Tiananmen, “Memórias” de Zhao Ziyang

13/03/2012 00:00 Atualizado: 13/03/2012 00:00

Zhao Ziyang (1919-2005), o líder da reforma na China, Primeiro Ministro e Secretário Geral do Partido Comunista Chinês, durante o 13º Congresso do Partido Comunista no Grande Salão do Povo em Pequim. Seu fracasso em controlar os protestos estudantis na Praça Tiananmen em junho de 1989, que resultaram em repressão militar, levaram a sua remoção em maio de 1989. (John Giannini/AFP/Getty Images)Mais de 20 anos depois do massacre de estudantes na Praça Tiananmen [Praça da Paz Celestial] pelo regime chinês, vêm à tona as memórias do ex-líder do Partido Comunista Chinês (PCCh), por meio de um livro que desmente a versão do governo chinês.

Do fundo da tumba, Zhao Ziyang, o ex-número um do PCCh, mais uma vez sacudiu os dirigentes da China com a publicação de suas memórias post-mortem sobre os acontecimentos da Praça Tiananmen em Pequim.

Zhao Ziyang foi quem, em 1989, se negou a dar a ordem para atirar contra os milhares e milhares de estudantes chineses desarmados acampados na Praça Tiananmen; ele se opôs a reprimir com o uso de violência, tirando vidas, o movimento estudantil de 1989. Em função disto, na época, foi afastado da direção do PCCh e ficou confinado durante 15 anos até sua morte em Pequim em 17 de janeiro de 2005 numa residência vigiada.

A publicação na forma de livro das “Memórias” inéditas de Zhao Ziyang traz importantes revelações sobre os acontecimentos na Praça Tiananmen.

O livro é o fruto de mais de trinta horas de gravações realizadas em segredo; os cassetes foram entregues clandestinamente a alguém de seu círculo íntimo de amizade e retirados discretamente e às escondidas da China. O livro foi publicado, obviamente, fora da China, em 2009, em inglês, sob o título “Prisioneiro do Estado”, pela editora Simon & Schuster.

Um testemunho para a história

De fato, Zhao Ziyang desmascara e desmente a versão oficial chinesa de que havia uma conspiração “contrarrevolucionária” e de que era inevitável a repressão a um “bando de gângsteres”. Em seu relato pode-se ler: “Eu havia dito à época que a maioria das pessoas só nos pedia para corrigir nossas imperfeições e não queria derrotar o sistema político.”

Após ásperos debates e não poucas vacilações, tudo se precipitou em 18 de maio, quando se tomou a decisão de impor a lei marcial. Zhao se negou a votá-la. “Disse a mim mesmo que, acontecesse o que acontecesse, me negaria a ser o secretário geral do Partido que mobilizou as tropas para disparar contra estudantes.”

O que se seguiu será mostrado em um emocionante filme, no qual se vê Zhao Ziyang com os estudantes na Praça Tiananmen, durante a noite de 19 de maio de 1989. Ele exorta os estudantes a voltarem às suas casas e se desculpa ante as câmeras. “Chegamos demasiado tarde”, termina por admitir com lágrimas nos olhos. Na noite de 3 para 4 de junho, Zhao viveu esse drama muito de perto. “Eu estava sentado na entrada de minha casa com minha família, quando ouvi abundantes tiros”, conta ele. “Essa tragédia que chocou o mundo não foi evitada.”

Porém, Zhao não testemunhou unicamente para a história. Em suas memórias, ele quis também passar uma mensagem para a China do futuro, sobre uma transição gradual para uma democracia. “Realmente, o sistema ocidental de democracia parlamentar é o que provou ter a maior vitalidade”, diz ele: “Se não tomarmos esta direção, nos será impossível tratar das consequências da passagem à economia de mercado na China.” Em várias oportunidades, os dirigentes chineses afirmaram que a evolução para o perverso sistema político ocidental não faz parte da agenda do Partido Comunista Chinês.

As “Memórias” de Zhao obviamente são proibidas na China, pois os esforços oficiais do Partido Comunista Chinês são para que as gerações mais jovens não tenham conhecimento da verdade ou se esqueçam de vários acontecimentos vergonhosos da história do Partido Comunista Chinês.