‘Tomem uma posição’, pedem Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos

26/07/2012 07:00 Atualizado: 26/07/2012 07:00

Palestrantes (esquerda-direita): Arne Schwarz, Ethan Gutmann, Man-Yan Ng, David Matas e Harold King na conferência de 18 de julho. ‘Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos’, um grupo de defesa médica, realizou uma conferência intitulada ‘Medicina de Transplantes numa Encruzilhada’, em Berlim. (Jason Wang/The Epoch Times)BERLIM – “Precisamos tomar uma posição antes que nossos próprios princípios éticos se desintegrem”, disse o médico Dr. Harold King, destacando um dilema ético enfrentado pela profissão médica.

Um grupo de defesa médico realizou uma conferência em Berlim em 18 de julho, chamando a atenção para o abuso do transplante de órgãos por parte das autoridades chinesas. Sua conferência foi programada para coincidir com a própria conferência anual da Sociedade de Transplantes, que atrai milhares de cirurgiões a cada ano e é realizada nas proximidades.

A organização sem fins lucrativos ‘Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos’ (DAFOH), da qual o Dr. King é membro, acolheu a conferência. Especialistas discutiram práticas ilegais e antiéticas de aquisição de órgãos ocorrendo principalmente na China. Os DAFOH, com sede em Washington DC, têm o objetivo de impedir a prática da colheita ilegal de órgãos na China e outros países.

Harold King, um médico francês e membro dos DAFOH, falou na conferência de Berlim, em 18 de julho. (Jason Wang/The Epoch Times)Arne Schwarz, um pesquisador independente baseado na Suíça e especialista em práticas de transplantes ilegais, disse que o transplante de órgãos é tratado como um segredo de Estado na China, o que significa que os investigadores têm de recolher sua própria evidência sobre as práticas.

As autoridades chinesas já admitiram em 2005 que 90-95% dos órgãos provêm de prisioneiros executados, uma prática altamente controversa. Embora os números exatos não sejam completamente conhecidos, a China executa não só o maior número de pessoas no mundo, mas também realiza mais número de transplantes de órgãos do que qualquer país.

Para Schwarz, a “credibilidade ética da comunidade internacional de transplante está em jogo se não for feito um esforço visível e coletivo para parar isso.”

O francês Dr. King chamou a colheita ilegal de órgão uma “terrível contradição dos fundamentos da medicina […] que é para salvar vidas e melhorar o bem-estar de todos.”

King assinalou que a China é o único país no mundo onde quase todo o tipo de órgão para cada tipo de sangue pode ser encontrado dentro de duas semanas; eles ainda garantem uma rápida substituição se necessário.

Ele está convencido de que, desde 2001, não apenas criminosos condenados à morte são usados, mas que a maioria dos órgãos vem de prisioneiros da consciência, que não são julgados por um tribunal e não são condenados. A grande maioria é de praticantes do Falun Gong arbitrariamente presos. Muitos são torturados até a morte. Eles são considerados saudáveis e estão à disposição do Estado, presos as centenas de milhares em campos de trabalho.

“A versão oficial simplesmente não pode se sustentar”, disse King, uma vez que o número de transplantes anuais excede em muito o número de execuções. “Estas profundas consequências afetam a todos nós”, disse King.

David Matas, coautor de um relatório de pesquisa sobre a colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong na China, falou na conferência. (Jason Wang/The Epoch Times)David Matas, um advogado de direitos humanos do Canadá, foi um dos primeiros a demonstrar evidência subjacente às afirmações da colheita de órgãos de prisioneiros da consciência, ele também falou durante o painel.

Em 2006, junto com o ex-secretário de Estado canadense David Kilgour, Matas produziu uma reportagem investigativa sobre o tema. O relatório se tornou mais tarde um livro intitulado ‘Colheita Sangrenta’.

Recentemente, Matas coeditou um novo livro chamado ‘Órgãos do Estado: O abuso do transplante na China’, que é uma colaboração de 12 autores que apresentam suas mais recentes descobertas.

Ele acredita que a prática da colheita ilegal de órgãos de prisioneiros da consciência do Falun Gong tem origem no “cruzamento do ódio e da ganância”.

Ele sugere não indicar nenhum paciente no exterior e não treinar cirurgiões chineses em hospitais ocidentais. Além disso, os médicos chineses, que não podem garantir se estão ou não operando prisioneiros devem ser rejeitados por seus pares; suas pesquisas também devem ser mantidas fora de conferências internacionais, argumentou Matas.

Mudar a profissão médica é possível, como demonstrado pelo Dr. Jacob Lavee. Lavee é um cirurgião de transplante de coração de Israel e membro do Conselho Consultivo dos DAFOH. Ele não fazia parte do painel, mas falou posteriormente.

Em grande parte devido a seus esforços de informar os colegas sobre as práticas inadequadas de terceirização de órgãos em curso na China, o parlamento israelense aprovou uma lei que impede as companhias de seguros israelenses de reembolsarem qualquer tipo de transplante no exterior.

Ethan Gutmann, membro adjunto da ‘Fundação para a Defesa das Democracias’, com sede em Washington DC, também falou no painel. Gutmann é um especialista em questões de direitos humanos na China e autor do livro premiado “Perdendo a Nova China”.

Gutmann já realizou mais de 30 entrevistas com testemunhas que estiveram direta ou indiretamente envolvidas na colheita ilegal de órgãos na China. Ele descreveu esta prática como “um crime contra toda a humanidade”.

Um respeitado cirurgião de Taiwan, por exemplo, disse a Gutmann “com grande angústia” que seus pacientes estavam recebendo órgãos de praticantes do Falun Gong no continente.

Embora existam sinais de que a colheita atingiu seu auge em 2006, a prática ainda não viu um final claro. Ele calcula que pelo menos 65 mil praticantes do Falun Gong tenham sido morto por seus órgãos até 2008.

Gutmann foi o primeiro a fornecer evidências de que além de praticantes do Falun Gong, tibetanos, uigures e alguns grupos cristãos foram vítimas da execução organizada pelo Estado por seus órgãos.

Ele observou que em novembro do ano passado as autoridades chinesas anunciaram que terminariam a colheita de órgãos de prisioneiros executados em três a quatro anos. Mas eles não disseram nada sobre prisioneiros políticos.

Gutmann interpreta esse fato como uma tentativa das autoridades chinesas de “enterrar a evidência restante […] na história.”

A mudança do regime chinês é realizada pelo medo de que o “crime histórico do Partido Comunista Chinês seja desnudado diante do mundo […] e possa contaminar a transição da liderança.”

Para Gutmann, “apenas as famílias das vítimas têm o direito de absolver a China disso.”