Perder o contato com o mundo e com os entes queridos é uma assustadora perspectiva para mais de cinco milhões de americanos com o mal de Alzheimer, a causa mais comum de demência.
Não há cura conhecida para a Alzheimer, a qual é a sexta maior causa de morte nos EUA. No entanto, há uma serie de coisas simples que as pessoas podem fazer para melhorar a qualidade de vida daqueles que sofrem, e aliviar o estresse do cuidador.
A psicóloga clínica Dra. Deborah Forrest vem realizando pesquisas sobre o envelhecimento e demência por 20 anos. Seu livro mais recente, “Toque da alma: Conectando-se ao mundo interno da demência”, explora maneiras para que as famílias se reconectem com seus confusos entes queridos, e para combater o estresse de cuidar deles.
Forrest diz que as conexões de coração para coração entre os cuidadores e os pacientes é importante. “Entender que eles ainda podem ter uma conexão com a pessoa com demência pode muitas vezes ajudá-lo a lidar com o declínio progressivo no corpo da pessoa com Alzheimer”, escreveu ela em um email.
“Saber que eles podem ‘falar com o coração’ da pessoa parece ajudá-los a sentir-se conectado com a pessoa com demência”, escreveu Forrest.
A demência geralmente se manifesta como perda de memoria, julgamento e pensamento abstrato, e pode trazer mudanças na personalidade. A maioria das pessoas com demência são idosas, mas a deficiência não é uma parte inevitável do envelhecimento, pois existem doenças cerebrais na raiz da demência.
O mal de Alzheimer é a causa mais comum, seguido de demência vascular ou acidentes vasculares cerebrais, doença de Huntington e o mal de Parkinson.
Maneiras de se conectar
Relembrando de memórias positivas, ouvir música, passar tempo com crianças e animais e pintar pode ajudar as pessoas com demência. Lembrar de memórias positivas da pessoa afetada pode proporcionar conforto e contato significativos.
A Dra. Forrest recomenda conversar com as pessoas que possuem demência sobre os tempos antigos de suas vidas, permitindo-lhes recordar memórias que toquem suas emoções. “Toque nas paixões dessa pessoa”, disse ela.
Ele encontrou pela primeira vez o poder da musica sobre os pacientes com demência enquanto trabalhava como enfermeira em um hospital há 20 anos.
Forrest lembrou que muitos dos pacientes eram incapazes de falar ou responder perguntas verbais, e estavam “fora de si”. Um dia ela viu uma enfermeira reproduzir um vídeo de um grupo de igreja cantando “Amazing Grace”. Escutar a canção causou que homens e mulheres profundamente dementes começassem a bater os pés no ritmo, cantar juntos ou balançar a cabeça, enquanto outros apenas sorriram.
“Todos eles tiveram algum grau de reconhecimento de uma época passada de suas vidas. Todos eles mostraram alguma forma de reconhecimento desta canção. Quando a música acabou e a fita foi removida, eles voltaram para suas vidas de solidão e silêncio”, disse Forrest.
Um vídeo popular no Youtube capturou outro caso de profundo efeito da música. Henry é um homem idoso com Alzheimer, que não falava com ninguém na casa de repouso em que vivia. Um membro da equipe de enfermagem colocou headphones conectados a um mp3 player nos ouvidos de Henry e tocou uma peça de jazz da década de 1920, que Henry reconhecia. “De repente, os olhos de Henry se arregalaram, e seu rosto se iluminou. Ele começou a se mover no ritmo da música”, disse Forrest.
Vários estudos realizados pelo Instituto de Música e Função Neurológica sobre os efeitos da música em pessoas com demência, descobriram que músicas conhecidas reduzem a depressão e os níveis de estresse, melhoram o humor, e aumentam a conversação, o funcionamento cognitivo e as atividades diárias de forma significativa.
Em uma entrevista, Forrest explicou que a razão pela qual a musica é tão poderosa para as pessoas com demência é porque as memórias são armazenadas em diferentes partes do cérebro, bem como em diferentes partes do corpo, as quais ela chama de “memória do corpo”.
Se as pessoas cresceram com animais, ou passaram tempo com seus filhos ou netos antes da demência progredir, eles podem reter a memória de fazer essas conexões. Passar tempo com crianças e animais pode também despertar memórias positivas.
“Crianças e animais não têm expectativas de que uma pessoa com demência fale, possua uma certa posição ou atitude, eles são muito mais receptivos. (…) Os animais possuem um sexto sentido. Eles têm uma maneira de conhecer, e através disso podem se conectar a pessoas com demência”, disse ela.
Arte terapia com pacientes de Alzheimer está provando ser uma ferramenta popular muito útil para deixá-los expressar seus sentimentos sem ter que usar palavras.
Antes de entrar para Associação de Grupos de Arte de Alzheimer, Forrest disse que muitos pacientes com demência não perceberam que tinham talento para arte. Ela também ficou impressionada com a obra de arte detalhada e o colorido vibrante que eles produziram.
Uma mulher que tinha mal de Alzheimer em estado avançado, tinha parado de falar completamente. Ela tinha sido uma amante de poesia ao longo de sua vida, então a cuidadora dela, uma freira, decidiu ler poesia para ela. Após ler apenas algumas linhas de um poema muito famoso, a freira ficou chocada ao ouvi-la recitando cada palavra do poema junto dela.
Causa de estresse?
Embora muitas causas de Alzheimer sejam desconhecidas, um recente estudo Sueco encontrou uma associação significativa entre eventos estressantes e o desenvolvimento da doença.
Durante um período de 38 anos, o estudo examinou diferentes tipos de estresse em 800 mulheres suecas de meia-idade, por exemplo, se divorciar, sofrer de uma séria doença ou ver a batalha de um parente contra alguma doença mental ou alcoolismo. Os sintomas de estresse examinados incluíam medo, problemas de dormir e irritabilidade.
Uma em cada oito mulheres do estudo desenvolveu Alzheimer, e o estudo concluiu que o estresse pode ser um fator causal. De acordo com o relatório do estudo: “O estresse psicológicos pode ter severas consequências fisiológicas e psicológicas em longo prazo”.
Uma vez que muitos enfermeiros que cuidam de pessoas com Alzheimer desenvolveram eles mesmos a doença, o estudo Sueco ressalta a necessidade urgente de melhores estratégias para lidar com situações altamente estressantes, disse Forrest.
Estudos sobre a gestão do estresse como forma de prevenção de demência é praticamente inexplorado.
Forrest recomenda que os enfermeiros encontrem maneiras para gerenciar o estresse, tais como a obtenção de ajuda com as tarefas de cuidado, deixar algumas rotinas diárias de lado, dar uma atenção especial ao próprio corpo, moderar “terapia de varejo”, manter um diário de seus pensamentos e, por último, mas não menos importante, comer chocolate!