energia, mas também instalações de mineração.
“Além disso, a banalização dos riscos torna certos empregos, lugares ou pessoas insuficientemente ‘nucleares’ para chamarem a atenção e serem considerados, mitigados, compensados ou cuidados”, conclui o relatório.