Testemunhas de tiroteio em Xinjiang contam outra história

02/12/2013 13:09 Atualizado: 02/12/2013 13:09

Uma explicação alternativa do incidente recente que deixou vários uigures mortos afirma que a polícia chinesa se armou e entrincheirou numa delegacia de polícia, enquanto abandonaram a polícia auxiliar uigur trancando-os do lado de fora, e então começaram a atirar no grupo de manifestantes das janelas superiores.

O policial civil Ekber Yasin, de plantão durante o ataque à delegacia de polícia de Siriqbuya na prefeitura de Kashgar, Região Autônoma de Xinjiang, disse à Rádio Free Asia (RFA) que o chefe de polícia Liu Cheng distribuiu armas aos policiais chineses na expectativa de um incidente após a detenção de dois uigures, mas não armou a polícia auxiliar uigur nos postos de guarda no perímetro da delegacia.

Depois que os atacantes uigures romperam as portas dianteiras de vidro da delegacia, o chefe de polícia Liu ordenou que um conjunto de portas de metal no interior do edifício fosse bloqueado, por isso, os manifestantes retornaram para o pátio, disseram testemunhas à RFA.

A polícia chinesa recuou para o andar superior e disparou sobre os manifestantes do 2º andar da estação, matando alguns deles, segundo a RFA. Os sobreviventes, em seguida, voltaram-se contra os policiais auxiliares em retaliação, matando dois e ferindo um terceiro, que morreu mais tarde no hospital. Então, a polícia entrincheirada convocou a polícia especial que disparou nos atacantes uigures que restavam.

“Na verdade, os agressores não queriam matar os policiais auxiliares, pois eles foram ignorados quando os manifestantes passaram pelo posto de guarda. Eles só retornaram aos policiais auxiliares depois que foram impossibilitados de entrar no prédio quando as portas foram trancadas”, disse uma testemunha anônima à RFA.

Condenando a polícia por se entrincheirar na estação, o pai de um dos policiais mortos lamentou: “Como eles podem tê-los deixado sozinhos sem armas? Estou inconformado desde que soube que meu filho tentou entrar no edifício quando os atacantes vieram atrás dele, mas não pode entrar porque as portas estavam trancadas.”

“Ao trancar as portas, eles garantiram a própria segurança e deixaram os policiais auxiliares em perigo”, disse ele. “O chefe de polícia Liu Cheng teve como objetivo proteger os policiais chineses han, incluindo ele próprio, lacrando o edifício durante o ataque”, continuou ele.

Num relato diferente, três testemunhas disseram à Associação Uigur Americana (UAA), que alguns jovens uigures foram à delegacia de polícia municipal em 16 de novembro para protestar contra as medidas de segurança severas adotadas em Seriqbuya. Eles estavam frustrados com as investigações indiscriminadas e com os graves espancamentos após um incidente em abril, que deixou 21 mortos, disseram as testemunhas.

“Está claro a partir de nossas entrevistas com pessoas de Seriqbuya que testemunharam todo o incidente que a versão do governo chinês deve ser tratada com profunda desconfiança”, disse Alim Seytoff, presidente da UAA, num comunicado de Washington DC.

“Segundo os relatos fornecidos por testemunhas, a polícia chinesa realizou uma série de execuções extrajudiciais de manifestantes uigures que necessitam de uma investigação mais aprofundada. Nós simplesmente não podemos aceitar a versão do governo chinês deste evento e seguir em frente. A violência do Estado contra os uigures em Xinjiang só está se intensificando. Descobrindo mais informações além dos poucos detalhes fornecidos pela polícia chinesa podemos acabar com esse padrão trágico.”

O porta-voz da polícia Yasin disse à RFA: “É verdade que eles não puderam entrar no prédio, pois havíamos trancado as portas, mas nós os apoiamos atirando nos atacantes a partir das janelas do edifício. Apenas dois policiais auxiliares foram mortos [durante o incidente] e quatro feridos, o resto fugiu ou se escondeu com sucesso.”