Preocupações americanas sobre as ameaças de segurança nas Olimpíadas de Inverno no próximo mês em Sochi, na Rússia, crescem com a falta de cooperação por parte das agências de segurança russas, complicando a capacidade de estabelecer medidas preventivas.
O diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo, Matthew Olsen, disse ao Comitê de Inteligência do Senado americano quarta-feira que, apesar da extensa segurança nas instalações esportivas em Sochi, há um “grande potencial de um ataque terrorista” na área metropolitana de Sochi.
Grupos terroristas islâmicos do norte do Cáucaso têm uma história de atacar alvos fáceis, como ônibus, estações de metrô, e ainda mais notoriamente, escolas e teatros, disse o especialista em terrorismo Max Abrahms, que é professor-assistente de políticas públicas na Northeastern University.
Apenas no mês passado, dois ataques à bomba no centro de trânsito Volgograd, localizado cerca de 400 quilômetros de Sochi, mataram 34 pessoas.
A Rússia está montando uma grande operação de segurança para os Jogos Olímpicos, posicionando mais de 50 mil policiais e soldados em meio às ameaças de insurgentes muçulmanos da região do Cáucaso nas proximidades.
Mas o anfitrião dos Jogos Olímpicos ainda não tem se mostrado cooperativo com as questões de segurança de outras nações, como os Estados Unidos. Só nas últimas semanas as agências de segurança norte-americanas e russas entraram em contato para discutir a ameaça em Sochi, embora a delegação olímpica americana em Sochi, composta por 230 atletas, seja a maior.
Alguns atletas olímpicos tomaram medidas próprias e estão contratando guardas de empresas de segurança privada. Os Estados Unidos também preparam seus próprios planos de contingência. Navios militares norte-americanos estão a postos no Mar Negro para possíveis evacuações.
Não é de estranhar
De acordo com Abrahms, a falta de comunicação das agências de segurança russas não é surpreendente. “Eu não esperaria que qualquer país cooperasse inteiramente no combate ao terrorismo”, disse ele. “A Rússia, em particular, é uma nação muito secreta, e ainda é quase autoritária.”
Ele também destacou que os Estados Unidos e a Rússia são “adversários, mesmo num bom dia”, o que torna a cooperação ainda mais difícil. Há também, mais pertinentemente, alguns ressentimentos por parte dos russos pela crítica americana na sequência dos atentados da Maratona de Boston, quando a Rússia não compartilhou informações sobre a família Tsarnaev em tempo hábil.
No entanto, a culpa não repousaria inteiramente na Rússia, disse Abrahms, pois os Estados Unidos também não têm mostrado muito disposição em compartilhar, por exemplo, seu extenso know-how e tecnologia em dispositivos explosivos improvisados. Isso também é compreensível, pois os Estados Unidos não querem que essas contramedidas caiam em mãos erradas.
Mas será que a falta de cooperação multilateral realmente aumenta o risco de um ataque terrorista bem-sucedido?
“Até certo ponto”, disse Abrahms. “Mas essas preocupações estão na margem. A Rússia está fazendo o melhor trabalho possível, e está realmente reprimindo o terrorismo. O problema tem menos a ver com a cooperação do que com a facilidade inerente de se realizar um ataque terrorista.”
Um alvo proeminente
Os Jogos Olímpicos, com muitos estrangeiros agrupados e enorme atenção da mídia, é um alvo muito atraente para terroristas, disse Abrahms. A atenção internacional também limita o que a Rússia pode fazer, como restringir as liberdades civis muito duramente, por exemplo.
Apenas na República do Daguestão, uma subdivisão da Federação Russa no Norte do Cáucaso que o especialista em Rússia Ariel Cohen chama de “o epicentro de insurgentes salafistas-jihadistas”, cerca de 7 mil pessoas foram mortas em confrontos entre as forças russas e militantes, disse Cohen numa postagem de blogue.
No entanto, a própria natureza da ameaça torna difícil prever ataques e se proteger adequadamente. No final, apesar de a Rússia, os Estados Unidos e Israel estarem provavelmente entre os alvos favoritos, quem realmente se machuca – se houver um ataque – dependerá mais das circunstâncias ou azar, disse Abrahms.
“[Os terroristas] não terão uma variedade infinita de opções”, disse ele. “Seria um ato indiscriminado. Nenhuma delegação estrangeira está inteiramente segura.”